domingo, 14 de junho de 2009

PT submete Estados a interesses do PMDB nas eleições de 2010

José Alberto Bombig
Da Reportagem Local
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Plataforma de corrente hegemônica dentro da sigla defende enquadramento de petistas que contrariem aliados de Dilma

Proposta da CNB de formar palanques unitários esbarra nas intenções políticas de líderes do partido em SP, RJ, RS, MG, PE e PR

A proposta da corrente hegemônica do PT para comandar o partido na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva formaliza a submissão dos Estados aos interesses da pré-candidatura Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto e define o PMDB como principal "força de centro" a ser conquistada.

"A base da unidade é a o entendimento da centralidade da eleição da companheira Dilma. Ela deve subordinar todas as esferas da disputa e orientar todos os movimentos políticos do PT da mesma forma que a eleição de Lula submetia todas as nossas ações", diz trecho da plataforma da CNB (Construindo um Novo Brasil) a que a Folha teve acesso.

Na prática, significa que, caso prevaleça a hegemonia da corrente, conforme ocorre no partido há pelo menos uma década, a nova direção trabalhará para "enquadrar" as pré-candidaturas petistas nos Estados que contrariam o interesse de eventuais aliados de Dilma, especialmente o PMDB, na eleição para o Planalto.

As eleições internas do PT estão marcadas para dezembro deste ano. José Eduardo Dutra, ex-senador (SE) e presidente da BR Distribuidora (subsidiária da Petrobras), é o nome da CNB para comandar o partido.

"A construção de palanques estaduais unitários é uma exigência desse objetivo, independentemente de o PT estar na cabeça de chapa", diz outro trecho da tese da corrente, que, até o dia 18, estará aberta para receber emendas e sugestões.

O documento, tratado em sigilo no partido, também deixa claro qual deverá ser a sigla prioritária no que diz respeito às alianças: "A continuidade do nosso projeto político em 2010 está vinculada à capacidade de solidificar um bloco de esquerda progressista no país. Dependerá também da capacidade de agregar forças políticas de centro, principalmente o PMDB".

É justamente no desejo de contar com os peemedebistas e aliados de outros partidos em torno de Dilma, ministra da Casa Civil, que esbarra o projeto de alguns líderes petistas, entre eles nomes do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, de Pernambuco, do Paraná e de São Paulo.

Nesses Estados, a chapa da CNB para a direção nacional do PT já estuda subordinar suas pré-candidaturas majoritárias (governos e Senado) aos aliados.

Historicamente, ações nesse sentido causaram fissuras e traumas no PT, como o ocorrido em 1998, quando a direção nacional proibiu Vladimir Palmeira de concorrer ao governo do Rio em troca do apoio do PDT à candidatura Lula.

"Muitas vezes, é mais importante você ter um petista no Senado para garantir uma governabilidade à nossa candidata em caso de vitória", afirmou Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula e um dos membros da CNB.

Em outras correntes, no entanto, a proposta é rechaçada. "Não consigo entender. Por que o PMDB exigiria que o PT não tenha candidato em dez Estados? Em nome de quê isso? Não tem cabimento de argumento", disse Raul Pont, ex-prefeito de Porto Alegre (RS), da corrente Mensagem ao Partido, que ainda estuda lançar uma chapa para presidir o PT.

O deputado federal André Vargas (PR), da CNB, diz acreditar que todo o partido estará unido.
"Hoje, a maioria tem a compreensão de que a candidatura Dilma é mais importante, tanto que os congressos estaduais do PT serão feitos depois do congresso nacional no ano que vem", disse.

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