sexta-feira, 29 de maio de 2009

PT e PMDB em rota de colisão

Izabelle Torres e Marcelo Rocha
DEU NO ESTADO DE MINAS

ELEIÇÕES
Peemedebista apresenta proposta de 3º mandato para Lula e incomoda governistas. PEC só não vai tramitar em função da ação da oposição, que retirou as assinaturas de apoio

Brasília – Apesar de fracassada a tentativa do deputado Jackson Barreto (PDMB-SE) de apresentar ontem a proposta de emenda constitucional (PEC) que permitiria aos chefes do Executivo duas reeleições consecutivas, a matéria acirrou os desentenidmentos entre os aliados do Palácio de Planalto. Costurada nos bastidores do PMDB, ela recebeu críticas de todos os lados, inclusive de governistas. Os integrantes do PT acreditam que a proposta foi uma afronta aos planos do partido de fortalecer a candidatura da ministra Dilma Rousseff e pode desgastar a imagem do governo.


Para forçar o governo a pensar em um plano alternativo à ministra Dilma Rousseff na disputa presidencial de 2010, o deputado Jackson Barreto colocou em prática a decisão costurada nos bastidores do seu partido. Como antecipou o Estado de Minas, o parlamentar apresentou ontem a PEC do terceiro mandato. A matéria só não foi para frente em função da reação da oposição.

A PEC tinha a adesão de deputados do PSDB e do DEM. A oposição agiu rápido para barrar a matéria. O PSDB foi radical. O presidente da legenda, Sérgio Guerra (PE), anunciou a intenção de expulsar os que assinaram a proposta e disparou telefonemas pedindo a retirada das assinaturas. Conseguiu. Antonio Feijão (AP), Alberto Leréia (GO), Eduardo Barbosa (MG), Rogério Marinho (RN) e Silvio Torres (SP) desistiram de apoiar a matéria.

No DEM, o presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que os 10 deputados que assinaram o requerimento de apoio à matéria não sofreriam sanções, mas conseguiu que pelo menos oito desistissem do apoio. O resultado da operação foi que a PEC ficou sem número suficiente para tramitar e ser apreciada.

Divergências A tentativa do PMDB já havia sido criticada por todos os lados, inclusive, pelos governistas. Mas, as motivações, segundo admitiram peemedebistas simpáticos à ideia, eram menos audaciosas. O que pretendiam alguns dos integrantes da maior legenda do país era simplesmente forçar o governo a pensar em um plano B para a eleição do próximo ano, caso a saúde de Dilma Rousseff – que tem se submetido a sessões de quimioterapia para combater um câncer linfático – não permita que ela enfrente uma campanha eleitoral. O PMDB não pretende arriscar enfrentar uma aliança com riscos de derrota. "Tem muita gente que apoia a minha proposta. Acho que isso é uma homenagem ao governo Lula. Temos que ter alternativas e dar às pessoas possibilidades de escolher e opinar se querem continuar como está", disse Barreto, antes da proposta ser derrubada.

Apesar de, internamente, a maioria dos peemedebistas apoiar a proposta de terceiro mandato, o líder da legenda, Henrique Eduardo Alves (RN) disse ontem que se o Lula era contrário à matéria, não havia o que ser feito para avançar na ideia. O líder, a propósito, incentivou Jackson Barreto a apresentar a proposta. Até o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), já confessou a aliados que se preocupa com a falta de um plano alternativo do PT à candidatura da ministra Dilma.

O discurso dos dois peemedebistas é uma tentativa de, pelo menos publicamente, se afinar com o governo. Integrantes do PT criticaram a apresentação da proposta, alegando que a discussão sobre um novo mandato para o presidente Lula enfraquece a candidatura da ministra Dilma. O líder da legenda, Cândido Vacarezza (SP), disse não entender os motivos da insistência na ideia, já que até o presidente Lula já se declarou contrário à possibilidade de permanecer no comando do país. Em resposta, Barreto deu o tom do clima tenso vivido entre integrantes das duas legendas: "Acho que os petistas estão com pouca confiança na nossa disposição de formalizar essa aliança. Essa desconfiança de que a ideia do meu projeto tem outros interesses reflete uma falta de afinação que não deveria existir", disse.

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