sexta-feira, 8 de maio de 2009

Reforma a toque de caixa

Fernando Gabeira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

RIO DE JANEIRO - Impulsionada pela crise, recomeçou a discussão sobre reforma política. Dois temas se destacam e parecem encantar a maioria. Um deles é financiamento público de campanha; outro é o voto em lista fechada.

Tenho muitas dúvidas sobre os dois. As eleições de 2008 custaram um pouco mais de R$ 1,5 bilhão. Isto sem contar os R$ 190 milhões de programa gratuito. Eleições nacionais vão rondar os R$ 2 bilhões. Será que os eleitores aceitam? Financiamento público é tido como antídoto à corrupção. Mas na Alemanha de Helmut Kohl houve escândalo mesmo com financiamento público. Nos EUA, Obama dispensou dinheiro público e usou pequenas doações via internet.

Voto em lista fechada pode também afastar mais os eleitores. No Brasil, querem votar nos nomes. Pelo menos é isso o que dizem todas as pesquisas. O domínio da lista pelas burocracias partidárias pode ser entendido como uma recusa da escolha do indivíduo.

Portanto, para ser sintético, os dois pontos básicos da reforma foram feitos para aproximar a população do voto. Temo que alcancem o efeito contrário. E, caso derrotado nos debates, restará torcer para que os autores tenham razão a longo prazo. Estaremos todos mortos. Daí a importância de tentar algo melhor, para aqui e agora.

O único grande mérito da iniciativa é trazer horizonte para uma situação que parece desesperadora. Acontece que sair de uma crise com uma reforma repelida pelos eleitores pode nos jogar numa próxima crise. O fim do foro especial para crimes comuns não está entre os temas escolhidos. No entanto, pode depurar melhor as eleições do que listas partidárias.

A ampliação do debate, certamente, vai ampliar as chances de acerto. Até o momento, falou a chamada sociedade organizada. Falta muita gente nesse baile.

Nenhum comentário:

Postar um comentário