quarta-feira, 15 de abril de 2009

Estado de conflagração

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O ministro Luiz Dulci, secretário geral da Presidência da República, único sobrevivente do núcleo de comando do país que está no poder desde o início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contesta informação aqui publicada sobre ter o presidente, finalmente, pacificado o PT de Minas Gerais, assolado por sectarismo, desde sempre, e radical divisão interna, desde as eleições para a escolha do prefeito da capital no ano passado. Nesta disputa, a mais recente, os ministros Dulci e Patrus Ananias, do governo federal, divergiram do então prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que levou o partido a integrar a chapa encabeçada pelo candidato vencedor, Márcio Lacerda, do PSB, aliado nacional e estadual do PT.

Como o governador Aécio Neves (PSDB), embora impedido de formalizar a coligação, apoiava Lacerda, Dulci e Patrus mantiveram a dissidência das decisões em Minas e travaram uma disputa particular com Pimentel, na cidade e na direção do PT. Perderam, Pimentel conduziu a campanha municipal ao lado de Aécio, em favor de Lacerda, e, terminado seu mandato, foi o primeiro a ser chamado pelo presidente Lula a Brasília para integrar o grupo de formulação de estratégias para a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República.

A radicalização volta à tona porque tanto Patrus como Pimentel são potenciais candidatos a ser o candidato do PT ao governo do Estado. A informação corrente na assessoria do presidente Lula é que ele já teria enquadrado Dulci, argumentando que ministro do governo não pode se entregar à campanha fratricida como se entregaram, tanto ele quanto Patrus, durante as eleições municipais. Desta vez, a prejudicada poderá ser a candidata à sua sucessão, Dilma Rousseff.

Luiz Dulci descrê da informação e combate a avaliação. Diz que não foi enquadrado, continua a apoiar Patrus Ananias para o governo do Estado, e sua posição sobre o que o PT deve fazer em Minas não mudou. Admite, porém, que o presidente Lula quer o diálogo, a unidade, mas não disse que a unidade "deve ser com fulano ou beltrano".

Para o secretário-geral da Presidência, é possível chegar a uma "posição unitária", mas há ainda muito a caminhar até lá: se houver prévia no PT, será no ano que vem; antes, tem a eleição para a presidência do partido (está correndo praticamente sozinho, sem concorrente, o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho), e, por fim, "a opinião do presidente Lula conta muito, e até agora não o vi se manifestar". Ao contrário de outras autoridades que também privam da proximidade com Lula.

Dulci informa que na campanha do ano passado visitou 53 cidades de Minas e este ano tem ido também participar de encontros com o PT: "Já me reuni com mais de 200 companheiros, presidentes de diretórios, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, lideranças do partido, e só reforcei minha convicção de que o Patrus é o que mais une os diferentes setores do PT e, sobretudo, o que mais une os partidos da base do presidente Lula em Minas Gerais.

Neste caso da base, assegura Luiz Dulci, Patrus é "o único que pode unir". Os partidos lulistas não seguiriam Fernando Pimentel, segundo o ministro, por causa da experiência que tiveram, tanto o PMDB, como o PRB e o PCdoB, na disputa pela prefeitura, quando acabaram lançando outros candidatos.

Mas como haverá esta união dos aliados em torno do PT se, por exemplo, Hélio Costa, do PMDB, está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para o governo de Minas e o PT não cogita apoiá-lo? O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência ainda não sabe, mas acha que a candidatura do PMDB não é líquida e certa como se imagina, apesar da vantagem. "Não sei se Hélio Costa vai se candidatar. Ele já esteve na frente outras vezes e não se candidatou.

Sobre o PSB, partido da base de Lula que fez o contestado prefeito de Belo Horizonte em 2008, Dulci desdenha.

Acha que, em Minas, o PSB é ligado a Aécio, e "ninguém acha que o PSB está governando a prefeitura de Belo Horizonte; não sei nem se tem algum secretário do PSB; sei que tem pessoas ligadas ao prefeito, ligadas ao ex-prefeito (PT) e ao governador de Estado".

Acredita o ministro da Presidência que Patrus também ainda vai crescer nas pesquisas quando voltar a dedicar-se à campanha no Estado. Como também crê que crescerá o apoio a Antonio Anastasia, vice-governador por enquanto apontado como provável candidato de Aécio à sua sucessão. Este crescimento se dará tirando votos de outros candidatos, mas "não de Patrus", diz Dulci. A seu ver, o quadro em Minas é muito preliminar, "tem muito recall".

Entre as incertezas admite que se Hélio Costa for candidato, o PT terá que fazer uma aliança sem o PMDB. Aceita também que, sendo Patrus o candidato a governador, Fernando Pimentel queira ser candidato a senador. Opção em que concorreria com Aécio a uma das duas vagas para o Senado pois, na previsão do ministro, este é um caminho natural para o governador de Minas.

"Não há nenhum Estado com uma situação tão indefinida quanto Minas", testemunha. E com uma divisão interna, dentro da mesma facção partidária, o antigo campo majoritário, tão radicalizada.

Berlinda

O Ministério da Fazenda está dividido sobre o que fazer com o superávit primário das contas públicas neste ano de crise. O secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, defende a redução da meta de 3,8% para 3,3% do PIB (com a inclusão do PPI, o que na prática significa fazer um superávit de 2,8%). Barbosa sugere também o anúncio imediato da mudança, que precisa ser feita por meio de um instrumento legal. Já o ministro Guido Mantega defende a manutenção da meta já definida na Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano passado. Nesta hipótese, se a realidade mostrar que é impossível cumpri-la, o governo faria a mudança mais adiante. O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, é mais radical. Se depender dele, a meta não muda um milímetro.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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