terça-feira, 12 de maio de 2009

“A diferença é que o PSDB age às claras”

Sérgio Montenegro Filho
ENTREVISTA » SÉRGIO GUERRA
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Decidido a amenizar o clima conturbado que envolve os partidos da antiga União por Pernambuco (PMDB, DEM,PSDB e PPS), provocado pelas manifestações de simpatia de alguns prefeitos tucanos e democratas à reeleição do governador Eduardo Campos (PSB), o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, resolveu abrir o verbo. Acusado nos bastidores da oposição de assumir uma posição “dúbia”, ele confirma sua relação de amizade com o governador e diz que continuará apoiando projetos de interesse do Estado. Mas garante que em 2010 o PSDB estará fechado com o nome definido pela oposição. Embora admita que haverá algumas dissidências de tucanos que mantêm relação antiga com Eduardo, não vê nisso ameaça à unidade oposicionista. Por último, manda um recado duro aos aliados. “Vamos continuar agindo como agimos. A diferença é que o PSDB faz as coisas às claras. Nós não temos dono”.

JC – Dirigentes de partidos aliados ao PSDB têm enxergado uma postura dúbia do senhor com relação ao governo Eduardo Campos. Qual a real posição dos tucanos diante do palanque socialista?

SÉRGIO GUERRA – Desde que sou político algumas pessoas insistem nesse cenário de postura dúbia. A idéia que desenvolvi na vida pública é a de que é preciso separar os objetivos permanentes dos conjunturais. Fui líder da oposição no meu primeiro mandato de deputado estadual. Fiz uma feroz oposição ao governo Roberto Magalhães, com uma bancada heterogênea do PMDB, que na época reunia todos os partidos. Certo dia, uma mensagem do governador sobre Suape foi para a Assembleia. Alguns companheiros tinham posição negativa, mas eu, como líder, apoiei o projeto, que foi aprovado por ser de interesse vital de Suape.

JC – Depois, o senhor se elegeu deputado federal e trabalhou no governo Arraes. A relação mudou?

GUERRA – Não. Mantive a determinação de fortalecer a base econômica local, com projetos que melhorassem a situação de Pernambuco. Por quase dez anos eu coordenei a bancada federal, e era notoriamente defensor do projeto Suape, inclusive no Orçamento da União. Quando Joaquim Francisco assumiu o governo, meu lado era outro, mas muitas vezes ele me procurou para pedir ajuda na Câmara Federal e eu ajudei. O mesmo aconteceu no governo do meu amigo Jarbas Vasconcelos. E no governo atual, de Eduardo Campos, eu, como senador, continuei apoiando todos os projetos de Pernambuco. Liberação de recursos fundamentais para o Estado tiveram minha participação: Transnordestina, estaleiro. Até com o polo de poliéster, sobre o qual tenho algumas divergências, eu colaborei. Poderia citar vários outros episódios como esses em que atuei, nos quais sempre separei o que é permanente do que é conjuntural.

JC – O que o senhor chama de questão conjuntural?

GUERRA – Eu era pré-candidato a governador em 2006. Tinha pesquisas que mostravam um equilíbrio entre meu nome e o de Mendonça Filho (DEM). Jarbas disse que achava mais justo que Mendonça fosse o candidato, e no outro dia, sem resistência, apoiamos Mendonça, enfrentando vários companheiros que tinham preferência por Eduardo Campos. Só dois ou três prefeitos do PSDB insistiram em votar nele porque tinham uma relação antiga e permanente. Mas o partido apoiou Mendonça, indicou inclusive o vice. Aí veio a disputa no Recife em 2008, e nós apoiamos o candidato de Jarbas (Raul Henry). Poderíamos ter apoiado novamente Mendonça. Nós apoiamos dezenas de campanhas no interior que não eram do PSDB, mas da União por Pernambuco, do PMDB e do DEM, que estavam concentrando forças na capital. Nós enfrentamos o governo de Eduardo na área metropolitana quase toda.

JC – Então o senhor condena as críticas dos aliados?

GUERRA – As pessoas precisam compreender que no Nordeste nós podemos nos dividir sobre questões eleitorais, conjunturais, até mesmo ideológicas. Mas não sobre questões de interesse do Estado. Foi isso que fiz a vida inteira e não vou deixar de fazer, porque é produto do meu mandato de senador. Não vou chegar em Pernambuco e dizer que quero me reeleger senador só porque virei presidente nacional do PSDB, ou porque apareço muito nos meios de comunicação. Preciso dizer ao povo que fiz isso e aquilo, e para isso preciso colaborar com prefeituras e com o governo do Estado, como sempre fiz e continuarei a fazer.

JC – O senhor, então, está decidido mesmo a tentar a reeleição ao Senado?

GUERRA – Dos três citados às eleições majoritárias pela União por Pernambuco, eu sou o único que assume a candidatura. Jarbas ainda não se desenvolveu como candidato, nem Marco Maciel. Eu, sim, confirmo a intenção de me candidatar.

JC – E quanto à relação pessoal com Eduardo Campos? Seus aliados estariam, então, misturando com a relação política?

GUERRA – Esclareço com a maior tranquilidade. Primeiro, sempre admirei o avô de Eduardo. Na minha primeira campanha de senador (2002) eu estava com sérias dificuldades eleitorais e fui dar uma entrevista a um jornal. Me perguntaram se Arraes era o atraso, e eu, na oposição a ele, declarei que ele não era isso, e fiz a ele os devidos reconhecimentos. Evidente que muita gente não gostou. Agora, tenho relações pessoais com Eduardo e com a família dele. E ele com a minha família. Ele tem projetos para Pernambuco que eu apoio intensamente. Todos eles. Além disso, Eduardo é presidente nacional do PSB e eu do PSDB. Temos relações nacionais equilibradas. Nós somos aliados em Minas Gerais, seremos aliados no Paraná e acho que na Paraíba. Posso sentar com Eduardo para discutir projetos, política nacional e política local. Até porque aqui no Estado, Eduardo tem as mesmas restrições que eu tenho, e que são insuperáveis: ele tem um candidato a presidente e eu tenho outro.

JC – É difícil manter essa relação sem ser alvo de críticas? Por exemplo, por causa das inserções do PSDB na TV, em que o senhor exibe sua colaboração com governadores adversários.

GUERRA – Sou um político civilizado e afirmativo. Só que a minha afirmação não é da boca para fora, é em relação a fatos. Eu contribuo com Pernambuco, com os projetos, e foi para isso que o povo me elegeu. E não vejo tanta chiadeira por isso. A única pessoa que falou comigo sobre essa questão das inserções do PSDB foi o deputado José Mendonça (DEM), com a maior tranquilidade e correção possíveis. Me disse que somos aliados e que achava que isso criaria confusão pública. Não acho. Estamos testando essas inserções. Aquela foi a primeira, e haverá outras, nas quais vamos desenvolver todo o processo a que aquela primeira se referia. Vamos mostrar a minha vinculação com as obras que apoiei nos diversos governos em Pernambuco. Porque como candidato a senador, vou dizer na campanha quem foram os governadores e prefeitos que ajudei. Acho que essa é a atitude correta num Estado pobre, é a atitude adequada que vou assumir enquanto for político.

JC – Como fica a questão dos prefeitos? As adesões a Eduardo estão acontecendo, e a oposição se queixa...

GUERRA – Eu não sou político que diz que tem “tantos prefeitos”. Não sou dono de prefeito. Tenho aliados. Quem tem que ter prefeito é o povo, e não o senador ou o deputado. Tenho compromisso é com a democracia, com a modernidade, e não com o atraso. Alguns prefeitos do PSDB – e não são muitos – não votaram em Mendonça Filho porque tinham relação com Eduardo. Esses tendem a votar nele novamente, mas isso nem está discutido. E é preciso analisar o momento atual, não somente em relação aos prefeitos do PSDB. O problema é que nós fazemos as coisas às claras, o nosso partido não tem dono. Imagine um prefeito do interior que recebe um governador candidato à reeleição, aliado do presidente Lula, que tem uma força enorme no Estado. E chega lá e faz ou promete obras que o prefeito precisa. Do outro lado está a oposição, que ainda nem tem candidato. Evidente que isso desequilibra. É uma disputa invencível. Esses são os fatos. O resto é conversa.

JC – O PSDB, então, fica na oposição, mesmo com dissidências?

GUERRA – O PSDB votará no candidato da União por Pernambuco. Apoiará totalmente esse candidato, como fez há seis meses (2008), e há dois anos (2006). Nas campanhas, toda essa questão dos prefeitos vai se dissipando, porque temos firmeza, unidade e força. E vamos mostrar que temos.

JC – E essas especulações de que o senhor seria contra a candidatura de Jarbas ao governo, porque gostaria de ser o candidato?

GUERRA – Isso é conversa de débil mental. A pessoa que mais tem procurado Jarbas para que assuma a candidatura sou eu. Há um mês conversei com ele e Marco Maciel e disse que a aliança deveria decidir logo que pudesse os seus candidatos. Se eu quisesse ser candidato a governador, Jarbas me apoiaria. Como ele disse que teria me apoiado para prefeito na eleição municipal. No momento, porém, Jarbas é o nome mais forte, que mais reúne no povo e na política. Se ele será ou não candidato, ele vai decidir no tempo certo.

JC – Fala-se numa aliança entre PSDB e PSB no futuro, após a eleição de 2010, pelas afinidades entre as duas legendas. É possível isso?

GUERRA – No PSDB, no DEM, no PPS, em vários partidos, inclusive do PT, tem gente de centro-esquerda, que teria condições de, no futuro, se unir. Mas não acredito em nada disso, porque a forma como os partidos se organizam nos Estados impede essa mobilidade. E o PT é muito ruim de aliança. O PSB converge conosco em vários Estados, em outros não. Uma vitória tucana em 2010 vai nos levar a buscar uma aliança em torno de um projeto que vamos desenvolver no Brasil, e acho que se houver uma grande reforma política, isso é possível. O País vem pedindo isso há muito. Mas sem a reforma, restará apenas esse conflito permanente em torno do nada, que mediocriza, que cupiniza o Congresso Nacional.

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