sexta-feira, 22 de maio de 2009

Não há o que segure

Celso Ming
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A valorização do real é inevitável. O Banco Central (BC) seguirá na sua política de compra de dólares, como continuará negando que a intervenção tenha por objetivo segurar as cotações no câmbio.

O Banco Central amontoará ainda mais reservas e não conseguirá reverter a tendência, porque ela é firme. Os dólares chegarão ao País, como já vem acontecendo, de muitas formas: Investimentos Estrangeiros Diretos (IED); aplicações no mercado de ações; inversões no mercado de renda fixa; financiamentos a empresas brasileiras. Ou, em vez de entrar, não irão embora como ocorreu nas crises do passado.

Chegará o dia (e o volume) em que não valerá a pena seguir estocando reservas, especialmente na paisagem de incerteza sobre o futuro do dólar. E bem antes será preciso saber lidar com a abundância de moeda estrangeira.

Há as propostas simplesmente reativas e as que sugerem forte mudança na política econômica adotada. Entre as reativas estão as de sempre: controlar a entrada de capitais; limitar aplicações de estrangeiros em Bolsa; derrubar fortemente os juros.

Barrar a entrada de capitais em pleno processo de globalização não parece fazer sentido. O governo precisa de recursos para o PAC; a Petrobrás necessita de centenas de bilhões de dólares para o pré-sal; as empresas brasileiras terão de abastecer-se de crédito externo. Aplicações de estrangeiros em ações de empresas brasileiras podem ser feitas na Bolsa de Nova York e cerceá-las por aqui não tem cabimento num momento em que as empresas brasileiras se preparam para fazer lançamentos públicos de ações para se capitalizar.

A ideia de flexibilizar, digamos assim, as regras do sistema de metas de inflação e derrubar impiedosamente os juros faria parte de uma proposta de nova política econômica, que lembra o atual modelo argentino. Trata-se de uma espécie de movimento de desvalorização forçada do real.

Consiste em levar o BC a comprar dólares com reais e, em vez de retirá-los por meio de emissão de títulos, deixá-los no mercado. Os juros cairiam em consequência da abundância de recursos na economia. Quem defende essa posição - e entre estes parece estar o governador paulista, José Serra - dá um salto no escuro quando chega a esse ponto. Reais em excesso que proviessem do pagamento pela compra de dólares produziriam inflação.

O que fazer com ela? Defensores da posição de um câmbio desvalorizado, como o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, não aceitam a conclusão. Dizem que não haverá inflação e, se houver, será preferível à forte valorização do real.

Na Argentina, onde esse modelo está em vigor, as estatísticas são descaradamente manipuladas para esconder a inflação. É uma situação que parece insustentável. Investimentos estão sumindo, há desabastecimento, a população compra dólares, a economia está malparada e o produtor argentino vai perdendo competitividade do mesmo jeito.

Se não é por aí, também não está claro por onde será. Não há resposta pronta para a tendência de forte valorização do real.

Um ajuste terá de vir. Se a carga tributária paga pelo produtor caísse na mesma proporção em que cai o dólar, a capacidade de resistência do produtor seria muito melhor. Mas o governo só pensa naquilo...

Confira

Mal das pernas - Ontem, a Standard & Poor?s, uma das mais importantes agências de classificação de risco, avisou que os títulos de dívida da Inglaterra podem ser rebaixados.

Isso significa que o rombo fiscal da Inglaterra ameaça sua capacidade de pagar dívidas. O problema é que a maioria dos países ricos está na mesma situação: Estados Unidos, Japão, Espanha, Itália...

Boa parte da baixa do dólar no câmbio internacional aconteceu porque crescem as dúvidas sobre a capacidade de a economia americana honrar seus compromissos. Essas dúvidas tendem a aumentar mais.

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