sexta-feira, 3 de julho de 2009

Fim do Senado

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Pela Constituição, vige no Brasil um sistema de independência entre os Poderes. Na prática, não passa de balela. Quem manda hoje no Senado é o presidente da República.

José Sarney perdeu o apoio do DEM, do PSDB, do PDT e do PT para permanecer na presidência do Senado. Mas, no auge do seu isolamento, Lula saiu da retórica e veio em seu socorro na prática. O mesmo Lula que deixou à deriva companheiros petistas como Dirceu, Palocci, Genoino, Delúbio, mensaleiros e aloprados, agora joga a boia de salvação para Sarney. Reverteu assim a decisão da bancada petista de pedir o afastamento de Sarney.

Não foi por amizade que Lula interveio, nem por preocupação com as instituições ou com o Senado especificamente. Foi por cálculo político. No fundo, ele dá de ombros para o Congresso e para atos secretos, empreguismo, verbas indenizatórias. Mas tem profundo interesse em evitar a CPI da Petrobras agora e em garantir a aliança do PMDB com Dilma em 2010.

Lula não defendeu Sarney. Defendeu-se. Desprezou o discurso pela ética em favor do aliado e ontem foi jantar com os senadores petistas para exigir, com boa lábia, que façam o mesmo. Seu argumento é igual ao de Sarney: aquela sequência de confusões entre público e privado são bobagens, tudo não passa de uma "guerra política" criada pela oposição e pela imprensa.

Acredita quem quer.

Se a renúncia de Sarney parecia iminente, agora parece improvável. Mas é cedo para apostar. Nunca se pode descartar um "fato novo", na forma de netos, cunhadas, mordomos e contratos.

E Sarney é experiente o bastante para saber que Lula pode enquadrar o PT, mas não pode impedir que petistas continuem trabalhando contra ele.

O dramático é que, se Sarney sai, a crise fica. E se Sarney fica, a crise continua. Quem vai acreditar um milímetro na seriedade das sindicâncias internas? As raposas estão cuidando do galinheiro.

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