sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caminhos bloqueados paralisam Honduras

Tegucigalpa e La Paz
DEU EM O GLOBO


Chanceler deposta afirma que Zelaya está a caminho do país para instalar governo alternativo e dirigir insurreição contra golpistas

A chanceler do governo deposto, Patricia Rodas, afirmou ontem na Bolívia que o presidente Manuel Zelaya está a caminho de Honduras para retomar o cargo, do qual foi derrubado no dia 28, e instalar uma sede alternativa de governo. A declaração veio dois dias depois de Zelaya convocar os hondurenhos à insurreição contra o governo golpista - no que parece ter sido atendido: ontem os acessos norte e sul da capital, Tegucigalpa, foram fechados por manifestantes, assim como as principais rotas comerciais do país, nos mais intensos protestos dos últimos dias.

Patricia Rodas chegou à Bolívia junto com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para participar das comemorações pelo bicentenário da Revolução de Julho.

- Neste momento, nosso presidente está a caminho de Honduras - disse Patricia, sem dar detalhes de quando e onde a sede alternativa será estabelecida. - A instalação de uma sede alternativa é para poder dirigir de lá o que eu chamaria de a batalha final. Não se trata de um governo no exílio. Existe um governo em Honduras (de Zelaya) que não perdeu sua legitimidade.
Nem o toque de recolher, retomado na véspera, impediu que as ruas fossem ocupadas, chegando a reunir 3 mil pessoas em alguns pontos de Tegucigalpa. O bloqueio dos acessos da capital causou quilômetros de congestionamento. O tráfego foi paralisado também entre San Pedro Sula (a segunda maior cidade do país) e Puerto Cortés. As filas de veículos em direção ao principal porto do país eram enormes. Em Copan, no oeste, os manifestantes bloquearam as rotas de importação e exportação para El Salvador.

- Se tivermos que paralisar o país, nós o faremos - disse a manifestante Yadira Marroquin, funcionária de um hospital.

Foram registrados protestos também em Comayagua, no centro de Honduras, e Yoro, no norte, além de Atlántica e Colón, na costa. Os manifestantes ameaçaram realizar uma greve geral se não houver uma solução na reunião entre representantes do governo deposto e do governo golpista, mediada pela Costa Rica, amanhã.

- Vejam: não há um facão, um revólver ou fuzil. É uma passeata pacífica - destacou o líder camponês Rafael Alegria.

Chávez adverte para risco de guerra civil

A crise hondurenha começou com a insistência de Zelaya em realizar uma consulta popular que poderia abrir caminho para sua reeleição.

Chávez advertiu ontem para o risco de a crise se transformar numa guerra civil e se espalhar pela América Central. O presidente venezuelano é acusado pela imprensa que apoia o governo golpista de planejar uma ação militar com a ajuda da Nicarágua para derrubá-lo. O jornal "El Heraldo" afirmou que estão se formando grupos armados para ajudar Zelaya a entrar no país.

Zelaya já tentou regressar uma vez, no dia 5, mas a pista do aeroporto foi bloqueada. Ele é ameaçado de prisão caso pise no país. O presidente deposto conta com amplo apoio internacional. Mas, em Honduras, as instituições apoiam Micheletti. Os últimos acontecimentos são um mau sinal para a rodada de negociações marcada para amanhã, em San José. O presidente da Costa Rica e mediador, Oscar Arias, pretende propor a formação de um governo de reconciliação, com uma coalizão em ministérios importantes, como Finanças e Interior. Arias não acha necessário adiantar as eleições presidenciais, marcadas para novembro, mas Zelaya teria que renunciar à consulta popular.

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