quarta-feira, 3 de junho de 2009

O PENSAMENTO DO DIA – Hegemonia (6) – (Gramsci)

“Relação histórica entre o Estado moderno francês da Revolução e os outros Estados modernos da Europa continental. A comparação é de importância vital, contanto que não seja feita com base em esquemas sociológicos abstratos. Ela pode resultar do exame dos seguintes elementos: 1) explosão revolucionária na França, com mudança radical e violenta das relações sociais e políticas; 2) oposição européia à Revolução Francesa e à sua difusão pelos “ canais” de classe; 3) guerra da França com a República e com Napoleão, contra a Europa, primeiro para não ser sufocada, depois para constituir uma hegemonia francesa permanente com a tendência a formar um império universal; 4) insurreições nacionais contra a hegemonia francesa e nascimento dos Estados europeus modernos mediante pequenas ondas reformistas sucessivas, mas não mediante explosões revolucionárias como aquela originária francesa . As “ondas sucessivas “ são constituídas por uma combinação de lutas sociais, de intervenções pelo alto do tipo monarquia iluminada e do tipo guerras nacionais, com predominância desses dois últimos fenômenos. Desse ponto de vista , o período da “Restauração” é o mais rico de desenvolvimentos: a restauração torna-se a forma política na qual as lutas sociais encontram quadros suficientemente elásticos para permitir à burguesia chegar ao poder sem rupturas clamorosas, sem o aparelho terrorista francês. As velhas classes feudais são rebaixadas da condição de “dominantes” àquela de “governativas”, mas não são eliminadas, nem se tenta liquidá-las como conjunto orgânico: de classes se tornam “castas”, com determinadas características culturais e psicológicas, não mais com funções econômicas predominantes.”


(Antonio Gramsci – Cadernos do Cárcere, volume 1, pág. 425-426, - Civilização Brasileira, 2006)

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