segunda-feira, 6 de julho de 2009

Crise agrava pobreza no mundo

Liana Melo
DEU EM O GLOBO


ONU: até 90 milhões voltarão a viver com menos de US$ 1,25 por dia

Relatório das Nações Unidas sobre as Metas do Milênio, que será apresentado hoje em Genebra, revela que os avanços na luta contra a pobreza e a fome começam a recuar, em consequência da crise financeira mundial. A ONU calcula que o número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 (cerca de R$ 2,40) por dia poderá aumentar até 90 milhões este ano.

Crise reduz luta contra pobreza

ONU: até 90 milhões entrarão na faixa dos que vivem com US$1,25 por dia em 2009
Omundo recuou no combate à pobreza e na erradicação da fome. Não foi um recuo estratégico, mas uma reação à crise financeira global que se agravou em 2008, provocando uma certa inversão de tendência de alguns avanços detectados nos últimos anos. Como o mundo já está a meio caminho do limite do prazo fixado para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), o sinal amarelo foi acionado nas Nações Unidas. O prazo limite para atingir as Metas do Milênio é 2015. O relatório com os números de 2008 será apresentado hoje, em Genebra, pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Embora ainda não existam dados suficientes para dimensionar o impacto generalizado da crise, as Nações Unidas já fizeram algumas projeções que apontam para o ingresso, em 2009, de mais 55 milhões a 90 milhões de pessoas vivendo com menos de US$1,25 (R$2,44) por dia. Isso significa que os indicadores de extrema pobreza, que tinham caído de 1,8 bilhão de pessoas, em 1990, para 1,4 bilhão, em 2005, voltaram a subir.

O pior é que a crise financeira não reinou sozinha em 2008. Ela veio acompanhada de um aumento generalizado dos preços dos alimentos. A crise alimentar, que refluiu no segundo semestre enquanto a financeira se agravava, acabou elevando de 16%, em 2006, para 17%, em 2008, o percentual da população mundial considerada miserável.

Na América Latina e no Caribe, por exemplo, o percentual da população que vivia com menos de US$1,25 por dia, voltou a subir para 8%, depois de ter registrado uma queda de 13% para 7%, em 2007. Mas foi na África Subsaariana, no subcontinente indiano e no Oriente Médio que a inversão de tendência em relação à indigência foi mais acentuada: subiu de 59% para 64%, de 38% para 44% e de 10% para 25%, respectivamente.

Hoje, mais de um quarto das crianças que vivem nos países em desenvolvimento têm peso insuficiente para a sua idade. A crise alimentar provocou um agravamento da situação de subnutrição entre menores de 5 anos. A América Latina foi uma das poucas regiões em que a situação agravou-se menos, tendo recuado de 12% na década de 90 para 8% em 2007. Em 2008, o índice não se alterou, permanecendo estável em 7%.

Progresso "lento demais", diz ONU

Ao fazer um balanço hoje das Metas do Milênio, Ki-moon vai advertir que, apesar dos numerosos êxitos conquistados até agora, os progressos têm sido, de um modo geral, "lentos demais" para permitir a implementação das metas nos próximos seis anos. O documento com as Metas do Milênio foi assinado em 2000 por 191 países. Dentre as oito metas fixadas (acabar com a fome e a pobreza, universalizar a educação básica, promover a igualdade entre os sexos, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde das gestantes, combater a Aids, reduzir desemprego e respeitar o meio ambiente), uma das poucas a ser atingida, segundo a própria ONU, será a da universalização do ensino básico. Na maioria dos países, o indicador subiu de 83%, em 2000, para 88%, em 2007.

- Não podemos permitir que um clima econômico desfavorável prejudique os compromissos assumidos lá trás - alertou Ki-moon, afirmando que "chegou o momento de acelerarmos os avanços conquistados".

A crise está inchando os dados de desemprego mundo afora, tanto assim, que, segundo cálculos das Nações Unidas, os sem-emprego podem atingir este ano entre 6,1% e 7% dos homens e 6,5% e 7,4% das mulheres. Como os homens estão conseguindo voltar ao mercado de trabalho mais rapidamente que as mulheres, as Nações Unidas admitem que, dificilmente, a meta de igualdade entre gêneros será alcançada em 2015.

Só que o apelo que será feito hoje por Ki-moon esbarra numa realidade financeira que é de conhecimento da ONU. Nos últimos 49 anos, as nações em desenvolvimento receberam o equivalente a US$2 trilhões em doações feitas pelos países ricos; enquanto os bancos e grandes instituições financeiras embolsaram, só no último ano, US$18 trilhões. Os dados são da ONU e foram divulgados em junho passado, em Nova York, durante a Conferência Econômica das Nações Unidas, que serviu de base para o relatório que está sendo apresentando hoje.

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