segunda-feira, 25 de maio de 2009

Lula rechaça pressão do PMDB e descarta ''plano B'' para 2010

Vera Rosa, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A Múcio, presidente diz que não articulará alternativa a Dilma nem admitirá faca no pescoço

O governo não vai aumentar o espaço do PMDB na diretoria da Petrobrás em troca de maior empenho do partido na CPI que investiga a estatal nem articulará um "plano B" para substituir a candidatura da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Palácio do Planalto, em 2010. Aborrecido com a onda de boatos que tomou conta de Brasília nessas duas frentes, enquanto estava em viagem internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou ontem à noite com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e disse que não admitirá "faca no pescoço".

Além da pressão do PMDB por cargos, a maior dificuldade do Planalto, no momento, está em segurar o conflito na base aliada, que não se entende nem mesmo sobre quem indicar para o comando da CPI. É péssima a relação no Senado entre os líderes do PT, Aloizio Mercadante (SP), e do PMDB, Renan Calheiros (AL), e até agora o governo não conseguiu chegar a um acordo sobre estratégias de atuação para se defender do bombardeio adversário.

"O presidente Lula terá de entrar em campo, caso contrário essa situação não se resolve", admitiu Múcio, que chegou à tarde a Brasília, vindo de Recife, para a audiência com Lula, no Palácio da Alvorada. "Em primeiro lugar, precisamos solucionar os problemas de composição da CPI, mas tenho confiança de que, a partir daí, os obstáculos serão superados."

Renan indicou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), para a relatoria da CPI e quer ceder a presidência para a oposição, nomeando Antonio Carlos Magalhães Jr. (DEM-BA). Na prática, o senador alagoano faz de tudo para impedir Mercadante de comandar a CPI e o impasse persiste porque os petistas resistem a entregar a vaga para ACM Jr. Foi justamente esse cenário turbulento que Múcio levou para Lula, na noite de ontem.

O presidente também conversou no fim de semana com Dilma, que, após levar um susto nos últimos dias por causa de forte dor nas pernas, passa bem do tratamento quimioterápico para combater um câncer no sistema linfático. Bem disposta, ela fez caminhada de 15 minutos, na manhã de ontem, perto de sua casa, na Península dos Ministros, acompanhada da tia Arilda e do labrador Nego.

Em diálogos reservados, Dilma disse não acreditar que o PMDB leve a Lula a reivindicação de mais cargos na Petrobrás. Não é só: duvida que o partido peça ao presidente uma alternativa à candidatura dela. Nos bastidores, porém, há movimentos nessas duas direções e uma fatia do PMDB trabalha para obter a estratégica Diretoria de Exploração e Produção da Petrobrás, ocupada desde 2003 pelo geólogo Guilherme Estrella. É essa diretoria que cuida das gigantescas reservas na camada do pré-sal.

Publicamente, Renan nega que o PMDB queira a cadeira de Estrella e diz não haver chantagem contra o governo. "Isso é intriga para denegrir nossa imagem", afirmou. "O PMDB não precisa de espaço nem como ascensorista no elevador do governo Lula", ironizou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

O deputado repetiu, no entanto, que o partido pedirá a interferência de Lula para pacificar as disputas entre o PT e o PMDB nos Estados. "As divergências para a montagem dos palanques aos governos dificultam a aliança em torno de Dilma", insistiu Alves. "Há vários PTs em ação e queremos a ajuda do presidente para impedir que a ala do PMDB favorável à candidatura do governador José Serra ganhe espaço."

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