sexta-feira, 29 de maio de 2009

Polícia chilena prende assassino de Victor Jara

AFP, Santiago
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Militar confessa ser um dos que fuzilaram músico após golpe de 73

A policia chilena prendeu na terça-feira a noite o militar JoseAdolfo Paredes Marquez, de 54 anos, que confessou ter participado,em 1973, do assassinato do cantor e compositor chilenoVictor Jara, fuzilado com 44 tiros em um estádio convertidoem campo de prisioneiros políticos, em Santiago. A execuçãoocorreu cinco dias depois do golpe de Estado que levou AugustoPinochet ao poder (1973-1990) e marcou um dos períodos maisViolentos da história política recente do Chile.

Paredes confessou a Justiça ser um dos soldados que fuzilaramo musico - que tinha 40 anos e equivalia na cultura popularchilena a artistas como o brasileiro Chico Buarque ou aargentina Mercedes Sosa, pelo engajamento político e oposiçãoa governos militares.

O militar tinha 18 anos quando recebeu ordens de um superiorpara disparar contra Jara, mas se negou a assumir a culpasozinho. ''Procurem os comandantes'', disse ele enquanto eralevado pela policia. ''Eu era só um soldado raso.''

A viúva de Jara, a inglesa Joan Turner, que ha anos fazcampanha contra a impunidade dos envolvidos no crime, voltoua cobrar das autoridades a busca pelos responsáveis.''Quero que cheguem aos verdadeiros culpados. Não me parece que um jovem de 18 anos possa ter toda culpa'', disse ela.

ATROCIDADES

Depois do golpe de 11 de setembro de 1973 e da morte do ex-presidente chileno Salvador Allende - que se suicidou no palácio presidencial quando estava sob ataque aéreo das forcas comandadas por Pinochet -, mais de 600 estudantes e professores se rebelaram na Universidade Técnica do Estado, em Santiago.

Entre eles estava Jara, que também era professor. Os militares invadiram o local e levaram os amotinados ao Estádio Chile, renomeado Estádio Victor Jara, em homenagem ao musico.Segundo Paredes, um tenente do Exército ''começou a brincar de roleta-russa com seu revolver apoiado contra a cabeça do músico. Assim saiu o primeiro disparo''.

O tenente ordenou, segundo Paredes, que os soldados descarregassem seus fuzis contra o corpo de Jara. Além do artista, outras 14 pessoas foram mortas da mesma forma, segundo o militar detido.

O relato de Paredes coincide com testemunhos dados no passado por outros prisioneiros políticos que também estavam no local.

Segundo ele, antes da execução, Jara foi levado aos vestiários do estádio onde foi torturado.

Paredes contou que soldados fraturaram as duas mãos do musico, usando a culatra de um fuzil como pilão. A técnica era usada pelos militares como exemplo de punição aos opositores.

Músico inspirou resistência a regime de Pinochet

O cantor, compositor e poeta chileno Victor Jara foi torturado e morto no dia 16 de setembro de 1973, apenas cinco dias depois do golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende.

As musicas e textos de Jara serviram de símbolo para parte da geração de chilenos que enfrentou a repressão. A ditadura que se seguiu, comandada pelo general Augusto Pinochet, deixou mais de 3mil mortos em 16 anos.

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