quarta-feira, 18 de março de 2009

Revolução democrática

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


Presidente da Fundação Instituto Gramsci, em Roma, o historiador Giuseppe Vacca começa hoje, pelo Rio, uma série de conferências trazendo uma mensagem de renovação para a esquerda brasileira: "A democracia política é a dimensão moderna da luta para qualquer partido, burguês, operário, pequeno-burguês, socialista, liberal, católico etc", me disse ele, por e-mail, do México. Considerado um intelectual pós-comunista, Vacca defende suas ideias no livro "Por um novo reformismo", da Editora Contraponto, que será lançado nas palestras no Rio e em São Paulo, e terá contatos com líderes políticos do PSDB e do PT. Embora tenha se esquivado de tecer comentários específicos sobre os governos de esquerda na América Latina, fez um comentário genérico:

"O que se mostra evidente para um observador europeu interessado é que há mais de dez anos está em curso, no seu todo, uma revolução democrática com características culturais e populares inéditas, um processo político impensável há 20 anos, que contribui para desenvolver um mundo multipolar e interdependente e para tentar novas soluções para a crise da globalização assimétrica e o término justamente inglório destes 30 anos de ciclo mundial neoconservador".

Para Vacca, socialismo e capitalismo não são antagônicos: o primeiro seria um modo de regulação, e o segundo, um modo de produção. No livro, Vacca faz uma defesa incondicional do estado democrático de direito. A democracia, portanto, é um objetivo político a ser alcançado, e não apenas uma fase para a chegada ao socialismo.

Para ele, a classe operária não é "classe geral" ou "universal", e, portanto, não cabe mais a ideia da "ditadura do proletariado". Todas as classes são particulares, e universais só as regras do estado democrático.

Vacca se coloca contra qualquer forma de ditadura, e diz que não é mais possível pensar-se em usar a máquina estatal para transformar a sociedade de modo autoritário.

Embora minoritária entre os marxistas, a tese da "revolução democrática" de Vacca se insere na tradição renovadora da política italiana.

Na definição da contracapa do livro, Vacca realiza "um notável esforço de crítica e superação do original legado do comunismo italiano, atualizando-o no sentido de um "novo reformismo" inteiramente reconciliado com o pluralismo assegurado no estado democrático de direito".

O livro de Giuseppe Vacca é considerado uma espécie de manifesto dos marxistas democráticos, palavras que dificilmente andam juntas.

Consenso

Depois do primeiro evento partidário do PSDB em Recife, no que foi classificado pelo senador Tasso Jereissati como o início de uma caminhada rumo à unidade do partido para as eleições de 2010, ficou claro que as prévias só acontecerão se até o fim do ano não se chegar a um consenso para a escolha dos candidatos.

O governador Aécio Neves, de Minas Gerais, que colocara a realização das prévias como condicionante da unidade, foi o primeiro a abrir a possibilidade de elas não serem necessárias.

Na verdade, Aécio está conseguindo o que sempre quis, que o partido desse demonstrações claras de que ele é uma liderança que não pode ser ignorada.

Mas ele precisa pelo menos tentar vencer a disputa, e depois, se for o caso, sair antes de ser derrotado.

E, nas andanças pelos estados, pretende se expor publicamente e testar sua aceitação pelo eleitorado nacional.

Quer apenas mostrar-se forte dentro do partido para admitir depois, se seu nome não crescer nas pesquisas, que Serra é a melhor opção.

Mas a verdade é que há um entendimento generalizado de que o governador José Serra é o melhor candidato para a oposição.

A questão é de timing, e parece evidente que o DEM, embora queira forçar a antecipação da escolha com receio de que a candidatura da ministra Dilma Rousseff se fortaleça, não pode determinar nem o ritmo nem a intensidade da oposição do PSDB.

Sem São Paulo e Minas unidos, não dá para vencer a eleição. Aécio também não pode virar o antipaulista, porque daria espaço para o PT crescer no estado.

Setores do PSDB que volta e meia parecem mais ligados ao governador de Minas, como os senadores Tasso Jereissati e Arthur Virgilio, não querem mais "brincar" de escolher um candidato que tenha "potencial de crescimento".

Estão convencidos, pelas pesquisas, de que a melhor opção para os tucanos voltarem ao poder é a candidatura de José Serra. Mas sabem que não podem perder o apoio de boa-vontade de Aécio Neves em Minas.

Enquanto isso, Aécio sonha com o exemplo de Barack Obama, que entrou na corrida presidencial do Partido Democrata nos Estados Unidos como coadjuvante da senadora Hillary Clinton e virou o jogo.

A questão é que, mesmo que as prévias sejam realizadas, não serão nunca como as dos partidos americanos, com debates públicos transmitidos pela televisão.

A dificuldade para definir até mesmo o cadastro dos filiados deverá limitar muito a representatividade das prévias, caso elas sejam necessárias.

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