quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sempre os palanques

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Em nome do “projeto Dilma”, o PT só teria candidatos majoritários onde isso não incomodasse a ninguém, particularmente ao PMDB

O PT é um partido maduro, cheio de gente inteligente. Não precisa de ninguém para lhe dizer o que fazer.

Mas que há coisas difíceis de entender no seu comportamento, isso há. Algumas até incompreensíveis.

Pelo que se lê na imprensa, as conversas em torno dos “palanques” estaduais para Dilma, na eleição do ano que vem, andam de vento em popa. A tese da “prioridade para Dilma” tem cada vez mais adeptos, com defensores instalados nos gabinetes mais poderosos do Planalto, sem falar da militância em seu favor de uma figura do porte de José Dirceu.

Trocada em miúdos, a tese é que o PT deveria abdicar da disputa em diversos estados, seja nas eleições para os governos, seja na renovação do Senado, cedendo espaço para candidatos de outros partidos. Em troca, ganharia ou, melhor dizendo, se contentaria com “palanques” para Dilma.

O principal beneficiário dessa generosidade é o PMDB. Na grande maioria dos estados mais relevantes, o PT não apenas não disputaria, como se disporia a tudo fazer pela eleição de peemedebistas. A exceção seria em São Paulo, com uma inovação que só pode ter saído da cabeça de alguém com muita imaginação: Ciro Gomes seria importado às pressas do Ceará para ser candidato a governador pelo PSB, chefiando um verdadeiro exército de Brancaleone, com o PT, Quércia e sabe-se lá mais quem. Será que o interessado mais direto foi consultado?

Voltando ao PMDB, só no Rio parece que o PT poderia ganhar alguma coisa com essas manobras. Como Sérgio Cabral quer disputar a reeleição e está bem, é razoável que o PT opte por não ter candidato próprio, ainda que isso represente adiar por mais alguns anos a necessária renovação de seus quadros no estado. Nesse sentido, seria forte o argumento das vantagens de lançar uma candidatura como a do prefeito Lindeberg Farias, nem que fosse para torná-lo (ou a outro nome semelhante) mais conhecido no estado inteiro, assim o preparando para futuras eleições. Afinal, se há dois turnos, por que fazer “frentões” antes da hora?

Nos outros estados onde se especula com cenários semelhantes, as coisas são ainda menos compreensíveis. Em Minas Gerais, o PT tem dois candidatos plenamente viáveis, que se saem muito bem nas pesquisas, especialmente o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, mas também o ministro Patrus Ananias. Ambos são menos conhecidos que o nome que teriam que apoiar, o de Hélio Costa, embora tenham ampla perspectiva de crescimento. Os planos do PT de chefiar o Executivo no segundo maior colégio eleitoral do país seriam adiados sine die.

No Rio Grande do Sul, se pediria a Tarso Genro, que lidera as pesquisas, que abdicasse. E na Bahia? Apesar de todo mundo concordar que é natural a candidatura de quem está no governo, Jacques Wagner seria impedido de concorrer, apesar de ter todas as credenciais para isso.

Casos como esses se repetem Brasil afora. Em todos, o mesmo padrão: em nome do “projeto Dilma”, o PT só teria candidatos majoritários onde isso não incomodasse a ninguém, particularmente ao PMDB. Pelos palanques, tudo.

Quem defende que o partido adote essa postura deve acreditar que o PMDB pode vir a desembarcar maciçamente na candidatura tucana e que vale a pena fazer de tudo para evitar que isso ocorra. Se é assim que pensam, se enganam duas vezes: 1) o PMDB não vai, em bloco, para lugar nenhum, pois não é (e nem será) capaz de movimentos em bloco; 2) o apoio de segmentos até majoritários do PMDB a Dilma (ou a quem quer que seja) não quer dizer nada, para a vastíssima maioria do eleitorado.

Não ter candidatos próprios nas eleições majoritárias, sequer no primeiro turno, nos principais colégios eleitorais, é um retrocesso na trajetória do PT. Seus eleitores serão convidados a fazer escolhas que pouco (ou nada) têm de coerentes com o que os fez simpatizar com o partido.

Parece que algumas lideranças não aprendem com os erros. Em 2006, contra Aécio, levaram o partido, em Minas, a apoiar Newton Cardoso. Até hoje, quando se pesquisam eleitores petistas no estado, o que se vê é a vergonha que sentem.

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