sexta-feira, 3 de julho de 2009

Governo de Honduras admite adiantar eleição

DEU EM O GLOBO

Secretário-geral da OEA chega hoje ao país e UE retira embaixadores. Ministério Público detalha 18 acusações contra Zelaya

EM SAN PEDRO SULA, milhares de manifestantes saem em passeata a favor do governo interino e contra Zelaya: tensão crescente nas ruas

TEGUCIGALPA. No primeiro sinal de flexibilização, o governo interino de Honduras, que depôs o presidente Manuel Zelaya no domingo, admitiu ontem a possibilidade de adiantar as eleições presidenciais. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, no entanto, desembarca hoje em Honduras para explicar ao novo governo os termos do ultimato dado pela OEA: restituir Zelaya ou enfrentar sanções. O próprio Insulza se mostrou pessimista quanto ao caso se resolver até amanhã, quando esgota o prazo de 72 horas para que o golpe seja revertido.

- Farei todo o possível, mas acho que vai ser muito difícil mudar a situação em dois dias - disse Insulza, na Guiana. - Não vamos a Honduras negociar. Vamos pedir que modifiquem o que estão fazendo.

A declaração do presidente interino, Roberto Micheletti, veio ao final de um dia em que todos os países da União Europeia retiraram seus embaixadores de Honduras e em que o Ministério Público detalhara as 18 acusações que pesam contra Zelaya. Perguntado se está disposto a adiantar a eleição presidencial, prevista para 29 de novembro, Micheletti respondeu:

- Totalmente de acordo, não tenho objeção alguma se for uma forma de solucionar o problema - disse.

Micheletti acrescentou ainda que estaria de acordo com a realização de um referendo para decidir sobre o retorno de Zelaya ao poder, mas que isso não poderia acontecer agora, "um momento extremamente difícil para o país".

Zelaya teria prometido não retaliar golpistas

A viagem de Insulza foi precedida de gestões diplomáticas, com o secretário-geral telefonando para ex-presidentes e líderes religiosos do país. Zelaya, por sua vez, enviou, do Panamá, mensagens a amigos em Honduras prometendo desistir da reeleição, deixar militares golpistas nos postos e permitir que órgãos internacionais supervisionem as eleições, caso volte ao poder, informou o jornal venezuelano "El Universal". Zelaya foi deposto e expulso do país domingo, dia em que pretendia realizar uma consulta, considerada ilegal pela Corte Suprema, sobre uma reforma constitucional que permitiria a reeleição.

Ontem, o Ministério Público detalhou as 18 acusações contra Zelaya. O promotor-geral adjunto, Roy Urtecho, informou que a ordem de captura internacional já foi enviada a Interpol.

Zelaya é acusado de delitos que vão de traição da pátria à usurpação de fundos. Entre as acusações estão a ordem para que as Forças Armadas distribuíssem as urnas para a consulta popular; estender por três anos o período do chefe de Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas; engavetar mais de 80 leis aprovadas pelo Congresso; tentar realizar a consulta contrariando sentença judiciária; bloquear a transferência de recursos para prefeituras e o Congresso; utilizar fundos do Estado para promover a consulta; e destituir o chefe do Estado-Maior Conjunto.

O Tribunal Superior de Contas investiga também os recursos gastos na consulta e no referendo que se seguiria a ela.

- O que detectamos em publicidade, somente na TV, excede 40 milhões de lempiras (R$4 milhões) - disse o presidente do TSC, Renán Sagastume.

Segundo "El Universal", foram encontrados milhões em dinheiro no Gabinete de Zelaya, provavelmente enviados por Caracas, além de ter sido desmontada uma rede de espionagem e de grampos telefônicos. Também houve denúncias de suborno a eleitores.

A Argentina concedeu asilo a Enrique Flores Lanza, ministro de Gabinete Civil de Zelaya, refugiado na embaixada.

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