sábado, 30 de maio de 2009

Minc critica ‘casa da mãe joana’ no governo Lula

Leonencio Nossa, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) disse que o presidente Lula lhe deu “toda a razão” ao reclamar que outros ministros estão fazendo lobby no Congresso para modificar acordos relativos a sua pasta. “Alguém do governo solapar a própria posição do governo é a casa da mãe Joana”, afirmou Minc em entrevista ao Estado.

Crise entre Minc e ministros preocupa Planalto

Temor é de que o mal-estar contamine o anúncio de balanço das obras do PAC na quarta-feira

O mal-estar dentro do governo provocado pelos ataques do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a colegas de Esplanada e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) passou a preocupar o Planalto, que teme que a crise contamine o anúncio, pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), do 7º balanço parcial das obras, previsto para a próxima quarta-feira.

Anteontem, Minc disse que estava impedido "eticamente" e "moralmente" de conceder licença ambiental para a pavimentação da BR-319 e a construção de hidrelétricas no Rio Araguaia, ações prioritárias do programa de infraestrutura.

Assessores do governo avaliam que o tom das críticas de Minc reacendeu o interesse pela solenidade ao pôr em xeque até mesmo os "bem elaborados" selos de classificação do andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento.

No último levantamento do PAC, em fevereiro, as obras da BR-319 ganharam selo verde, por estarem em situação adequada, na avaliação dos técnicos. Mesmo que a decisão de Minc em negar a licença ainda não tenha reflexo no cronograma das obras, o selo verde no balanço da semana que vem perde importância diante das dúvidas e temores de investidores, segundo assessores presidenciais.

Minc ainda afirmou que não pretende dar licença ambiental para a construção da Hidrelétrica de Santa Isabel, no Rio Araguaia, entre o sul do Pará e o norte do Tocantins. A obra está prevista no PAC, mas não foi citada no caderno do balanço de dois anos do programa, divulgado em fevereiro.

As declarações do ministro contra essa a obra, que já foi licitada, esquentaram uma antiga luta de entidades ambientalistas a favor da preservação do rio que corta os Estados de Goiás e do Tocantins até desaguar no Pará. A polêmica levantada pelo ministro do Meio Ambiente também colocou em xeque a real situação das obras da Hidrelétrica de Jirau, avaliada com selos verdes nas últimas duas edições do balanço do PAC.

Na quinta-feira, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou, numa audiência concedida a Minc, que a licença não tinha saído, como estava previsto. O ministro jogou a culpa no governador de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido). Minc, avaliam assessores do Planalto, vai tirar até o brilho da oposição, que nos últimos balanços propagou que o governo só consegue repassar 11% dos recursos previstos em investimentos.

Além de Dilma, participam do anúncio do balanço do PAC os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo. A previsão é de que neste fim de semana o levantamento da situação das obras seja encerrado, com a elaboração de um caderno com informações atualizadas de uma série de ações do governo nas áreas de energia, transportes e infraestrutura social e urbana.

Um comentário:

  1. O Bagre e a Perereca atrapalham mas também ajudam.
    Esse bate-boca público serve para indicar duas coisas: primeiro a posição subalterna que a temática ambiental ocupa no governo Lula. Poderia ir mais longe, em alguns momentos o meio ambiente é apresentado pelo próprio Lula como obstáculo para a epopéia desenvolvimentista do governo. Dado momento, apelando para as simplificações, culpa o bagre e a perereca. Essa posição e as ambigüidades já haviam derrubado a Marina Silva. Mas o Minc não é dado a martírio.
    O segunda indicação desse bate boca tem haver com o pragmatismo do Minc. Com uma vida parlamentar sólida e com um eleitorado cativo e sensível a incoerências e posições fisiológicas esse enfrentamento aberto tem como benefício imediato a comunhão com sua base eleitoral. Pode estar preparando uma saída honrosa que pode incompatibilizá-lo com Lula e o PT, mas dificilmente prejudica suas pretensões eleitorais. Na vida pública do Ministro ele sempre foi mais efetivo da tribuna do parlamento do que tem sido ocupando cargos no executivo.
    Além disso, o quadro eleitoral no RJ pode exigir do Minc uma posição, a exemplo do ele já fez na eleição municipal, mais distanciada da chapa governista, principalmente se um dos candidatos oposicionistas ao governo do estado for o Gabeira. Assim a perereca e o bagre que na visão do Lula, em seus rompantes de Odorico Paraguaçu, atravancam o desenvolvimento do país, para o habitat eleitoral do Minc é pura salvação.
    No final das contas meio-ambiente, desenvolvimentos sustentável, redução, reaproveitamento, reciclagem, bagres e perecas vão continuar marginalizados nas políticas do governo federal. Hoje, longe de serem eixos das políticas essas palavras são palavrões impronunciáveis dentro da coalizão de governo e, principalmente, nos gabinetes e entre a brocracia de Brasília.

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