terça-feira, 26 de maio de 2009

Carlos Lacerda lança o truque das CPIs

Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Na primeira campanha eleitoral depois da queda da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, com a liberdade de imprensa restabelecida com o fim da censura do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP de tenebrosa memória, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) decidiu lançar candidato próprio à Presidência da República.

Uma aventura, para o teste da popularidade da legenda que fora praticamente dizimada na reação militar da ditadura depois da tentativa de rebelião para a tomada do poder com o fracasso dos levantes de Natal, que durou uma semana, e de Recife, que não passou de horas. Mas, a chamada intentona comunista colheu o maior revés com o frustrado levante da Praia Vermelha abafado em horas pela tropa do Exército.

Getúlio Vargas, com o apoio do ministro do Exército, general Eurico Gaspar Dutra, a caçada aos lideres e militantes comunistas pela Polícia Civil chefiada por Filinto Muller e com o plano do Estado Novo à espera da oportunidade para ser detonado, a vez chegou em 10 de novembro de 1937.

O Estado Novo não resistiu à contradição da vitória dos aliados na Segunda Grande Guerra, com a participação da Força Expedicionária Brasileira.

Com o fim do Estado Novo, em 29 de outubro de 1945, a campanha eleitoral ganhou as praças e as ruas, nos grandes comícios que atraíam multidões fantásticas, especialmente os da União Democrática Nacional – a UDN dos grandes oradores – e o PSD de sólidas bases estaduais.

Depois de tanto rodeio, chego ao meu ponto de partida. O Partido Comunista Brasileiro renasceu com a redemocratização. E, com a chefia de Luiz Carlos Prestes, decidiu lançar candidato próprio para fortalecer a legenda. Prestes examinou listas de nomes. E por caiporismo fixou-se no engenheiro Iedo Fiúza, ex-prefeito de Petrópolis, amigo e alcoviteiro do ex-ditador Vargas, que em 1951 voltaria à Presidência em consagradora vitória. Nas suas memórias, publicadas pela Fundação Getúlio Vargas, o ilustre autor conta que o então prefeito de Petrópolis era o incumbido de providenciar os chalés discretos para as suas tardes com a amada, Aimée de Harém.

O prefeito Iedo Fiúza não tinha credenciais para enfrentar a dura parada com a imprensa liberada da censura. Em cima do lançamento, o jornalista Carlos Lacerda iniciou, pelo Diário Carioca, violenta campanha contra o candidato comunista, condecorado pela alcunha de Rato Fiúza e acusado de embolsar a propina de 10% sobre todas as obras e compras da prefeitura.

A manchete de primeira página teve instantâneo sucesso. O infamante apelido pegou como catapora. Primoroso escritor, crítico literário e cronista, Prudente de Moraes Neto, o Pedro Dantas, encontrou com Carlos Lacerda na redação e depois dos cumprimentos e rapapés do estilo perguntou sobre as provas, os documentos que ancoravam as denúncias sobre a roubalheira do prefeito de Petrópolis e candidato do PCB à Presidência.

A resposta em cima da bucha foi como um soco no estômago:

– Provas? Não tenho nenhuma. Elas vão começar a chegar agora.

E não deu outra. Sem maiores cuidados na seleção, Carlos Lacerda sustentou a campanha até as urnas e a derrota do candidato do partidão, com um inesgotável repertório de denúncias. E que não deram em nada, quer dizer, ajudaram a aprofundar a derrota do candidato de Prestes.

Carlos Lacerda estava lançando a fórmula aplicada até hoje para sufocar uma CPI: primeiro as denúncias. As provas chegam depois.

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