domingo, 7 de junho de 2009

Palanques estaduais

Marcos Coimbra
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

As eleições modernas, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, ocorrem fundamentalmente na televisão

Está em voga nos meios políticos uma expressão engraçada. Todo mundo fala, como se fosse coisa óbvia e autoevidente, em “palanques estaduais”.

A ideia é usada sempre que se quer relacionar algo com as próximas eleições presidenciais. Assim, ficamos sabendo, por exemplo, que o PMDB espera mais um favor do governo em troca de “palanques” para Dilma. Que alguém no PT negocia com alguém no PSB, em busca de outros.

Que a bancada governista no Senado faz jogo duro na CPI da Petrobras e deixa os estrategistas do Planalto em pânico, com medo de perder sabe-se lá quantos. Que os pré-candidatos tucanos estão à procura dos seus, incertos a respeito de quais continuarão disponíveis depois que o governo tiver ido às compras.

O que será que as pessoas querem dizer com a expressão? De onde vem a nova popularidade de uma ideia que parecia sepultada?

Palanque é coisa da época em que os candidatos só dispunham deles para falar com muita gente. Que outra opção havia? Caminhadas, encontros em recintos fechados, festas e bailes? Conversas ao pé do ouvido, apertos de mão, abraços nos idosos e nas senhoras, beijinhos nas crianças?

No palanque, não. Lá, os candidatos podiam se comunicar com multidões, usar da oratória para conquistar simpatias, ganhar votos. Candidato “bom de palanque” era candidato eleito.

Só que eles não existem mais, não em eleições nacionais ou estaduais. Palanques são de quando havia comícios. Que acabaram faz tempo.

Os últimos palanques que contaram para alguma coisa foram os da campanha das diretas, já lá vão 25 anos. E, mesmo então, o povo não enchia as praças por causa deles, ainda que estivessem cheios de pessoas ilustres, artistas e gente bacana. Aqueles comícios não eram mais que pretextos para que todos se vissem, para que tivessem consciência do que representavam e se sentissem fortes.

É claro que continuamos a ter palanques nas eleições que fizemos de lá para cá. Se tiveram algum efeito nos resultados é que são elas.

Depois de 1989, quando a vitória de Collor foi interpretada pelo sistema político como decorrência direta da competência de sua campanha na televisão (o que é, em parte, verdade), os palanques mudaram completamente. Passaram a existir para que neles se apresentassem artistas contratados (enquanto isso era permitido) e para servir de palco a eventos produzidos para gerar imagens destinadas à propaganda na TV.

Se há ainda quem acredite na sua eficácia, que ouça o que dizem os eleitores nas pesquisas. Para a vasta maioria, comícios e, portanto, palanques, ficam entre as formas menos relevantes de conhecer candidatos e escolher em quem votar.

As eleições modernas, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, ocorrem fundamentalmente na televisão. Pode-se gostar ou lamentar esse fato, mas ele não muda e nem que sejamos um dos países onde a proeminência da TV é mais acentuada.

No entanto, a julgar pelo que lemos, os políticos andam indóceis na montagem dos “palanques estaduais” para 2010. Procurando o quê?

Encher a propaganda eleitoral de Dilma ou do candidato do PSDB de lideranças regionais do PMDB ou de qualquer outro partido? Mostrar ao eleitor do Sul que ela ou ele tem o apoio de um ex-governador do Norte? Para que cercá-los de personagens locais, se não existe televisão estadual, nem regional? E alguém acredita que há eleitores que votam por vê-los nessas companhias?

Quanto à pequena minoria que vai para as praças ver os comícios do PT ou do PSDB, será que se preocupa com quem está no palanque, se o deputado fulano ou o vereador beltrano estão lá? Difícil imaginar.

Enfim, políticos são seres com convicções e comportamentos nem sempre compreensíveis. Para eles, coisas que não interessam a ninguém podem ser verdadeiras obsessões.

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