terça-feira, 30 de junho de 2009

Entre o governo e a campanha eleitoral

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Com exceção de Itamar Franco, todos os governos civis desde José Sarney perderam gás na reta final do(s) mandato(s). Itamar e seu candidato Fernando Henrique Cardoso estavam em lua-de-mel com o Plano Real, que completa amanhã 15 anos. A um ano e meio de encerrar sua estadia no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trafega por índices de popularidade inéditos, mas setores do PT já identificam sinais de paralisia típicos de final do governo.

Os mais preocupados não hesitam em afirmar, talvez com certo exagero, que o governo está parado e que os únicos setores funcionando são o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que periodicamente envia uma proposta de renúncia e isenção fiscal para o Ministério da Fazenda, e os burocratas da Fazenda, que se encarregam de arredondar os pedidos. E é só.

Renúncia e isenção. Nada mais estaria funcionando segundo visitantes habituais dos ministérios.
Antes havia uma Casa Civil a todo vapor. O governo tomava a iniciativa e coordenava todos os atos. A situação mudou com o engajamento maior da ministra Dilma Rousseff em sua campanha eleitoral e o tratamento de saúde ao qual teve de se submeter. Em resumo, só Guido Mantega (Fazenda) é quem aparece para anunciar medidas classificadas de anticíclicas, mas de evidente motivação eleitoral, e sempre com o deslumbramento de quem acha que se sai melhor em relação à crise, comparado a outros emergentes (sem esconder uma ponta de disputa com Henrique Meirelles, do BC).

Há também apreensão no PT com a avaliação de que o presidente está de salto alto, embevecido com o apoio e os aplausos internacionais. É o cara. Deixa assim o governo correr solto, o que pode levar o quadro atual - que é favorável politicamente, na avaliação petista - a degringolar até a eleição presidencial de 2010. São 18 os ministros pré-candidatos à eleição de 2010.

É possível que o PT, vendo se tornar real a chance de manter o poder, se preocupe em excesso.

É verdade, no entanto, que governar dá trabalho, e hoje o que Lula aparenta gostar mesmo é de fazer campanha. Alguns dos pilares do governo petista para a eleição do próximo ano estão evidentemente com o cronograma atrasado; outros parecem ter erros de concepção. O que preocupa é a execução do PAC, que deveria ser prioritário para sustentar a campanha da ministra.

Um exemplo são as obras de revitalização e transposição do Rio São Francisco, que poderiam ter sido feitam por trechos, mas que o governo resolveu tocar tudo de uma vez e começou sem o projeto executivo indispensável para sua segurança. A transposição propriamente dita é tocada às pressas a fim de assegurar a inauguração até as eleições. Já a revitalização, que muitos críticos considera pré-condição para a transposição, caminha lentamente.

Cálculos de empreiteiros e governadores dão conta que nem 2% das obras do DNIT estão efetivamente andando.

A apreensão petista encontra correspondência na oposição, atenta ao desenvolvimento das obras. Um projeto sob minuciosa análise é o "Minha Casa, Minha Vida", que o PSDB chama de "estirolena eleitoral" - seria inviável nos grandes centros urbanos e a conta ficará para o novo governo.

Em São Paulo, para dar como exemplo a maior cidade do país, o sistema de cadastramento das subprefeituras chegou a entrar em colapso, nos primeiros dias após o anúncio do programa. Todo mundo queria a "casa do Lula". Mas a realidade paulistana é que nem 1% dos pedidos poderá ser atendido. Não há terrenos próximos. E a oposição não tem dúvidas: culpa, na eleição, será atribuída às prefeituras, como já ocorreria com o PAC.

O problema básico na grande São Paulo não é casa nova. É urbanizar a favela, porque a necessidade das pessoas é morar próximo ao local de trabalho. Existe a promessa de que será realizada infraestrutura, mas os precedentes históricos não são dos mais animadores: estação de tratamento, escola, centro de saúde fica tudo depois para o Estado. É só olhar para Cidade Tiradentes.

Um amigo de Dilma, porém, destaca: pode ter havido queda, mas o governo está mais de 50% ativo; a saída de cerca de 18 ministros podem ser uma vantagem - muitos teriam uma bola de chumbo no pé -, o comércio varejista se expandiu, as finanças estão equilibradas. "Estamos muito melhor do que qualquer outro momento de nossa curta experiência democrática".

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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