terça-feira, 21 de abril de 2009

Risonhos, mas nada francos

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Mercado desconfia de lucros de bancos e vê economia frágil; Bolsa fica ainda mais arriscada neste mês de balanços nos EUA

COMO PREVISTO , o povo do dinheiro estava à beira de confessar que os balanços de bancos americanos lhe parecem risonhos, mas nada francos. Mais importantes e confiáveis do que o malabarismo contábil seriam os indícios de perdas devidas à derrocada da economia dita "real".

Isto é, evidências de que consumidores e empresas dificultosamente pagam suas contas, quando o fazem.

O maior banco americano pelo total de ativos, o Bank of America, apresentou ontem um lucrão, mas fez grande reserva (provisão) para cobrir perdas prováveis, afora um reconhecimento grande de casos perdidos, calotes líquidos e certos -suas ações caíram ontem 24%.

As ações de instituições financeiras levaram ontem o maior tombo em três meses não apenas devido a provisões e perdas no Bank of America (BofA), mas porque analistas do Goldman Sachs fizeram picadinho do aparentemente bom balanço do Citigroup, que anunciara lucros na semana passada. O pessoal do Goldman Sachs diz que as perdas do Citi com calotes crescem rapidamente.

Para piorar, está próximo o 4 de maio, quando o governo dos EUA deve divulgar alguma informação -não se sabe qual- das auditorias ("stress tests") que realiza em 19 bancões a fim de verificar qual deles ainda precisa de esparadrapos de dinheiro, público ou privado.

Pode se descobrir que o governo terá de colocar mais dinheiro nos bancos ou subsidiar injeções privadas de dinheiro. Pode ser que o governo pegue as ações preferenciais que detêm nos bancos e as converta outra vez em ordinárias, o que reduz a fatia e o valor dos atuais acionistas.Mas não parece que vão voltar os terremotos do final de 2008. Afinal, o governo americano despejou muito capital nos bancões, que emprestam com garantias do Tesouro, captam dinheiro a taxas baixíssimas e emprestam a taxas proporcionalmente muito altas. Embora a economia encolha, cai mais devagar.

Mas os bancos ainda estão atolados de papéis podres, e as empresas pagam caro para captar dinheiro. Confirmam-se as perdas crescentes dos bancos com o cidadão e com a firma que simplesmente não conseguem pagar suas contas, pois não têm emprego ou vendem menos.

A IBM teve lucro quase igual ao do primeiro trimestre de 2008, mas as vendas caíram 11% (note-se que mais da metade de seu faturamento vem de fora dos EUA). A receita da Texas Instruments caiu 36%.

Um indicador que, em tese, antecipa a tendência da atividade econômica para os próximos seis meses, o qual cai desde junho, adernou de novo em março, sugerindo, como os economistas mais sensatos previam, que o fundo do poço nos EUA deve aparecer lá por setembro, outubro (trata-se dos indicadores antecedentes do Conference Board).

Como se dizia aqui na semana passada, este período de febre terçã dos balanços trimestrais e de calafrios nas ações não é um bom período para fazer negócios na Bolsa, nem para quem pensa no longo prazo. As ações tinham vivido um estirão longo de alta; quem entrou na baixa iria "realizar lucros"; enfim, estava escrito nas estrelas que apareceriam notícias ruins pelo menos até o início de maio, quando sai o "teste de estresse" dos bancões.

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