sábado, 6 de junho de 2009

Collor e Dilma se aproximam

Ana Maria Campos
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Quase vinte anos depois do confronto eleitoral entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, ex-presidente é tratado como aliado pelo atual governo e mantém conversas com ministra

O ano era 1989. O programa de televisão do então candidato à Presidência da República Fernando Collor de Mello desestabilizou a campanha adversária ao exibir um depoimento da ex-namorada de Luiz Inácio Lula da Silva, Miriam Cordeiro, mãe de Lurian, a filha mais velha do petista. Considerado uma das maiores baixarias eleitorais, o pronunciamento denunciava uma proposta de aborto, nunca confirmada. Lula ficou tão abalado que foi ao último debate do segundo turno com Collor fragilizado a ponto de não ter resposta para a provocação de que teria um sofisticado aparelho de som importado.

Vinte anos depois, o hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) é tratado como um aliado do governo Lula e também tem se comportado como integrante da base. Na última quarta-feira, durante apresentação do balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Itamaraty, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, fez questão de prestigiar o petebista, presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, com um cumprimento especial. Ele retribuiu com um gesto de gentileza, abaixando a cabeça em sinal de reverência. Collor recebeu também um aperto de mão dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo.

Esse foi o segundo encontro do ex-inimigo de Lula com Dilma em menos de um mês. Na semana passada, o ex-presidente da República esteve com a ministra numa reunião que durou mais de uma hora. O assunto era o depoimento da petista marcado por Collor na Comissão de Infraestrutura para discutir as obras do PAC. Ele prometeu uma “análise construtiva” do programa que é a menina dos olhos da ministra. “Ele (Collor) é um aliado do governo”, garante o líder do PTB no Senado, Gim Argello (DF). “Foi indicado para integrar a CPI da Petrobras porque entende a responsabilidade que temos de preservar a empresa”, acrescenta o petebista. O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), considera a aproximação natural. “O PTB é aliado do governo Lula na Câmara e no Senado. A postura do ex-presidente Collor é harmônica com a postura do partido”, analisa Jovair.

Entre petebistas, não se descarta até mesmo uma candidatura de Collor à Presidência da República. O senador petebista também cogita disputar o governo de Alagoas, mas, como tem mandato assegurado no Senado até 2015, poderia se aventurar numa nova experiência nacional. A avaliação entre petebistas é de que Collor poderia atrapalhar a performance do tucano José Serra em São Paulo e, indiretamente, ajudar Dilma. No estado onde o tucano tem mais força política, Collor teve votação expressiva. Em 1989, derrotou Lula na principal base eleitoral petista. Isso, no entanto, aconteceu antes das denúncias que marcaram seu governo e levaram ao impeachment em 1992.

MemóriaDerrocada em 1992

Três petistas tiveram papel fundamental na CPI do PC Farias que resultou numa onda de escândalos até a derrocada do então presidente da República, em 1992. José Dirceu, Aloizio Mercadante e Eduardo Suplicy foram destaque na investigação sobre o esquema de tráfico de influência, caixa 2 e corrupção montado no governo do presidente Fernando Collor de Mello.

O relatório final da CPI apontou a existência de uma série de contas fantasmas usadas para transferência de recursos arrecadados com pagamento de propina e desvio dos cofres públicos para as contas da secretária de Collor, Ana Accioly. Segundo a investigação, o dinheiro era usado para bancar as despesas da Casa da Dinda, a residência oficial, e da primeira-dama, Rosane Collor. Essas denúncias motivaram a população a sair às ruas com o rosto pintado para pedir a saída do presidente da República. Foi um movimento, que teve expressivo apoio de integrantes do PT, e tomou o país com palavras de ordem como “Fora Collor” e “Impeachment Já”.

Em setembro de 1992, a Câmara dos Deputados aprovou por 441 votos favoráveis, 38 contrários, 23 ausências e uma abstenção, a abertura de processo de impeachment contra Collor. Ele foi afastado da Presidência. Em dezembro, Collor renunciou ao mandato. Mesmo assim, teve os direitos políticos suspensos por oito anos. Em 2000, ele ainda tentou concorrer à prefeitura de São Paulo, mas a Justiça Eleitoral negou o registro de sua candidatura. (AMC)

Contra o 3º mandato

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a dizer ontem que não apoia a proposta de criação do terceiro mandato. “Não preciso mudar de opinião (sobre o terceiro mandato) porque tenho uma posição definitiva. Acho que o Brasil tem pouco tempo de democracia e alternância de poder é importante. E eu já fui presidente por oito anos”, disse ele, após participar de cerimônia de comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente em Caravelas, na Bahia.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, também reafirmou ontem ser contrário à adoção de um terceiro mandato para o cargo de presidente da República. “Isso dificilmente se compatibiliza com o princípio democrático e republicano”, comentou.

A proposta de emenda à Constituição que prevê o terceiro mandato foi reapresentada na quinta-feira à noite pelo deputado Jackson Barreto (PMDB-SE), com 182 assinaturas, sendo que seis foram retiradas até a meia-noite. Com a confirmação de 176 assinaturas, cinco a mais do que o mínimo necessário (171), a proposta começa a tramitar na Câmara. Será encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania que analisará sua admissibilidade.

O líder do DEM na Câmara, deputado Ronaldo Caiado (GO), não aceitou a decisão do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), de permitir a reciclagem de assinaturas e recorreu à CCJ. Na quinta-feira, em plenário, Temer indeferiu o pedido de Caiado para arquivar a primeira proposta de emenda constitucional encaminhada pelo deputado Jackson Barreto (PMDB-SE), alegando que ela havia sido rejeitada por insuficiência de assinaturas. Temer respondeu que é comum o deputado poder colher novamente assinaturas.

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