domingo, 28 de junho de 2009

Metas de inflação: dez anos de resistência

Liana Melo
DEU EM O GLOBO
Sistema sobreviveu a crises, mas analistas pedem mudanças. Werlang, pai do modelo, sugere votos abertos no Copom

O sistema de metas de inflação ainda está longe da maioridade no Brasil. Adotado como âncora da política econômica em 1999 — quando, numa guinada do Plano Real, o país fez uma maxidesvalorização e adotou o câmbio flutuante — o sistema, no entanto, acumulou maturidade nestes dez anos. A prova é que a economia resistiu bravamente à crise financeira global.

E não foi a primeira vez que o modelo foi colocado em xeque: ele já tinha enfrentado turbulências em 2001 e 2003. Só que, mesmo sendo apontado como um dos casos de maior sucesso no rol de 22 países que aderiu ao regime de metas, talvez tenha chegado a hora de refiná-lo.

O economista Sérgio Werlang, considerado o pai do sistema de metas de inflação no país e ex-diretor de Assuntos Econômicos do Banco Central (BC), defende a mudança. Por considerar que o regime hoje está suficientemente amadurecido, Werlang acredita que é preciso mais transparência na aplicação do modelo.

— A Inglaterra já publica seu modelo de previsões desde 1999 — sugere o economista, atualmente vice-presidenteexecutivo do Itaú-Unibanco.

Economista defende volta das reuniões mensais Para dar ainda maior previsibilidade ao mercado, Werlang prega também que as votações disputadas nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) sejam abertas e não secretas. No último encontro do Copom, quando a taxa básica de juros Selic foi reduzida para o patamar inédito de 9,25% ao ano, o placar foi rachado: seis diretores do BC optaram pelo corte de um ponto e dois por apenas 0,75 ponto. Werlang também defende a urgência de as reuniões do Copom voltarem a ser mensais e não mais a cada 45 dias, como atualmente.

— Num momento de crise, a periodicidade menor é bem mais conveniente.

Apesar de admitir a necessidade de ajustes, o economista dá de ombros para aqueles que insistem em criticar o Copom por desconsiderar o equilíbrio externo na definição da política monetária: — Não faz nenhum sentido adotar o regime de metas com câmbio controlado.

Críticas à parte, o sistema de metas no país está associado a uma redução da inflação: em 1999, o IPCA fechou em 8,94%, e, no ano passado, em 5,90%. Em ambos os casos, a inflação não estourou os limites da meta, o que acabou ocorrendo entre 2001 e 2003. Alguns economistas chamam a atenção que a perseguição por manter a inflação sob controle acabou levando o país a experimentar redução do crescimento econômico.

O BC já sinalizou que confirmará a meta de 4,5% para 2010, repetindo assim, pela sexta vez, o mesmo percentual. Se o economista Antonio Corrêa de Lacerda, da PUC-São Paulo, tivesse direito a voto no Conselho Monetário Nacional (CMN) ele votaria para uma meta de 4,5% também em 2011: — Ainda que considere o modelo de metas válido, ele não deve engessar a política macroeconômica.

É que, na sua opinião, o modelo ainda convive com distorções, como o fato de a meta ser definida com base na inflação cheia, o IPCA. Isto faz com que, toda vez que há um choque de preços de commodities ou no câmbio, se promova um aperto na política monetária.

A segunda anomalia, continua Lacerda, está no horizonte muito curto de foco do sistema de metas de inflação, que é de 12 meses. O ideal, defende, é um prazo de 24 ou 36 meses. A última crítica do economista diz respeito ao critério de captura das expectativas, que é centrado exclusivamente no mercado financeiro: — Este é um sistema enviesado.

Seria oportuno captar também as expectativas do setor produtivo, da academia e de outros segmentos importantes da sociedade.

Para Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional (FMI), o sistema de metas de inflação “não pode ser um estorvo” na política econômica.

No caso do Brasil, ele acha muito difícil que o regime funcione como um entrave, porque o sistema foi pensando com bastante flexibilidade: — As metas de inflação no país operam com um intervalo relativamente grande, uma amplitude de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

A Nova Zelândia foi o primeiro país a adotar o regime de metas, em 1990, e serviu de modelo para outros países mundo afora.

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