segunda-feira, 1 de junho de 2009

Líderes governistas desafinados

Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Aloizio Mercadante, do PT, e Renan Calheiros, do PMDB, seguem sem chegar a um consenso sobre os senadores que comandarão a CPI da Petrobras, prevista para começar amanhã no Senado

Os dois principais partidos da base do governo, PMDB e PT, às vésperas da instalação da CPI da Petrobras, prevista para amanhã, continuam se digladiando sobre a condução dos trabalhos da comissão de inquérito. O senador Paulo Duque (PMDB-RJ), por ser o mais velho integrante da mesma, aos 82 anos, presidirá a instalação. O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), foi percorrer as bases eleitorais no interior alagoano, onde prepara sua candidatura ao governo estadual. Mercadante, preocupado com a saúde do filho, só retomará as articulações na terça-feira. Foi isolado por Renan e corre atrás da relatoria da CPI das ONGs, ocupada pela oposição depois que indicou seu antigo relator, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), para a CPI da Petrobras, situação que tenta reverter.

No Palácio do Planalto, o nome de preferência para presidir a CPI seria Arruda, mas sua indicação como titular da CPI da Petrobras virou um tiro no pé. O comunista acabou cedendo a vaga de titular para Marcelo Crivella (PRB-RJ), passando à primeira-suplência. A alternativa é a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), mas Mercadante faz restrições à indicação da petista. Argumenta que ela precisa ter mais mobilidade para cuidar de outras frentes de batalha contra a oposição no Congresso, além de acompanhar a poderosa e complicada Comissão Mista de Orçamento.

O melhor nome para presidir a CPI, na avaliação de Mercadante, seria o senador João Pedro (PT-AM), suplente em exercício do senador Alfredo Nascimento (PR-AM), que hoje ocupa a pasta de ministro dos Transportes. João Pedro é um ex-sindicalista amigo do presidente Lula, mas é preciso combinar com os aliados a sua indicação. O petista precisa ser eleito pelos demais integrantes da comissão porque não há acordo com a oposição. Um racha entre os governistas, por exemplo, poderia abrir espaço para que o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL), titular da comissão, disputasse o posto, colocando uma saia-justa em Renan e Mercadante.

Raciocínio semelhante ao de Mercadante vem sendo adotado pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), para não indicar o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que é o preferido do presidente Lula para ser o relator da CPI. Jucá quase ficou de fora da comissão porque foi anunciado como relator por Mercadante, antes mesmo de sua indicação por Renan, e teve que reivindicar sua participação. A preferência do líder do PMDB seria por Paulo Duque, para atender um pedido do governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB).

O Rio de Janeiro abriga a sede da Petrobras, grandes plataformas de petróleo, a refinaria Duque de Caxias e o maior complexo petroquímico do país. Duque é novato no Senado, mas conhece bem a economia do petróleo fluminense, tem oito mandatos de deputado estadual e foi o relator da célebre CPI da Matança dos Mendigos, no governo de Carlos Lacerda, na antiga Guanabara, em 1963. Mas reluta em aceitar a missão, apesar da boa forma física, porque teria que ficar cinco dias na semana e, eventualmente, nos fins de semana em Brasília, longe da família.

Pressão

A possibilidade de a oposição presidir a CPI continua fora de qualquer cogitação. O acordo que chegou a ser esboçado entre o líder do DEM, José Agripino (RN), e Renan, para que o senador ACM Junior (DEM-BA) presidisse a comissão, foi vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com apenas três integrantes na comissão, contra oito governistas, a oposição não tem como ditar o rumo das investigações. Além disso, está sendo encurralada pelos governistas, que mobilizam o forte lobby dos fornecedores da Petrobras para pressionar os políticos do DEM e PSDB que receberam doações financeiras para suas respectivas campanhas das empresas do setor.

Os petistas também engrossam o tom do discurso contra os ex-gestores da Petrobras. Exibem números e comparam o desempenho da empresa no governo Lula com a gestão FHC. Velhos slogans da campanha “O petróleo é nosso”, que levou ao monópolio estatal do petróleo e à criação da estatal, foram resgatados. Segundo o PT, a CPI foi convocada porque há grandes empresas privadas interessadas em barrar a mudança no marco regulatório do petróleo, que vai restringir a presença do capital estrangeiro na exploração do óleo da camada de pré-sal.

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