terça-feira, 28 de abril de 2009

PT teme pressão de aliados para antecipar a escolha do vice de Dilma

César Felício, Paulo de Tarso Lyra e Yan Boechat,
de Belo Horizonte, Brasília e São Paulo
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Apesar das demonstrações explícitas e reiteradas de confiança na recuperação da ministra-chefe da Casa Civil e virtual candidata do PT à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, no tratamento de um câncer linfático, lideranças do Partido dos Trabalhadores começam a avaliar que a escolha do vice em uma chapa encabeçada pela ministra ganha nova importância a partir de agora. Para eles, além das estratégias regionais e partidárias que envolvem a definição do candidato a vice, é preciso também que o nome tenha força política e administrativa. "Nada muda, não há plano B, mas é claro que a discussão envolvendo o companheiro de chapa vem a tona", diz o deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), lembrando que vários vices assumiram o posto principal na história brasileira recente.

As inevitáveis incertezas que surgem com o anúncio da doença faz com com que dirigentes do PT temam pressões dos partidos aliados da base governista. O receio é que a capacidade de Dilma polarizar a eleição do próximo ano com o candidato do eixo PSDB/DEM seja contestada pelo PMDB e pelo PSB do deputado federal e duas vezes candidato presidencial Ciro Gomes (CE). Um primeiro efeito desta pressão seria a cobrança para que seja definida ainda este ano a composição da chapa presidencial, com a escolha do nome do candidato a vice na chapa governista.

A preocupação com futuras pressões foi externada por integrantes do PT mineiro, como o presidente regional do partido, deputado federal Reginaldo Lopes. "No nosso planejamento nada muda, mas podem haver aceleração de conversas sobre o vice", afirmou Reginaldo.

De acordo com interlocutores de petistas com acesso ao Planalto, a previsão é que nos próximos meses, quando a ministra deverá realizar o seu tratamento contra a doença, pemedebistas e integrantes do PSB demarquem distância em relação ao partido. Os petistas acreditam contudo que a disputa interna dentro do principal adversário, o PSDB tende a se acirrar, à medida que os aliados do PT na base governista verbalizarem dúvidas sobre a capacidade polarizadora de Dilma.

Em contrapartida, a chefe da Casa Civil, a direção do PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vão intensificar os contatos nos próximos dias para definir a estratégia a ser adotada depois do anúncio público da enfermidade enfrentada pela candidata petista. Por enquanto, a única certeza é de que Dilma segue firme como presidenciável do partido. "Ela continua sendo a nossa candidata", assegurou o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). Para o deputado, não há nenhuma razão para precipitar qualquer movimento, como antecipar a ida de Gilberto Carvalho para a presidência do PT, algo que deve ser sacramentado em novembro.

Apesar do discurso ativo da ministra e de seus auxiliares, a tendência, na opinião de militantes petistas, é que Dilma diminua um pouco o ritmo, especialmente nestes primeiros meses. Hoje, por exemplo, a ministra cancelou a participação em um seminário que trata dos impactos da crise econômica mundial que contará com a presença de seu principal opositor nas eleições de 2010, o governador de São Paulo José Serra.

"Ela deve trabalhar mais no essencial e deixar o secundário de lado. Tanto do ponto de vista administrativo, quanto no político, ela vai diminuir um pouco a agenda", acredita o ex-prefeito de Recife João Paulo, um dos integrantes do grupo encarregado por Lula de traçar estratégias para a campanha.

João Paulo defende que o momento atual deve ser reservado para que Dilma cuide de sua saúde. As sessões de quimioterapia vão durar aproximadamente quatro meses, mas João Paulo acha que Dilma deverá estar ainda em ritmo reduzido até o início de 2010.

Os efeitos mais fortes devem ser sentidos, na opinião de alguns integrantes da cúpula partidária, nas funções administrativas da ministra. Além de chefiar a Casa Civil - Pasta sob a qual está abrigada toda a estrutura administrativa do governo - Dilma ainda é a coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do pacote habitacional Minha Casa, Minha Vida, peças importantes de sua eventual campanha. A ministra ainda Participa de conselhos de administração da Petrobras, Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Além disto, como gestora do governo como um todo, fiscaliza e cobra pessoalmente o andamento de cada um dos projetos que gerencia. "É claro que ela não poderá permanecer tão assoberbada. Mas é ela quem deve definir do que abrirá mão", completou um integrante do diretório nacional do PT.

Dilma viajou ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e hoje fará, em Manaus, o balanço do PAC. Terá também uma reunião com prefeitos, secretários estaduais e representantes de empresas executoras das obras do PAC no Amazonas e participará de assinaturas de adesão ao programa das Casas Populares.

Os petistas reconhecem que o apelo da doença poderá sensibilizar os eleitores. "A coragem e a capacidade de superar momentos adversos geram uma empatia na população", afirmou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), uma das parlamentares petistas mais próximas da chefe da Casa Civil. A avaliação das lideranças do partido é de que o combate a uma doença tão emblemática como o câncer pode tornar a figura dura e forte da ministra mais humana aos olhos dos eleitores.

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