domingo, 10 de maio de 2009

Nos Estados, negociações cada vez mais difíceis

Christiane Samarco
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Nas contas da direção do PMDB, parceria com PT só está fechada no Ceará, Amazonas e Piauí

Pioram a cada dia as negociações para uma aliança entre PT e PMDB Brasil afora. A dúvida que paira sobre a candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff, desde que ela revelou que está se tratando de um câncer, atiçou as disputas regionais entre os dois partidos, que já vinham se engalfinhando nos Estados. A ala governista do PMDB e o grupo afinado com o PSDB do governador paulista José Serra partilham até da mesma avaliação - hoje, 85% das bases e dos caciques estaduais que comandam os votos de uma convenção nacional rejeitam a aliança com o PT do presidente Lula em 2010, independentemente do futuro da candidatura de Dilma.

No embalo das lutas locais e com o aval do tucanato, o presidente do PMDB paulista e ex-governador Orestes Quércia começou uma ofensiva para estreitar os laços e reforçar o diálogo com o PSDB. No Distrito Federal, onde esteve cumprindo missão de Serra há duas semanas, o objetivo foi impedir "qualquer acerto prematuro" do ex-governador Joaquim Roriz com o PT. Diante da corte do tucanato, o deputado Eliseu Padilha (PMDB-ES) faz uma advertência. "Quem tem a maior representação no Congresso e a maior estrutura partidária nos Estados não deve admitir nenhum projeto de poder em que seja periférico."

Depois de renunciar ao mandato de senador em 2007 sob denúncias de corrupção, Roriz quer voltar ao governo. Acossados pela força eleitoral do governador do DEM, José Roberto Arruda, que já conta com o apoio informal do PMDB de Brasília, setores do PT movimentam-se para compor com Roriz - foi isso que Quércia combateu.

Como presidente da Fundação Ulysses Guimarães de estudos e pesquisas do partido, Padilha coordena a realização de congressos estaduais em todo o Brasil até o fim deste mês e promoverá um congresso nacional para debater o plano de governo do PMDB em 2010. O objetivo é criar um palco nacional para transmitir um recado objetivo aos candidatos à sucessão de Lula: o PMDB avalia que sempre entregou "muito barato" sua estrutura de maior partido do Brasil e, no ano que vem, vai exigir "preço justo" de quem quiser sua ajuda para vencer a eleição e garantir a governabilidade no day after.

"Teremos nosso próprio plano de governo e estaremos capacitados a entrar na disputa presidencial como protagonistas, seja com candidatura própria ou numa aliança", diz Padilha. Entende-se por "protagonismo" a indicação do vice e algo em torno da metade do ministério do futuro governo.

A ofensiva de Quércia preocupa a cúpula governista, que já levou um quadro pessimista ao presidente Lula. Nas contas da direção do partido, PT e PMDB só estão fechados em três Estados: Ceará, Amazonas e Piauí.

"O Serra está vendo essas questões estaduais e está trabalhando", advertiu Henrique Alves na conversa que teve com Lula, ao lado do presidente da Câmara, Michel Temer (SP).

"Se Serra que é de oposição está fazendo isto, é hora de acelerarmos o passo para tentar acertar as divergências que estão se avolumando", propuseram Temer e Alves. Além de Estados onde a rivalidade entre PT e PMDB é histórica, como no Rio Grande do Sul, os dois partidos também estão brigando no Paraná, Santa Catarina, Minas, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e São Paulo, onde é Quércia, e não Temer, quem controla a máquina partidária. Em Alagoas, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, é velho parceiro do governador tucano Teotônio Vilela.

Até em Estados onde a aliança era dada como certa, a situação se inverteu. No Pará, a governadora Ana Júlia Carepa (PT) anda às turras com o deputado Jader Barbalho (PMDB).

"Lula, como líder maior do PT, tem que cuidar disso imediatamente", sugere Alves.

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