terça-feira, 28 de julho de 2009

Congresso hondurenho debate acordo

Ricardo Galhardo Enviado especial
DEU EM O GLOBO

Mas analistas duvidam que recondução de Zelaya à Presidência seja aceita

TEGUCIGALPA. O Congresso Nacional de Honduras começou a debater oficialmente, ontem, o Acordo de San José, elaborado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, como proposta de solução para a crise política hondurenha.

Os parlamentares decidiram criar uma comissão que terá dois dias para avaliar as propostas do ponto de vista jurídico. Na semana passada, o presidente interino, Roberto Micheletti, disse que precisava submeter o texto aos demais poderes do país antes de tomar uma decisão.

Para analistas políticos, Micheletti está apenas tentando ganhar tempo.

— A ninguém interessa mais ganhar tempo do que a Micheletti. O Congresso finge que debate para ganhar tempo. Este acordo não será firmado por uma razão simples: prevê a reintegração de Manuel Zelaya ao poder. Posso adiantar o resultado deste debate. O Congresso vai aceitar todos os pontos menos a reintegração. Não interessa a ninguém, nem ao Partido Liberal (ao qual Zelaya é filiado), a reintegração — disse ao GLOBO Gautama Fonseca, militante histórico do Partido Liberal e ex-ministro por três vezes.

A restituição de Zelaya, a criação de um governo de coalizão, o fim do projeto de convocar uma Assembleia Constituinte e a anistia a todos os envolvidos no episódio que levou a um golpe de Estado no dia 28 de junho são os principais pontos do acordo. O texto também será submetido hoje à Suprema Corte hondurenha, que acusa Zelaya de traição à pátria por desrespeitar uma cláusula pétrea da Constituição ao propor uma consulta popular com o objetivo de abrir caminho para uma reeleição.

Poucos líderes partidários se manifestaram publicamente sobre o acordo ontem de manhã.

Nelly Jerez, do Partido Nacionalista (oposição a Zelaya), classificou a anistia ao presidente deposto como uma “bofetada”.

Zelaya ameaça voltar à fronteira mas recua Entrincheirado em um hotel em Ocotal, na Nicarágua, Zelaya disse que não há hipótese de negociação com os golpistas e ameaçou mais uma vez voltar à fronteira, mas voltou atrás. A estratégia do governo interino de bloquear os acessos à fronteira e de decretar sucessivos toques de recolher tem dado resultado. A mídia local tem dado cada vez menos espaço ao presidente deposto e as manifestações se restringem a sindicalistas e a movimentos populares.

—É nosso dever lutar um dia, dois dias, um mês, seis meses, um ano, dez anos... vamos fazer — disse ele ontem.

Para piorar a situação de Zelaya, a oposição ao presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, ameaça com processos contra a presença do hondurenho no país.

— Zelaya busca a mídia por desespero devido à falta de ações efetivas da OEA e da ONU — avaliou Fonseca.

O presidente pediu que o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) proteja os manifestantes que chegam à Nicarágua por pequenas estradas nas montanhas hondurenhas.

Ontem, os EUA insistiram na restituição de Zelaya ao poder. Mas o país, que criticou a forma como Zelaya ameaçou entrar em Honduras, não se comprometeu a ampliar sanções contra o governo interino, numa medida encarada como um sinal de mais tolerância de Washington com os golpistas

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