sexta-feira, 12 de junho de 2009

No Rio, indústria se vê em plena crise

Luciana Casemiro
DEU EM O GLOBO

Pesquisa da Firjan com empresários aponta ainda produção baixa para este mês

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e economistas afirmam que o pior da crise já passou, mas os empresários do Rio de Janeiro discordam. Para 61% dos entrevistados pela "Pesquisa de nível de atividade e expectativa da indústria do Estado do Rio", da Federação da Indústria do Estado do Rio (Firjan), estamos no meio da crise. Os números do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) do primeiro trimestre, divulgados na última terça-feira, mostraram uma retração forte no setor: 3,1%, frente ao último trimestre de 2008 e de 9,3% ante o primeiro. E o segundo trimestre não deverá ser grandioso, de acordo com a pesquisa, feita na última quinzena de maio.

- Para 36% dos entrevistados, as encomendas em abril e maio foram menores do que em março. Isto quer dizer que a produção da indústria em junho também está comprometida - destaca a diretora de Desenvolvimento Econômico da Firjan, Luciana de Sá.

Na pesquisa da Firjan, divulgada com exclusividade pelo GLOBO, um terço dos entrevistados declara ainda ter reduzido quadro de funcionários desde o início da crise e um quarto alterou planos de investimento. Outro dado preocupante, na avaliação de Luciana, é o fato de 44,2% dos empresários terem dito não precisar de crédito. Para ela, sinal de estagnação:

- Até porque, as empresas costumam ter de pagar impostos, antes de receber. Pelo menos capital de giro deveria ser necessário. Declarar não precisar de crédito é um sinal ruim.

Nem a queda da Taxa Selic (juros básicos da economia), de um ponto percentual, na última quarta-feira, para 9,25% ao ano, diz Luciana, ajuda a incrementar a produção industrial:

- A queda dos juros demora seis meses para se refletir no crédito. O maior problema do setor é o spread bancário (diferença entre o custo de captação do dinheiro e os juros cobrados pelos bancos). O crédito está até voltando, mas ainda muito caro, para empresários e consumidores.

Para Paulo Picchetti, professor da USP e da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV/SP), não há sinal claro de reversão da atividade econômica:

- A reversão provavelmente não começou a ponto de se imaginar que teria um fim para recessão. Há um crescimento na margem, mas a base de comparação é muito fraca. Alguns itens fundamentais para se falar em recuperação não mostraram alta, caso de empregos e investimentos.

Picchetti destaca que o setor industrial é bastante heterogêneo, havendo segmentos menos afetados:

- Caso dos produtores de bens duráveis beneficiados pelo governo, como automóveis e linha branca.

Perspectivas de investimento são melhores para 12 meses

O levantamento da Firjan confirma essa teoria. Entre os setores industriais mais afetados pela crise no Rio, segundo a Federação, estão: edição, impressão, borracha e plástico, têxteis, minerais não-metálicos, veículos e calçados. Já os setores químico, de refino de petróleo, produtos metálicos e vestuários têm tido números melhores, em alguns casos, até alta.

Antônio Carlos Berenguer, vice-presidente do Sindicato da Indústria de Têxteis (SindTêxtil) e da Firjan, diz que, desde dezembro, o setor demitiu cerca de 28 mil trabalhadores:

- Já vínhamos sofrendo com a valorização do real, o que dificulta a exportação, e com a retração do mercado externo e a invasão de importados. Em 2008, importamos US$1,4 bilhão a mais do que exportamos. Este ano o déficit deve ser ainda maior.

Carlos Thadeu de Freitas, chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, por sua vez, tem uma posição mais otimista:

- Se olharmos os índices de confiança do consumidor já há melhora. Isso quer dizer, entre outras coisas, que esse consumidor está mais disposto a comprar bens duráveis. Há indicadores de retomada já este mês.

Em meio a dados preocupantes, Luciana destaca o ajuste de estoque como um ponto positivo da pesquisa: 30,9% dos entrevistados declaram estar com o estoque menor, abrindo caminho para uma produção maior.

Ainda segundo Luciana, a expectativa é melhor a longo prazo:

- Quando perguntados sobre os próximos 12 meses, 65,1% dos entrevistados disseram que vão investir e 25% previram aumento no volume de recursos.

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