quinta-feira, 28 de maio de 2009

Mixuruca por aqui, esquisito por lá

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Melhoria no crédito em abril foi bem modesta no Brasil; nos EUA, mercado começa a elevar juros de longo prazo

FOI BEM MIXURUCA a alardeada recuperação no crédito em abril. Houve novidade interessante apenas no aumento dos empréstimos para pessoas físicas.

O total de dinheiro emprestado no país cresceu 0,45% sobre março, bem menos da metade do avanço de fevereiro para março -no decerto excepcional ano de 2008, o crédito crescia a 2,3% ao mês.

Caiu o volume de empréstimos novos para as empresas. Bancos estatais continuam a responder por 80% do aumento do estoque de crédito (e por 78% do incremento do estoque de crédito para o setor privado). Antes da crise, de janeiro a setembro de 2008, a fatia dos estatais era de 34%. Note-se que o novo peso dos estatais não se deve a uma atuação incrementada do BNDES.

Quanto a juros e a "spreads", houve melhora, em termos. Os juros médios caíram porque caiu o custo médio do dinheiro para os bancos. No caso do crédito para as empresas, o "spread" até aumentou um pouco.

O estoque de empréstimos em abril ainda era 22% superior ao de abril de 2008. Dado o colapso mundial do crédito, está muito bem. Mas, se continuarmos no ritmo mixuruca verificado de janeiro a abril, o crédito terá crescido apenas uns 3% no final do ano. Menos do que a inflação. Os bancões dizem que o crescimento será de 10% a 15%. A ver.

Enquanto isso, nos EUA...

A diferença de rendimento ("juros") entre papéis de curto e longo prazo do Tesouro americano continua a aumentar (trata-se de papéis de dois e de dez anos). Note-se que essas taxas são definidas no mercado secundário, de acordo com a alta ou a baixa do interesse dos investidores por tais títulos. Quando vendem, o preço deles cai, o rendimento ("juros") sobe. Grosso modo, em suma, os investidores se livram de títulos mais longos, coisa que começou a ocorrer a partir de meados de abril. Agora, a taxa de títulos de dez anos está, na praça, no nível mais alto desde novembro de 2008.

Foi em abril que os economistas de Barack Obama passaram a conversa de que os bancões dos EUA não estariam tão quebrados quanto se pensava e que não haveria mais estatizações. A campanha do governo Obama colou e ajudou os investidores a perder o medo de riscos. Agora, querem ganhar algum, pois papéis do governo americano não rendem nada. De resto, o mercado teme a inundação de papéis do cada vez mais endividado governo americano. Tudo isso, enfim, ajuda a derrubar o dólar (investidores saem dos títulos em dólar e aplicam alhures -como no Brasil).

Mas os "juros longos" continuaram a subir, o que influencia outras taxas do mercado, como a de financiamentos imobiliários (o que ajudou a azedar o mercado, ontem). Isto é, os juros de longo prazo sobem enquanto o banco central dos EUA, o Fed, quer mantê-los ao rés do chão, pois a recessão ainda vai longe, apesar da propaganda.

Não é uma tragédia. O Fed havia conseguido baixar bem o custo do financiamento imobiliário, que nos últimos dias subiu ainda pouco. O Fed pode voltar ao mercado e comprar papéis, a fim de manter os juros no chão. Mas o povo que aposta dinheiro nessas coisas anda alarmado. Os nativos estão inquietos.

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