sábado, 11 de abril de 2009

Planalto quer aproximar Dilma dos sem-terra

Eduardo Scolese
Da Sucursal de Brasília
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O governo tenta amenizar a resistência de movimentos sociais à ministra Dilma Rousseff, principal nome petista à sucessão de 2010. A estratégia inclui uma reunião entre a ministra e líderes dos sem-terra, que a vêem como alinhada ao agronegócio

Planalto tenta aproximar Dilma de movimento social

Ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) é escalado como interlocutor

Apontada como potencial candidata do PT à sucessão do presidente Lula, ministra seria vista por sem-terra como aliada do agronegócio

O Palácio do Planalto decidiu se mexer para tentar amenizar a resistência dos movimentos sociais com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), principal nome petista para a sucessão presidencial de 2010.

O ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) foi escalado para organizar uma reunião informal e secreta da ministra com líderes desses movimentos, em especial dos sem-terra. Os primeiros contatos já foram feitos, mas ainda não há data acertada.

Outra determinação palaciana partiu para Rolf Hackbart, presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A estratégia é que ele monte uma agenda "com a cara da ministra" nos assentamentos de reforma agrária pelo país afora.

Um dos principais entraves à ministra está no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), por isso essa agenda nos assentamentos será planejada de forma que ela consiga fugir do discurso de metas, acampamentos, violência no campo e desapropriações e possa ficar mais à vontade para falar sobre projetos de irrigação e inaugurações do programa Luz para Todos.

Agronegócio

A resistência dos movimentos à ministra não é nova. Ela é vista por eles como defensora de um modelo de desenvolvimento próximo ao que pensa o agronegócio, supostamente sem preocupação ambiental e com simpatia à entrada de empresas estrangeiras no país.

Por conta das hidrelétricas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Dilma é mal vista no MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens). Já no MST é rotulada como uma "desconhecida" que se apega em sua história pessoal, mas não busca o diálogo com os movimentos.

No recente artigo "Por que Dilma?", o assessor da CPT (Comissão Pastoral da Terra) Roberto Malvezzi afirma que o PAC tem aspectos positivos, como o saneamento ambiental, mas "daí para frente o PAC é a cara dos militares e de Delfim Netto, numa lógica irremediavelmente predadora". "A visão de mundo de Dilma pertence a esse perfil. Não é a pessoa com a visão de mundo adequada para os atuais desafios brasileiros e mundiais", completa o texto.

A resistência aumentou no final do ano passado, quando, em um evento com movimentos no Planalto, Dilma foi saudada como candidata por alguns dos convidados.

MST e outros movimentos enxergaram as saudações pró-Dilma como algo encomendado pelo governo federal, o que acabou esvaziando o objetivo do encontro: pedidos por mudanças na política econômica.

Base de apoio

Tudo isso, porém, não significa uma inclinação dos movimentos a uma outra candidatura. Indica apenas uma pressão para que a candidata de Lula assuma compromissos setoriais de campanha e que a sua eventual eleição não signifique um distanciamento do Planalto com os movimentos.

A preocupação do Planalto não visa apenas o período de campanha. O foco está numa base de apoio em um eventual governo Dilma. Esses movimentos sociais foram importantes para o presidente Lula no auge da crise do mensalão, em 2005, quando saíram às ruas para defendê-lo da tentativa de impeachment sugerida pela oposição.

De olho em 2010, além da montagem de uma agenda e da organização de um encontro, o Planalto fez chegar ao MST que foi apenas uma "bronca", e não uma sinal de "rompimento", uma recente declaração pública do presidente Lula na qual chamou de "inaceitável" o argumento do movimento para a morte de quatro seguranças de uma fazenda em Pernambuco.

O recado conta ainda com a promessa de manutenção, mesmo com restrições, dos repasses de recursos para novos convênios com sem-terra.

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