quinta-feira, 14 de maio de 2009

Incertezas da economia perdem peso na armação do xadrez presidencial




Jarbas de Holanda
jornalista


As incertezas sobre o comportamento da economia persistem, alimentadas por indicadores contraditórios. De um lado, por exemplo, a esperada nova queda do PIB no primeiro trimestre de 2009, a ser anunciada proximamente e, ao repetir o ocorrido no último de 2008, configuradora de recessão técnica. De outro, expressivo retorno de capital externo, de par com previsões como a do respeitado economista Afonso Celso Pastore (domingo no Estadão) de que, embora o país venha a ter crescimento negativo este ano, em torno de -1%, já deverá estar crescendo entre 3,5% e 4,5% no trimestre final. Mas, para as principais forças políticas – ligadas ao governo ou oposicionistas – essas incertezas vão deixando de representar condicionamento relevante dos passos voltados à sucessão presidencial de 2010. Passando a ser substituídas, como tal, pela emergência de variável absolutamente inesperada – a expectativa dos resultados da quimioterapia a que se submete a pré-candidata do presidente Lula, ministra Dilma Rousseff. Os quais, na hipótese menos provável, e indesejável, de serem ruins, recolocariam na agenda político-institucional o abandonado projeto de disputa por Lula de um terceiro mandato.

Quanto à crise econômica, outro fator que diminui a sua influencia é que o presidente Lula tem provavelmente logrado neutralizar ou até anular – o que precisa ser confirmado, ou desmentido, em próximas pesquisas de opinião – o expressivo desgaste de seu elevado índice de popularidade, que era esperado em consequência dos efeitos negativos que a crise suscitaria. Para tanto, ele tem combinado o respaldo de fortes ações defensivas do Banco Central e de sucessivos pacotes de financiamento e isenções fiscais a cadeias produtivas responsáveis por mais empregos, como a automobilística e a da construção civil, e de estímulos a outras atividades produtivas, com o reforço dos programas assistencialistas. E tem contado com uma significativa valorização de seu papel internacional pelos governos e círculos empresariais dos países desenvolvidos, que o vêem como contraponto pragmático à influência nas Américas do Sul e Central do radicalismo esquerdista do venezuelano Hugo Chávez. Tudo isso possibilitado pela manutenção dos fundamentos macroeconômicos recebidos dos governos FHC e pelo vigor das estatais e empresas privadas brasileiras, bem como pelas oportunidades de negócios que o país oferece.

Assim, a espera dos desdobramentos da crise cede lugar, na arena política, a movimentos dos partidos de maior densidade em torno de outros temas e no sentido da disputa presidencial.

Para as bandas oposicionistas constituídas em volta dos dois pré-candidatos do PSDB – José Serra e Aécio Neves - entre esses temas destaca-se a qualidade da gestão pública. Que serve aos dois para contraporem-se, como bons administradores, às distorções básicas associadas ao governo e ao presidente: ineficiência no encaminhamento do PAC e outros programas oficiais; aumento excessivo dos gastos de custeio em prejuízo dos de investimento; loteamento e aparelhamento partidários da administração federal, sobretudo das estatais; as posturas erráticas assumidas pelo chefe do governo a respeito da crise. Já o campo lulista tem como temas prioritários de palanque os benefícios dos programas sociais (que seriam suspensos ou esvaziados com uma vitória oposicionista); as obras do PAC e do novo programa habitacional; a afirmação da “soberania nacional”, ilustrada pela transformação do Brasil de devedor para credor do FMI. Ambos os pólos tratando da crise com dados e argumentos opostos, a serem ajustados em função dos desdobramentos dela. E quanto ao Bolsa Família, a direção do PSDB decidiu, em seminário realizado segunda-feira em João Pessoa,assumi-lo por inteiro (deixando até de lado a cobrança da porta de saída do assistencialismo), na tentativa de evitar ser caracterizada, pelo próprio Lula na campanha eleitoral, como inimiga do programa.

Em relação ao desencadeamento da montagem das alianças para 2010 o mais significativo é o forte assédio que está sendo feito ao PMDB. Pelo governo, para que sua direção nacional comprometa-se o mais rápido possível com o pólo lulista, em troca do sacrifício de diversas candidaturas do PT a governos estaduais (mesmo que competitivas), em favor de peemedebistas, e, simultaneamente, de presença ainda maior do partido no Ministério. Já por parte das direções do PSDB e do DEM, o objetivo de inviabilizar ou neutralizar a aliança formal com o PMDB buscada pelo governo, através de acordos nas eleições para governadores e senadores com vários der seus diretórios regionais, como os três da região Sul, o de São Paulo, o de Pernambuco e até o da Bahia (com promessa de apoio dos tucanos ao ministro Geddel Vieira Lima). Assédio duplo ao qual a cúpula peemedebista, próxima do Palácio do Planalto, procura responder protelando definições, agora menos em função das incertezas da crise e mais da possibilidade de substituição da pré-candidatura de Dilma Rousseff (sem contar as dificuldades ou impossibilidade dessa cúpula de impedir a divisão do partido entre os dois referidos pólos).

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