Ana Paula Scinocca
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Presidente "esquece" o que disse e sai em defesa de Sarney, Maluf e até do ex-inimigo Fernando Collor
Se o presidente Lula chamasse o ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva para um debate sobre a honestidade dos políticos e o papel desempenhado por figuras como José Sarney, Paulo Maluf e Fernando Collor, o encontro terminaria mostrando, de maneira insólita, o quanto um diverge do outro. Ou quanto o Lula presidente resolveu adaptar aos tempos atuais tudo o que disse o Lula sindicalista e político da oposição ao longo de duas décadas - anos 80 e 90.
O Lula sindicalista denunciaria os "300 picaretas do Congresso", "o grileiro" Sarney e seu patrimonialismo, "a falta de honestidade" de Maluf, além de defender o impeachment de Collor, acusado de comandar um esquema com o ex-tesoureiro PC Farias. Desde que colocou a faixa presidencial, em 2003, Lula passou por uma série de experiências que o fizeram ir além da renúncia ao que disse. O presidente passou a julgar os políticos por critérios especiais, comportando-se com um juiz da história.
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), um aliado de primeira hora do governo Lula, o presidente vive agora uma fase que merece uma reprimenda a la rei de Espanha. "Lula tem 80% de popularidade. Nunca um presidente teve esse índice. O sucesso deve ter subido à sua cabeça, pois só isso pode explicar o bando de bobagens e coisas que ele tem feito. Eu vou repetir o que o rei da Espanha (Juan Carlos) disse ao Hugo Chávez (presidente da Venezuela). Cala-te, cala-te Lula", disse o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
A governabilidade máxima e a qualquer custo também ajudaria a explicar o comportamento.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Presidente "esquece" o que disse e sai em defesa de Sarney, Maluf e até do ex-inimigo Fernando Collor
Se o presidente Lula chamasse o ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva para um debate sobre a honestidade dos políticos e o papel desempenhado por figuras como José Sarney, Paulo Maluf e Fernando Collor, o encontro terminaria mostrando, de maneira insólita, o quanto um diverge do outro. Ou quanto o Lula presidente resolveu adaptar aos tempos atuais tudo o que disse o Lula sindicalista e político da oposição ao longo de duas décadas - anos 80 e 90.
O Lula sindicalista denunciaria os "300 picaretas do Congresso", "o grileiro" Sarney e seu patrimonialismo, "a falta de honestidade" de Maluf, além de defender o impeachment de Collor, acusado de comandar um esquema com o ex-tesoureiro PC Farias. Desde que colocou a faixa presidencial, em 2003, Lula passou por uma série de experiências que o fizeram ir além da renúncia ao que disse. O presidente passou a julgar os políticos por critérios especiais, comportando-se com um juiz da história.
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), um aliado de primeira hora do governo Lula, o presidente vive agora uma fase que merece uma reprimenda a la rei de Espanha. "Lula tem 80% de popularidade. Nunca um presidente teve esse índice. O sucesso deve ter subido à sua cabeça, pois só isso pode explicar o bando de bobagens e coisas que ele tem feito. Eu vou repetir o que o rei da Espanha (Juan Carlos) disse ao Hugo Chávez (presidente da Venezuela). Cala-te, cala-te Lula", disse o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
A governabilidade máxima e a qualquer custo também ajudaria a explicar o comportamento.
Para o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, pesquisador da PUC-SP e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lula teve de fazer concessões antes mesmo de chegar à Presidência, o que definiu o estilo camaleônico atual. "O Lula tem defendido pessoas que têm importância em seus postos ou partidos. Tanto o presidente quanto o partido dele, o PT, tiveram que fazer concessões. Só que Lula se adaptou mais rápido a elas", avaliou Teixeira.
POLARIDADE
Na linha "esqueçam o que eu disse", o Lula presidente saiu nos últimos dias em defesa de adversários históricos, que ele tratava como inimigos, e de teses que sempre rejeitara. O Lula de hoje acha o Congresso "a caixa de ressonância da consciência política da sociedade no dia da votação" e as pessoas que lá estão, como o presidente José Sarney (PMDB-AP), a quem em 1986 chamara de "grileiro", de pessoa "com história e incomum". Ao mesmo tempo, como um político acima dos políticos, chamou os senadores de "pizzaiolos".
Lula também já "abençoou" Severino Cavalcanti (PP-PE), hoje prefeito de João Alfredo (PE), que se viu obrigado a renunciar ao comando da Câmara e ao mandato, em 2005, acusado de praticar "mensalinho" na Casa.
COLLOR
Na semana passada, em visita a Palmeira dos Índios, em Alagoas, sepultou as divergências com Collor - inclusive o fato de em 1989 o ex-presidente ter levado ao programa de campanha na TV a mãe de uma filha do então adversário fora do casamento -, para sair em defesa do hoje senador. Três anos atrás, com Collor à beira de ser eleito para o Senado, Lula sentenciou: "O que não vai melhorar é se o Collor se eleger senador."
Em Palmeira dos Índios, no último dia 14, de microfone na mão, Lula anunciou a mudança.
"Quero fazer justiça ao Collor", disse ele. Além da "justiça" a Collor, a quem o presidente elogiou pela sustentação política dada ao governo petista, Lula comparou o ex-presidente alagoano ao também ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Com popularidade em alta, Lula diz o que quer, se contradiz, e não derrete sua gordura eleitoral.
Pelo contrário. Até aqui, segundo pesquisas, ele está na condição de maior cabo eleitoral da próxima eleição, no ano que vem.
POLARIDADE
Na linha "esqueçam o que eu disse", o Lula presidente saiu nos últimos dias em defesa de adversários históricos, que ele tratava como inimigos, e de teses que sempre rejeitara. O Lula de hoje acha o Congresso "a caixa de ressonância da consciência política da sociedade no dia da votação" e as pessoas que lá estão, como o presidente José Sarney (PMDB-AP), a quem em 1986 chamara de "grileiro", de pessoa "com história e incomum". Ao mesmo tempo, como um político acima dos políticos, chamou os senadores de "pizzaiolos".
Lula também já "abençoou" Severino Cavalcanti (PP-PE), hoje prefeito de João Alfredo (PE), que se viu obrigado a renunciar ao comando da Câmara e ao mandato, em 2005, acusado de praticar "mensalinho" na Casa.
COLLOR
Na semana passada, em visita a Palmeira dos Índios, em Alagoas, sepultou as divergências com Collor - inclusive o fato de em 1989 o ex-presidente ter levado ao programa de campanha na TV a mãe de uma filha do então adversário fora do casamento -, para sair em defesa do hoje senador. Três anos atrás, com Collor à beira de ser eleito para o Senado, Lula sentenciou: "O que não vai melhorar é se o Collor se eleger senador."
Em Palmeira dos Índios, no último dia 14, de microfone na mão, Lula anunciou a mudança.
"Quero fazer justiça ao Collor", disse ele. Além da "justiça" a Collor, a quem o presidente elogiou pela sustentação política dada ao governo petista, Lula comparou o ex-presidente alagoano ao também ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Com popularidade em alta, Lula diz o que quer, se contradiz, e não derrete sua gordura eleitoral.
Pelo contrário. Até aqui, segundo pesquisas, ele está na condição de maior cabo eleitoral da próxima eleição, no ano que vem.
Não sei porque todo este espanto diante do fato das contradições do Lula não afetarem sua popularidade. Basta perguntar a algum eleitor (de classe pobre, média ou rico) se este eleitor acha que se o Lula enfrenta-se estes políticos tradicionais ele iria se manter no poder. Penso que a maioria destes eleitores diria que Lula não pode enfrentar este grupos, e por isso aceita esta sua dubiedade. (FHC foi unha e carne com ACM, Sarney e Maluf)Os 80% que apoiam Lula, aceitam este jogo de incoerências pela questão da governabilidade. Lula poderia ser mais corajoso? Poderia... Mas não podemos negar que existiria um grande risco neste enfrentamento. Inclusive o risco da oposição "dita honesta" e imprensa receber os Sarneys e Collors de braços abertos, e tira-lo do poder.Pode ser que Lula pudesse arriscar mais, mas acho que o poder não se faz apenas de popularidade. Penso que é mais interessante avaliar se existe espaço para romper com alguma coisa do que analisar o Lula camaleônico como um fenômeno descontextualizado junto de um povo que seria uma massa acefala (o que discordo em parte).
ResponderExcluir