terça-feira, 7 de abril de 2009

Danças regionais

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


A reunião de ontem da Sudene foi uma amostra perfeita do jogo regional em que se transformam as eleições no Brasil. O governador de Minas, Aécio Neves, pretendia que a reunião com os governadores do Nordeste fosse uma oportunidade para evidenciar seus laços com a região. Lula levou para a festa de Aécio sua candidata, Dilma Rousseff, que redescobriu recentemente as vantagens de ser mineira de nascimento. Foi o bastante para o locutor da solenidade dizer que o próximo presidente da República, tudo indica, sairá de Minas. Dilma já havia sido apresentada à região recentemente pelo presidente Lula, que, num comício em Salgueiro, Pernambuco, lhe ensinou: “Dilma, se você olhar na cara dessa gente, vai perceber que o sertanejo é diferente do povo de outros estados”.

Aécio quer demonstrar aos nordestinos que tem melhores condições de entender seus problemas do que o governador de São Paulo, José Serra, já que Minas tem uma região incluída no Nordeste, enquanto o subtexto da candidatura de Aécio acusa os paulistas de dominarem o país, crescendo às custas das outras regiões.

A estratégia de Aécio corresponde ao que o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, descobriu por experiência própria: Minas é o reflexo do Brasil. Tem sua parte nordestina na região do Vale do Jequitinhonha, e por isso faz parte da Sudene; ao mesmo tempo, é a segunda economia do país (disputando com o Rio), com uma região fortemente industrializada, grande influência paulista na divisa com São Paulo; Juiz de Fora é muito ligada ao Rio de Janeiro; e o estado tem no agronegócio uma parte influente de sua economia.

Se o resultado do primeiro turno na eleição de 2006 no país repetisse o de Minas, aliás, Lula teria vencido no primeiro turno: teve 50,80% (48,6% no país), contra 40,6% (41,6% no país), o que é um indicativo de que o governador Aécio Neves pode decidir a eleição.

Os governadores do Nordeste, hoje, são na maioria esmagadora da base aliada do governo: os petistas Jaques Wagner (BA), Marcelo Déda (SE) e Wellington Dias (PI); os do PSB Eduardo Campos (PE), Wilma Faria (RN) e Cid Gomes (CE); e os peemedebistas do Espírito Santo, Paulo Hartung, e da Paraíba, José Maranhão, além do pedetista Jackson Lago (MA).

Desses, apenas Hartung pode ser considerado um potencial dissidente, com ligações fortes com os líderes do PSDB, partido do qual é oriundo, especialmente os governadores de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra.

O pedetista Jackson Lago, devido às disputas com o grupo do senador José Sarney no Maranhão, pode ser uma dissidência regional da visão nacional do partido, que tende a apoiar a candidatura oficial do governo.

Mas não tem muito espaço entre os tucanos, pois substituiu o governador Cássio Cunha Lima, cassado por abuso de poder econômico.

Aécio Neves tem também uma base bastante forte no PSB, partido que poderia apoiar sua candidatura caso ela prevalecesse no PSDB.

Mas o apoio de Ciro Gomes, em vez de fortalecê-lo no PSDB, enfraquece.

Os problemas regionais entre o PT e o PMDB para a montagem de palanques regionais podem facilitar a composição com os tucanos de uma parte expressiva do PMDB.

O Palácio do Planalto considera que estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco e Mato Grosso do Sul são refratários a uma união com o PT, sendo o caso de São Paulo o mais delicado, e não apenas pela importância de ser o maior colégio eleitoral do país, dominado pelos tucanos e democratas.

A delicadeza da posição de seu presidente nacional, o deputado Michel Temer, é um ponto sensível nas negociações.

Ele foi o último na lista de deputados eleitos pelo PMDB no estado, e depende de um bom entendimento com o presidente regional, Orestes Quércia, para se reeleger.

Por isso, estaria interessado em ser o representante do partido na chapa oficial, como vice. Mas o PMDB do Senado, que sempre foi o fiel da balança no apoio ao governo, não gosta da ideia de que o partido na Câmara, que sempre foi mais identificado com os tucanos, ganhe tal relevância.

O caso do PMDB da Bahia é outro difícil de ser resolvido, pois o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, tem uma relação desgastada com o governador Jaques Wagner e o PT baiano, embora tenha uma relação pessoal boa com o presidente Lula.

Ta m b é m em M i n a s o PMDB tem dificuldades, pois o ministro das Comunicações, Hélio Costa, lidera as pesquisas, mas o PT tem dois fortes candidatos ao governo, o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Mas aí o espaço para acordos é reduzido, pois o governador Aécio quer fazer de seu supersecretário, Antonio Anastasia, o sucessor.

Até no Rio de Janeiro, onde o governador Sérgio Cabral é um dos principais aliados do governo federal, o PT coloca obstáculos, com o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, querendo disputar o governo. O mais provável, porém, é que Lindberg seja obrigado a desistir pela direção nacional.

Também no Pará a governadora petista Ana Julia Carepa não está se entendendo com o peemedebista Jader Barbalho, que quer se candidatar ao Senado.

Todas essas potenciais dissidências já estão sendo exploradas pelo governador de São Paulo, José Serra, que estaria se utilizando de um interlocutor especial dentro do partido, o presidente regional em São Paulo, Orestes Quércia, outro sinal de como o jogo de forças da política brasileira não respeita ideologias nem programas partidários.

Em contrapartida, também o governador Aécio Neves se aproxima do Democratas, partido que até recentemente desdenhava nas composições políticas que poderiam levá-lo à candidatura. Essa “dança das cadeiras” ainda está longe de terminar.

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