quinta-feira, 21 de maio de 2009

A concorrida sessão de Tarantino

Luiz Carlos Merten
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Caderno 2

No novo longa, ele fala de cinema e dos cineastas de ''segunda categoria'', que são os seus preferidos

Foi a sessão de imprensa mais concorrida deste festival, ontem pela manhã. O palais lotou para ver o novo Quentin Tarantino e foi preciso providenciar com urgência outra sessão na sala do 60ème, construída há dois anos para abrigar eventos especiais do 60º aniversario do maior festival do mundo. Foi outra avalanche de gente e mais de uma centena ainda ficou de fora. Inglorious Basterds, o filme de guerra de Tarantino, trouxe a Cannes Brad Pitt e, claro, Angelina Jolie. Apesar dos rumores de separação, eles jantaram juntos num restaurante de Antibes na terça e ontem fizeram a mais concorrida montée des marchas deste ano.

A montée, a subida da escadaria do palais, naquele tapete vermelho, é o ponto alto do cerimonial de Cannes. Para onde quer que se virem, Brad e Angelina encontram sempre um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas. Inglorious Basterds ou a celebração do glamour de Cannes. O interessante é que Tarantino admite haver feito o filme inspirado na obra homônima (de 1978) de um de seus diretores preferidos, Enzo G. Castellari, que seria enxotado se tentasse pisar no tapete vermelho de Cannes na sua (grande?) fase, quando fazia spaghetti westerns como Keoma, com Franco Nero.

O filme tem algo de Os Doze Condenados, o clássico de ação de Robert Aldrich. Brad Pitt lidera um grupo de judeus americanos cuja especialidade é escalpelar nazistas. O filme divide-se em capítulos, com muita música ?roubada? de faroestes macarrônicos. Uma das mais conhecidas é o tema de Um Dólar Furado, com Giuliano Gemma, aliás, Montgomery Wood. O clímax passa-se num cinema de Paris, onde ocorre a pré-estreia de uma obra de propaganda nazista, a que o próprio Adolf Hitler vai assistir. O plano, não apenas de Brad, mas também de uma garota judia que quer vingar o massacre de sua famílias no capítulo inicial, é explodir o cinema com o fuhrer dentro. Tarantino iniciou uma revolução aqui mesmo em Cannes, em 1995, ao receber a Palma de Ouro por Pulp Fiction (Tempo de Violência). Em 2000, Lars Von Trier consolidou outra revolução, a do digital, com Dançando no Escuro. Ela atinge este ano seu apogeu, com mais de 90% dos filmes sendo produzidos (e exibidos) em digital. O de Pedro Almodóvar é uma honrosa exceção. É importante destacar que a metafórica explosão do cinema é impulsionada por um agente muito especial. Em vez de explosivos, Tarantino usa a boa e velha película, que, como você sabe - o celuloide -, é inflamável.

O cinema é o tema de Inglorious Basterds e o que Tarantino faz é buscar novas formas de narrar/homenagear/plagiar os autores de segunda categoria que são seus ídolos. Não há como negar que o começo é divertido, mas depois... Espere para ver, já que o filme será distribuído no Brasil pela Universal. L.C.M.

Na Croisette

O filme sensação da Quinzena dos Realizadores está sendo I Love You, Philip Morris, que Gus Van Sant abandonou para realizar Milk, deixando que os roteiristas Glenn Ficarra e John Requa assinassem seu longa de estreia. Mais do que os beijos de Jim Carrey e Ewan McGregor, como um par gay - Rodrigo Santoro faz o primeiro namorado de Jim, que morre de aids -, o filme faz sensação por seu humor selvagem e politicamente incorreto, voltado contra homossexuais, negros, aidéticos. Não deve ser por outro motivo que o filme está tendo problemas para distribuição.

Sharon Stone mostrou mais uma vez que nasceu para o tapete vermelho de Cannes. Todos os anos, a estrela de Instinto Selvagem é uma figura indispensável na cerimônia de subida da escadaria do Palais. Ontem, ela chegou gloriosa para a sessão do filme de Quentin Tarantino, Inglourious Basterds. Sharon competiu com o casal Pitt e Jolie em termos de delírio do público.

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