segunda-feira, 27 de abril de 2009

PT sem alternativa a Dilma

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti
Brasília
DEU EM O GLOBO

Surpreendidos com a notícia do tratamento contra o câncer linfático da ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República, petistas admitem que poderão ter dificuldades em achar eventual substituto da ministra na corrida presidencial. Apesar de o Palácio do Planalto descartar qualquer especulação sobre substituição, nos bastidores já começam debates sobre nomes que poderiam fazer parte de um plano B do presidente Lula

PT sem alternativas

Primeira avaliação é que haverá dificuldade em encontrar nome viável para 2010

Apesar do esforço, nas últimas horas, para reiterar a candidatura presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governo e a cúpula petista devem iniciar esta semana uma análise mais profunda sobre o cenário político para 2010, ante a revelação de que a ministra terá de enfrentar nos próximos meses um câncer linfático. Isso porque os planos do PT ficam, a partir de agora, atrelados diretamente à capacidade de recuperação da ministra.

Embora a primeira avaliação seja de que hoje o partido não tem alternativa viável para Dilma, nos bastidores já começaram especulações sobre um eventual plano B do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os cotados para esse papel despontam os ministros Fernando Haddad (Educação), Tarso Genro (Justiça) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), o deputado Antonio Palocci (PT-SP), o governador Jaques Wagner (PT-BA).

E, fora do partido, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Mas são todos nomes difíceis de serem viabilizados.

Surpreendidos, petistas admitem que poderão ter dificuldade para achar um eventual substituto para Dilma, apesar dos problemas iniciais que a ministra enfrentou para consolidar seu nome dentro do partido. Isso porque a candidatura da chefe da Casa Civil foi construída pessoalmente por Lula durante um ano. Uma nova alternativa não teria consenso e poderia rachar o PT e a base aliada.

Única certeza: Lula será decisivo

O novo cenário político, dizem petistas, só será definido no prazo de no mínimo um mês. Nesse período, observam, haverá uma paralisia nas articulações sobre sucessão e negociações de alianças. Em qualquer mudança no xadrez político, só há uma certeza: a de que o presidente Lula será decisivo para a definição de sua própria sucessão. Hoje, no Palácio do Planalto, qualquer especulação sobre uma eventual substituição da candidatura de Dilma está descartada.

— Não há alternativa. O que aconteceu não afetará a sucessão presidencial.

A ministra Dilma vai manter seu ritmo de trabalho. Ela me disse que vai tirar de letra esse episódio. Está bem disposta e sua agenda é normal — diz o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, que hoje viaja com Dilma e Lula para Manaus.

Apesar do otimismo palaciano, o clima na cúpula petista é de apreensão.

Segundo um integrante da executiva nacional, a ordem é aguardar uma definição do presidente Lula.

— Este é um dado novo na conjuntura.

Mas é cedo para cogitar uma mudança de cenário. Ninguém está se colocando.

Também não se cogita alternativa.

Por isso, até segunda ordem, não haverá nenhuma mudança — ressaltou o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP).

Tanta cautela de petistas não é por acaso. Hoje, todas as alternativas colocadas e até mesmo testadas antes da consolidação do nome de Dilma apresentaram dificuldades. Reservadamente, fala-se em lista de nomes para eventual substituição num quadro de dificuldade de manutenção da candidatura, mas todas as alternativas enfrentam algum tipo de dificuldade.

Quebra de sigilo prejudica Palocci

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que chegou a ser o candidato natural do PT até 2006, é visto como nome problemático por causa da acusação de violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Recentemente, obteve uma vitória política, depois do pedido da Procuradoria da República para que seja rejeitada a denúncia relativa à máfia do lixo quando ele era prefeito em Ribeirão Preto (SP). Mas avalia-se que ele ficará marcado com a denúncia da quebra do sigilo, mesmo sem ser aberto processo no Supremo Tribunal Federal.

O ministro Haddad é visto com desconfiança pelos petistas por nunca ter sido testado eleitoralmente, apesar da simpatia pessoal de Lula.

Sexta-feira, em Itumbiara, Lula afirmou que duvidava que um dia um presidente da República tenha tido um ministro da Educação da qualidade de Fernando Haddad.” Já Patrus Ananias tem pouca visibilidade nacional, apesar de coordenar o maior programa social do governo, o Bolsa Família. O nome de Tarso Genro teria forte resistência no PT, a começar pelo ex-ministro José Dirceu.

Outro petista da lista, o governador Jaques Wagner, apesar de próximo a Lula, tem feito uma administração muito voltada para a Bahia, de pouca repercussão nacional. Fora do PT, o deputado Ciro Gomes, tem temperamento explosivo, o que não ajuda a reduzir resistências de petistas em abrir mão da cabeça de chapa em favor de outra legenda. Há, porém, quem não queira nem ouvir falar na hipótese de substituir a candidatura Dilma. É o caso do líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, que diz ter certeza de que Dilma vai superar a doença.

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