sexta-feira, 15 de maio de 2009

PMDB só negocia com Lula

Daniel Pereira e Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Partido reclama do jogo de cena do PT, que não quer avançar nos acordos regionais para turbinar a candidatura de Dilma Rousseff . “A situação é grave”, alerta o líder dos peemedebistas na Câmara

Caciques do PMDB querem suspender as conversas com líderes do PT sobre a possibilidade de apoio à candidatura presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Os peemedebistas afirmam que as negociações com os petistas não avançam. Pior do que isso: em vez de aumentar a chance de acordos regionais, têm acirrado as disputas estaduais entre as duas siglas, afastando a maior legenda do país da coligação a ser encabeçada pela “mãe do PAC”. Segundo o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), o partido só voltará a discutir uma aliança nacional se for com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um pedido de audiência será apresentado na próxima semana. A ideia é que o encontro seja realizado tão logo Lula volte de uma viagem à Arábia Saudita, China e Turquia. O retorno está previsto para o próximo dia 23. “O presidente tem a maior boa vontade com o PMDB nos estados, mas é preciso que ele adote uma postura mais enérgica com relação ao PT. Se os petistas priorizam a candidatura nacional, a base do PMDB é a força regional. Precisamos coordenar os interesses”, diz Alves. Por determinação de Lula, a direção nacional do PT aprovou uma resolução segundo a qual as alianças estaduais têm de se sujeitar ao projeto de eleger Dilma presidente da República.

No início da semana, o presidente petista, Ricardo Berzoini (SP), e o líder da bancada na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), se encontraram com Alves e o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), a fim de relatar a decisão. Com a iniciativa, tentaram mostrar boa vontade para o debate. O problema, alegam os peemedebistas, é que os atos contrariam o discurso. Brasil afora, os petistas estariam em pé de guerra com os peemedebistas em grandes colégios eleitorais. “A situação é grave. Os atritos explodiram. Temos de atuar como bombeiros imediatamente. O caminho da unidade é o Lula”, afirma Alves.

Adversários

Na conversa com o presidente, os peemedebistas mostrarão um cenário conflagrado. Para pressioná-lo a intervir em diretórios estaduais do PT, dirão que as quedas de braço mais acirradas são travadas por petistas com quadros do PMDB que têm bom trânsito no PSDB, os quais não teriam dificuldades para aderir a uma candidatura presidencial tucana. Cotado para vice de Dilma, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, por exemplo, está cada dia mais próximo de disputar o governo da Bahia com o petista Jaques Wagner, que tentará a reeleição. Lula quer evitar o confronto. Defende ambos na mesma coligação, com o ministro no páreo pelo Senado.

Em Minas Gerais, o PMDB pressiona para o PT apoiar a candidatura ao governo do ministro das Comunicações, Hélio Costa. Aos petistas, caberia a vice e o direito de concorrer a uma vaga no Senado. O plano é tema de conversas frequentes entre Costa, o vice-presidente José Alencar (PRB) e os ministros petistas Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência da República) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) — este também é pré-candidato ao governo. Apesar da negociação em curso, peemedebistas reclamam do fato de o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), que também sonha suceder Aécio Neves (PSDB), adotar como tática ataques ao ministro das Comunicações.

Esforço

No Pará, o deputado federal Jader Barbalho, cacique peemedebista afinado com Lula, pretende lançar o filho Helder ao governo estadual. Prefeito de Ananindeua, Helder enfrentaria a petista Ana Júlia Carepa, eleita governadora em 2006 com a ajuda de Jader. “Conversei com o Geddel na semana passada. Falamos com o PMDB todo o dia”, diz Vaccarezza, num esforço para negar ruído na negociação. Por enquanto, petistas e governistas mantêm um discurso otimista sobre o fechamento de acordo entre as duas siglas em torno da candidatura de Dilma.

Um ministro próximo a Lula, por exemplo, afirma que o PMDB aprendeu, nas eleições municipais, que é vantajoso rumar junto com o presidente. No ano passado, a legenda conquistou 1,2 mil prefeituras. Outra análise corrente diz que os peemedebistas estão fazendo o que já era esperado: valorizando o próprio passe, a fim de vender caro uma aliança em 2010. A suposta falta de empenho do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para impedir a CPI da Petrobras também seria prova disso.

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