terça-feira, 5 de maio de 2009

E PMDB reage à tesourada

Gerson Camarotti e Chico de Góis
DEU EM O GLOBO

Recebido por Lula, partido ameaça com retaliação no Congresso e no apoio a Dilma

Adecisão da Infraero de demitir afilhados políticos e até parentes de parlamentares do PMDB e de outros partidos aliados abriu nova crise na base parlamentar do governo, o que levou o presidente Lula a atuar pessoalmente para tentar contornar o episódio. Depois de ser alertado de que as demissões poderiam causar derrotas sucessivas de projetos de interesse do governo no Congresso, Lula recebeu para uma conversa, ontem à noite, no Centro Cultural Banco do Brasil, os principais líderes do PMDB.

O presidente foi devidamente alertado, também, de que a forma como as demissões estavam ocorrendo poderia ter, inclusive, reflexos negativos para a pretendida aliança entre PT e PMDB em torno da candidatura presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Setores do PMDB e mesmo do PT aproveitaram a perda de espaço político na estatal aeroportuária para tentar outro objetivo: substituir o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Diante do crescimento das ameaças, ontem, Lula resolveu agir.

Ex-mulher de líder do PMDB vence

Até o início da noite, algumas demissões de cargos comissionados da Infraero que já haviam sido anunciadas, como a de Mônica Azambuja, ex-mulher do líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), foram suspensas temporariamente. Mas demissões já efetuadas causaram grande estrago político. Entre elas, a demissão, da Infraero de Pernambuco, do casal Oscar Jucá e Taciana Canavarro respectivamente irmão e cunhada do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

- Essas demissões criaram um ambiente muito ruim na Câmara e no Senado. Há um clima de revolta. Os parlamentares estão inconformados. Se há uma pessoa que defende o governo é Romero Jucá - disse o ex-presidente do Senado Garibaldi Alves (PMDB-RN), para, em seguida, defender também o ministro das Relações Institucionais. - O José Múcio pode até estar enfraquecido. Mas não tem culpa dessas demissões.

Durante o dia, vários peemedebistas, em recados à cúpula do governo, chegaram a lembrar, em tom de ameaça, que o comando da Infraero não tinha um único voto no Congresso para ajudar o Planalto, numa referência ao brigadeiro Cleonilson Nicácio, presidente da estatal, que decidiu reduzir os cargos de indicação política. Romero Jucá evitou ataques diretos ao presidente da Infraero, mas não escondeu seu descontentamento.

- Bom cabrito não berra. Agora, é um absurdo que o governo passe a criminalizar cargo de indicação política. Mas não vou bater boca com o presidente da Infraero. Agora, está claro que é no mínimo uma deselegância - desabafou Jucá.

O governo Lula já teve problemas em votações da semana passada, quando o novo estatuto da Infraero e as demissões ainda eram tratados discretamente. No Senado, sem que Jucá fizesse nada para impedir - como costuma fazer com veemência na defesa do governo - a medida provisória 449, que instituiu o perdão de dívidas tributárias e autorizou o parcelamento de débitos de empresas, foi desfigurada com a incorporação de 19 emendas.

Na Câmara, o PMDB uniu-se ao DEM e impôs uma derrota ao governo na votação de destaques da MP 457, sobre a renegociação da dívida previdenciária dos municípios, ampliando o alívio financeiro aos prefeitos.

- O que há de mau nas indicações políticas? Fica parecendo que essas indicações não são éticas. Isso cria constrangimento na base - ponderou Henrique Alves, antes de ir para um encontro com Lula.

"O compromisso do PMDB é até 2010"

Henrique Alves lembrou que Lula tenta assegurar uma aliança para 2010 em torno da ministra Dilma. Na semana passada, em conversa com os presidentes da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Lula ouviu que, se a convenção do PMDB fosse hoje, o partido aprovaria apoio ao governador de São Paulo, José Serra, do PSDB.

- O compromisso do PMDB é até 2010, para garantir a governabilidade. Agora, o presidente Lula acha que é fundamental o PMDB no palanque de Dilma - disse o líder Henrique Alves.

Ao mesmo tempo, ontem, crescia nos bastidores a tese peemedebista de que o presidente deveria nomear José Múcio para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
Líderes do partido tentam convencer Lula de que Múcio é melhor nome para o posto do que a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito de Dilma Rousseff e que foi acusada de envolvimento na divulgação de gastos dos cartões corporativos do governo Fernando Henrique.

À noite, após quase duas horas de reunião de Lula com o PMDB, o clima era de pacificação. Segundo Jucá, o presidente evitou falar abertamente sobre o caso da Infraero, mas deixou clara a importância do PMDB para a aliança em 2010. Sobre o fato de Nélson Jobim também ter ido ao gabinete presidencial, mais tarde, Jucá disse:

- Foi uma coincidência. Nós nos cumprimentamos.

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