domingo, 31 de maio de 2009

Falta de herdeiro natural evidencia ''lulodependência''

Marcelo de Moraes
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Mesmo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é incógnita eleitoral

Sete anos depois de ter vencido pela primeira vez a corrida sucessória, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu produzir herdeiros políticos claros que despontem com força nas pesquisas de intenção de voto para a corrida presidencial de 2010.

Até mesmo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, independentemente da situação de sua saúde, ainda é uma incerteza eleitoral, já que nunca concorreu e aparece bem distante do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), nas primeiras simulações feitas pelos institutos de pesquisas.

Na prática, após quase completar dois mandatos à frente do governo, o estilo centralizador e o carisma eleitoral de Lula acabaram transformando o próprio presidente no seu principal herdeiro político.

Também contribuiu para essa situação o fato de o PT nunca ter lançado qualquer outro candidato à Presidência que não fosse Lula. E já se vão vinte anos nesse processo. Desde 1989, ele disputou cinco eleições presidenciais. Perdeu as três primeiras, ganhou as duas últimas.

Naturalmente, isso serviu para fixar sua imagem na cabeça do eleitor como o eterno candidato do PT à Presidência e tornou difícil para qualquer outro petista assumir essa posição.

Isso fica claro com a campanha de setores do PT e de partidos aliados defendendo que ele concorra a um terceiro mandato, o que somente seria possível através da aprovação de uma mudança constitucional. Também fica claro quando se dá como certa, entre seus principais aliados, a possibilidade de Lula voltar a concorrer ao Palácio do Planalto, em 2014 - hipótese nunca descartada, diferentemente do que ocorre com a do terceiro mandato.

OUTROS NOMES

A "lulodependência" acabou se agravando pelos problemas enfrentados por vários políticos que tinham potencial para sucedê-lo no comando do País, mas perderam prestígio nesse caminho. Dois exemplos são nítidos: José Dirceu e Antonio Palocci.

Responsável por toda a articulação política que garantiu a vitória de Lula em 2002, Dirceu estreou no governo nomeado como ministro da Casa Civil mas assumindo, na verdade, o papel de homem forte da nova administração.

Ao controlar a direção gerencial do governo, o que fez durante grande parte do primeiro mandato, José Dirceu seria um sucessor natural de Lula se não tivesse sido torpedeado pelos efeitos provocados pelo chamado escândalo do mensalão.

Acusado de ter participação no suposto esquema de pagamento de caixa dois eleitoral para ter o controle da base de apoio dentro do Congresso, Dirceu ficou em situação política insustentável, tendo que deixar o ministério. Logo depois, acabou sendo cassado pela Câmara dos Deputados, saindo definitivamente da linha sucessória de Lula.

CASEIRO

Bem-sucedido no comando da equipe econômica como ministro da Fazenda, Antonio Palocci também foi abatido em pleno voo político quando começava a ser cogitado como uma opção futura para a sucessão de Lula.

Palocci deixou o ministério depois de se envolver no escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, em 2006.

Em entrevista ao Estado, Francenildo disse que tinha visto Palocci frequentar várias vezes uma mansão em Brasília, ocupada por seus ex-assessores, onde ocorriam festas e negociações suspeitas.

Sem herdeiros diretos, Lula foi buscar entre seus principais assessores um candidato em potencial. E, dentro desse processo, a "lulodependência" fica evidente novamente. O presidente sabe que a candidatura de Dilma só tem chance de prosperar se ele tiver sucesso na operação de transferência dos seus votos para a ministra da Casa Civil.

Estreante em campanhas, Dilma terá como principal discurso de campanha justamente o mote de representar a continuidade do governo Lula. Sem esse discurso e sem a atuação maciça do presidente nos seus palanques, sua candidatura não se viabilizaria.

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