sábado, 4 de abril de 2009

Fracasso, sucesso e tóxicos

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


LONDRES - Ainda bem que sou o inimigo número 1 de teorias conspiratórias. Não fosse assim, acharia que os números sobre o desemprego nos Estados Unidos em março (8,5%, o mais alto índice em 26 anos) saíram um dia depois da cúpula do G20 apenas para demonstrar que o grande circo de Londres foi um fracasso.

Bobagem, claro. O jogo do desemprego estava jogado antes da cúpula, e só algum maluco poderia esperar que ela salvasse ao menos um emprego, onde fosse. Mas o dado sobre o desemprego serve para lembrar aos incautos que a crise global ainda vai piorar mais antes de começar a melhorar (algum dia vai melhorar, acho). Para o leitor que ficou eventualmente confuso ao verificar que, no mesmo jornal, há quem grite "fracasso" e há quem cante "sucesso", não se preocupe. A situação é suficientemente confusa para que tanto um como outro estejam certos e errados. Não estivesse cansado demais pelo trabalho de tentar entender onde houve fracasso, onde houve sucesso e onde não houve nada, inventaria algo mais criativo do que dizer que é a velha história de copo meio cheio, meio vazio.

Olhemos então o copo vazio: o ponto a ser observado com atenção é o andamento da limpeza dos tais ativos tóxicos que entopem o sistema financeiro e impedem o seu normal funcionamento. É a preliminar para que as más notícias comecem a secar. Como a preliminar ainda não está sendo jogada (e o G20 omitiu-se), permito-me citar Kazuo Kodama, porta-voz do primeiro-ministro japonês, Taro Aso, que lembrou que o Japão levou uns dez anos para livrar-se de problema parecido nos anos 90. "Lidar com a crise bancária de hoje pode levar bastante tempo.

Não estou dizendo que vai levar dez anos, mas há esse risco", afirmou. É esse o aspecto do jogo ao qual se deve prestar atenção. Mas o Brasil não entra nesse torneio.

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