segunda-feira, 20 de abril de 2009

Tom diferente do restante do governo

DEU EM O GLOBO

Mantega e Lula adotam discurso mais otimista sobre o pior da crise financeira já ter passado

BRASÍLIA. A cautela que marcou o discurso do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, ontem, em Comandatuba, contrasta com a euforia do restante do governo. Não é de hoje que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, procuram passar um tom mais otimista que o da autoridade monetária quando o assunto é a crise internacional. Sobretudo nas últimas semanas, quando o governo tomou diversas medidas voltadas a estimular o setor produtivo, como reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos, materiais de construção e eletrodomésticos.

A equipe econômica e o núcleo político do governo se esforçam para mostrar que a recuperação econômica começou em março e que, daqui para frente, tende a ganhar mais força. No último trimestre de 2008, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) encolheu 3,6%, e estima-se que nos três primeiros meses de 2009 a economia também terá registrado retração.

Ao comentar os resultados à época, Lula - que logo após a explosão da crise classificou a turbulência de "marolinha" - afirmou:

- O que aconteceu com o PIB brasileiro já era esperado pela equipe econômica no primeiro trimestre (sic, na verdade no último trimestre de 2008). Tínhamos consciência de que, em função do que aconteceu a partir de outubro, teríamos o primeiro trimestre fraco e temos consciência de que é possível dar a volta por cima e começar, a partir de março, a recuperação em várias áreas da atividade econômica.

Na semana passada, Lula afirmou ainda:

- O Brasil vive realmente um momento privilegiado de estabilidade e credibilidade política. E aqui não tem nenhuma venda barata de otimismo.

A diferença de tom entre o BC e o restante da equipe econômica é clara quando se olha para as previsões de crescimento para 2009. Enquanto Mantega e equipe calculam uma expansão de 2%, que é a projeção oficial do governo, a autoridade monetária enxerga quase a metade: 1,2%. O BC está mais inclinado a considerar que a recuperação efetiva da economia só ocorrerá no segundo semestre.

Para o ministro da Fazenda, porém, o momento mais agudo das turbulências já ficou para trás. Ele aposta que a tendência é a economia acelerar daqui em diante. Na semana passada, por exemplo, Mantega defendeu:

- Posso dizer que acredito que o fundo do poço já passou no Brasil. Não quer dizer que a crise já passou, mas que a fase mais aguda foi deixada para trás.

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