terça-feira, 2 de junho de 2009

GM, agora, é estatal

Gilberto Scofield Jr.
DEU EM O GLOBO

O DECLÍNIO DO ÍCONE

Maior montadora dos EUA pede concordata e recebe US$30 bi do governo, que terá 60% do capital

Maior montadora americana e segunda maior do mundo, a General Motors (GM) entrou ontem com um pedido de concordada no Tribunal de Falências do Distrito Sul de Nova York, alegando um desequilíbrio entre os seus US$82,3 bilhões em ativos e uma dívida total de US$172,8 bilhões com 100 mil credores. A concordata da GM é a maior da história de uma indústria e a quarta maior dos EUA em termos de ativos, sendo ultrapassada pelos processos de Lehman Brothers, Washington Mutual e WorldCom. Sob proteção do Capítulo 11 da Lei de Falências americana - o equivalente à concordata (ou recuperação judicial, no Brasil) - a montadora recebeu uma injeção de US$30 bilhões do Departamento do Tesouro dos EUA (além dos US$19,8 bilhões já emprestados), que se transformarão em 60% de ações de controle da empresa reestruturada. Ou seja, a maior montadora americana, um ícone do capitalismo, é agora uma estatal.

Além disso, o governo do Canadá também entrará no plano de recuperação emprestando US$9,5 bilhões e ficando com 12,5%, enquanto o fundo de pensão do Union Auto Workers, o sindicato dos trabalhadores na indústria, ficará com 17,5%. Os 10% restantes ficarão com os detentores de bônus da dívida da montadora, com os quais a empresa fechou um acordo neste fim de semana e que permitirá que estes sócios aumentem suas fatias.

A GM - que no seu apogeu chegou a ter 54% do mercado americano, mas perdeu a liderança de 77 anos para a japonesa Toyota no ano passado - tentará agora fazer uma enorme reestruturação para reduzir sua dívida. O programa incluirá o fechamento de 14 fábricas (três temporariamente), três depósitos, a demissão de algo entre 18 mil e 20 mil funcionários nos EUA (do total de 244 mil no mundo), além da interrupção na fabricação de marcas pouco rentáveis, como a do jipe Hummer e o sedã Saturn (que devem ser vendidas), e a manutenção do foco em quatro marcas: Cadillac, Chevrolet, Buick e GMC.

- A GM e seus acionistas chegaram a um plano viável e executável que dará a esta companhia, um ícone americano, uma chance de nascer de novo - disse o presidente dos EUA, Barack Obama, que descreveu o governo como um "dono relutante" da montadora. - Nossa meta é botar a GM de novo de pé, dar apoio sem interferência gerencial e sair da empresa o mais rapidamente possível.

- Hoje marca um momento de definições na reinvenção da GM - disse o presidente da GM, Fritz Henderson. - A crise causou uma enorme ruptura na indústria automobilística.

A estatização da GM foi criticada pelos republicanos, que questionam o custo da operação aos contribuintes.

A montadora, que continuará tendo seu quartel-general em Detroit, diz que pretende anunciar uma nova companhia, reestruturada e enxuta, entre 60 e 90 dias, tempo que, espera-se, dure a concordata. As 47 fábricas caem para 33, mas ao menos uma das que foram temporariamente desativadas será reaberta para construir um novo carro menor e mais econômico, provavelmente flex, exigência de Obama para dar mais dinheiro à empresa.

Apesar do otimismo, os administradores da montadora terão muita batalha legal pela frente, tanto de acionistas insatisfeitos com a redução de suas participações quanto dos 1.100 donos de concessionárias GM que não se conformam de terem que fechar as portas em 18 meses e pretendem ir à Justiça. Tanto os recolhimentos para o fundo de pensão dos trabalhadores quanto benefícios de saúde serão mantidos, ainda que em novas bases, por exigência de Obama.

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