quinta-feira, 9 de abril de 2009

Juros, BB e o BBB de Lula

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Aflição politiqueira parece levar o governo a recorrer a mágicas e milagres ineficazes para estimular a economia

LULA COMEÇA a fuçar a caixinha de mágicas & milagres econômicos. Força a barra no Banco do Brasil. Quer o Bolsa Empresário (cortar imposto de quem não demitir). Renegocia dívidas a granel. Quer repetir em regra a fórmula do IPI dos carros. Parece aflição desorientada e politiqueira.

Subsidiar casas para pobres foi boa ideia -basta implementar. Emprestar a empresas dólares das reservas também, assim como garantir o crédito de bancos menores. Inteligente ainda foi colocar mais dinheiro no BNDES. Se houver bom negócio, haverá financiamento barato. Mas a demanda privada cai. Cai a exportação, o desemprego sobe. As fábricas ficam ociosas. Cai, pois, o investimento. Mais obras públicas e concessões de serviços públicos estimulariam algum investimento. Mas o governo não consegue nem tapar buracos em estradas, como o demonstrou outro dia esta Folha.

Reduzir o IPI de carros foi outra boa ideia, mas pontual e emergencial. Evitou pânico maior, mais demissões, o que teria engrossado desnecessariamente a bola de neve recessiva. Mas, em clima de demanda reduzida e desemprego crescente, reduções de tributos tendem a ser cada vez menos eficazes para estimular o consumo.

O recurso a esquisitices é também evidência de que o governo passou seis anos quentando ao sol, comendo banana e coçando a pereba da perna, como a família do poema de Drummond. O "spread" está alto desde o período jurássico. Qual foi o plano organizado do governo para reduzi-lo, até agora?

O governo quer forçar BB e CEF a emprestar mais e a juro menor. Vai dar certo? Primeiro, falta dinheiro na praça. Segundo, a procura das empresas anda devagar -considere o caso do BNDES. Terceiro, desde outubro de 2008, início da crise, a fatia dos bancos públicos no total de crédito subiu. Até então andava em torno de 34%. Agora está em 37%. É uma mudança forte. Os estatais têm mais gás?

O governo imagina que, se BB e CEF emprestarem mais, a custo menor, tiram mercado dos bancos privados, que seriam obrigados a reagir. Os bancos privados já abriram mão de mercado em troca de rentabilidade e de segurança. De quanto teria de ser o avanço de BB e CEF para a banca privada emprestar mais e a custo menor? Os estatais, como qualquer banco, têm fundos limitados e não podem ficar no vermelho. Mas correriam mais risco de "seleção adversa": de dar mais empréstimo a mais gente sem condição de pagá-lo, risco que os bancos privados tentam evitar.

Isto posto, é provável que os bancos privados exagerem no conservadorismo e no "spread". Os estatais podem substituí-los? BB e CEF tinham, em dezembro, uns 32% das operações de crédito dos bancos comerciais -é peso. Mas os estatais atuam pesadamente em setores largados pelo setor privado, como habitação e agropecuária. Logo, é menor o peso dos estatais em outros setores de crédito caro e escasso. Por fim, os bancos não atuam todos nas mesmas áreas. BB e CEF podem baixar custos em áreas que não afetam os privados, o que não teria efeito nos juros.

O novo BB de Lula tem cara de BBB político. E de desespero.

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