domingo, 24 de maio de 2009

E dá para não resmungar?

Ferreira Gullar
DEU NA FOLHA DE S. PAULO / Ilustrada

Se não há nada de grave a apurar na administração da Petrobras, por que tanto medo?

DO MESMO modo que muitos outros brasileiros, vivo me perguntando o que fazer para salvar o Congresso Nacional e a qualidade de nossa democracia. Sim, porque é difícil sustentar uma democracia quando seus deputados e senadores parecem estar "se lixando" para a opinião pública e entendem que o Congresso é propriedade sua, seu feudo, de que cada um deles pode tirar as vantagens que quiser.

Os últimos escândalos, envolvendo até parlamentares respeitados por seu espírito público, mostram que a causa dessa decadência é mais complexa e profunda do que a fraqueza moral deste ou daquele parlamentar. Por isso a reforma política se torna imprescindível. Se não for a salvação do Congresso, poderá certamente dar início a uma mudança que se tornou urgente.

Os três pontos fundamentais da reforma são, como se sabe, o financiamento público da campanha eleitoral, o voto em lista e o voto distrital. Mas logo surgiram os argumentos contrários à reforma, sendo um deles o de que o voto em lista retira do eleitor o direito de escolher seus candidatos. Um sofisma, já que, pelas normas atuais, você vota em João e elege Pedro, desde que seu candidato não alcance determinado número de votos.

A vantagem do voto em lista está em que o partido assume a responsabilidade pelos nomes indicados e, por isso, se o deputado afirma que está se lixando para a opinião pública ou se envolve em falcatruas, nunca mais será indicado

candidato. Esse é um dado fundamental, uma vez que a situação lamentável do Congresso, hoje, decorre do baixo nível dos candidatos e consequentemente dos que são eleitos.
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Ao saber que a oposição pretendia criar uma CPI no Senado para apurar denúncias de irregularidades ocorridas na Petrobras, Lula saiu-se com esta: "Isso é, no mínimo, antipatriótico". E seu ministro das Comunicações, logo logo: "A oposição subestima o orgulho que a população tem da Petrobras". Mas quem constatou aquelas irregularidades foram o Tribunal de Contas da União, a Receita Federal e a Polícia Federal. Serão, os três, inimigos da pátria e do povo? Apurar irregularidades numa empresa da importância da Petrobras é zelar por ela e pelos direitos de seus acionistas.
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Mas algo, nesta CPI, assusta o governo. Se não há nada de grave a apurar na administração da empresa, por que tanto medo? As tentativas de desmoralizar a CPI, antes que comece a funcionar, chegam a ponto do ministro Paulo Bernardo afirmar, sem nenhum respeito à inteligência alheia, que o objetivo do PSDB é desmoralizar a Petrobras, para em 2010, chegando ao poder, privatizá-la. O mesmo argumento fajuto com que derrotaram o Alckmin, em 2006. Debaixo desse pirão, tem carne.
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Por unanimidade, o TSE inocentou Lula e Dilma da acusação de estarem fazendo campanha eleitoral, durante o encontro com mais de 3.000 prefeitos, em Brasília. O pior cego é o que não quer ver. Alguém ignora que Lula nunca desceu do palanque, desde 2002? Não está evidente que, depois da pesquisa que rejeitou a hipótese de um terceiro mandato, passou a arrastar Dilma para todos os palanques em todos os pontos do país? E ele diz abertamente que ela é sua candidata à sucessão, não diz? O que falta mais? É possível, agora, se a doença dela se agravar, que ele mude de ideia e passe a ser ele o seu próprio candidato. É esperar para ver.
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Num dos últimos jogos da seleção brasileira, ano passado, saiu num jornal a foto da nossa equipe de craques; dos 11 jogadores, nove eram negros ou mulatos e dois, brancos: Júlio César e Diego. Houve discriminação contra brancos? Claro que não: os que ali chegaram, chegaram pela qualidade do futebol, por sua competência, como, aliás, deve ser em todos os campos de atividade.
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O PSDB do Rio, que é oposição, encomendou uma pesquisa de opinião, nos seguintes termos: "É errado construir muros para limitar o crescimento das favelas porque trata o pobre de maneira injusta?". A maioria opinou contra os muros, claro. Se a pergunta fosse "É errado construir muros nas favelas para preservar a mata atlântica?", o resultado da pesquisa certamente seria outro. Pesquisas, que induzem à resposta que nos convém, não merecem crédito.
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E o ministro Carlos Minc na passeata pela liberação da maconha?! Não dá para crer. Qual é mesmo o benefício que o consumo da maconha traz à sociedade? Fumar, fuma quem quer. A proibição visa a impedir, dentro do possível, que os jovens adiram em massa a um vício que só lhes trará prejuízos. Além de "curtir um barato", o que mais ganham os maconheiros? Diz aí, Minc...

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