quarta-feira, 3 de junho de 2009

'Isso não pode virar um botequim deles'

Bernardo Mello Franco e Cristiane Jungblut
DEU EM O GLOBO

Oposição reage e boicota votações, impedindo análise de medidas provisórias

BRASÍLIA. De mãos atadas para desfazer o nó dado pela bancada governista, a oposição subiu o tom dos ataques e decidiu obstruir a pauta do Senado em protesto contra o adiamento da CPI da Petrobras. A radicalização do confronto foi anunciada pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que acusou petistas e peemedebistas de transformarem o Senado num "botequim para melar as investigações" contra a estatal. Ontem, a estratégia evitou a votação de medidas provisórias que impedem a aprovação de outros projetos na Casa.

- Se depender da gente, não se vota mais nada. Não podemos aceitar esse desrespeito ao Senado. Isso aqui não pode virar um botequim deles (dos governistas) - atacou o líder tucano.

Único oposicionista presente quando o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) declarou suspensa a primeira sessão da CPI, Antonio Carlos Magalhães Junior (DEM-BA) atribuiu a manobra às divergências entre o Palácio do Planalto e o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL).

- Isso é uma palhaçada, uma manobra de baixo nível. É inadmissível que a bancada governista se comporte desta maneira. Eles querem avacalhar a CPI no primeiro dia - atacou ACM Junior. - O governo quer ganhar tempo porque a sua base não consegue se entender.

- O que vamos assistir aqui hoje, amanhã e depois vai ser isso: ao esforço deliberado do governo de não investigar e de não abrir a caixa preta da Petrobras - emendou o senador Sérgio Guerra (PE), integrante da CPI e presidente do PSDB.

Autor do requerimento que deu origem à CPI, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) chegou a defender que a oposição abrisse os trabalhos simbolicamente, designando presidente e relator entre os três representantes da minoria. Ele admitiu que o gesto não teria efeitos práticos, mas tentou convencer os colegas de que criaria um fato político para constranger o governo. Dias também ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a instalação da CPI.

- Não há nenhuma força capaz de impedir que uma CPI seja instalada. Há jurisprudência formada no Supremo de que a CPI é um direito da minoria - disse.

Sequer caciques governistas estavam no plenário

A obstrução da oposição, aliada à total falta de empenho da bancada governista, impediu ontem a votação das medidas provisórias que trancam a pauta do Senado: a 458 (que trata da regularização fundiária na Amazônia), a 457 (sobre a renegociação de dívidas de prefeituras com o INSS) e a 459 (que cria o programa habitacional "Minha Casa, Minha Vida").

Nem os caciques governistas estavam no plenário, apesar do registro da presença de 61 senadores no placar eletrônico. Faltaram, entre outros, Renan e o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). Na semana passada, o governo foi derrotado e não conseguiu aprovar a MP 452, que perdeu a validade anteontem e tratava do Fundo Soberano e de obras em rodovias.

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