segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sem PT, Sarney pode ser afastado

Isabel Braga e Cristiane Jungblut
DEU EM O GLOBO

Fragilizado por novas denúncias, presidente do Senado é cobrado até por aliados da base Após as últimas denúncias e sem a certeza de contar com o apoio do PT, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não teria mais os 41 votos necessários para barrar em plenário as iniciativas para retirá-lo do cargo. Até aliados do governo cobram uma solução definitiva e pressionam Sarney a tomar uma posição até agosto. O presidente Lula deve discutir a crise no Senado na reunião de hoje da coordenação política.

Sarney por um triz

Presidente do Senado perde apoio entre aliados, que cobram solução rápida para crise

Fragilizado e sem a certeza de ainda ter maioria consolidada no Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), está sendo pressionado a decidir seu destino político em agosto, quando acaba o recesso do Congresso. Aliados da base governista no Senado apostam que Sarney não resistirá à pressão cada vez mais forte das ruas e tentarão articular uma solução negociada com o próprio Sarney. Hoje, o presidente do Senado não tem mais a certeza de que dispõe dos 41 votos necessários para barrar, no plenário da Casa, qualquer iniciativa de retirá-lo do cargo. Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discute a crise do Senado em reunião com ministros da coordenação política.

- O mês de agosto é um mês decisivo para o Senado. Precisamos dar um desfecho para a crise. O recesso está demonstrando a necessidade de posições mais firmes dos senadores, em sintonia com a população que cobra a saída de Sarney - afirmou o senador Renato Casagrande (PSB-ES).

A reunião antecipada do Conselho de Ética, antes do fim do recesso, está praticamente descartada. Mas, segundo Casagrande, ex-membro do Conselho, haverá uma batalha quando os conselheiros voltarem a se reunir. Isso porque o grupo de Sarney defende que, se o presidente do colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), decidir engavetar as representações contra o presidente da Casa, o único recurso possível é levar o tema ao plenário do Conselho. Mas o entendimento é que o regimento prevê recurso ao plenário do Senado. Nesse caso, Sarney precisa ter 41 votos (entre os 80 colegas) para impedir tanto a abertura de processo, em caso de recurso, como de cassação. E sua base de apoio, sem o DEM e provavelmente sem o PT, está em torno de 40 votos.

- Eles, os aliados do presidente Sarney, dizem que o caso morre no Conselho. Mas, em tese, caberia recurso ao plenário da Casa. Se o Conselho aprovar a abertura de processo por quebra de decoro, Sarney é afastado automaticamente da presidência até o fim do processo, em plenário - explica Casagrande.

Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, Lula não deve fazer novas defesas públicas de Sarney, mas ainda quer a manutenção do aliado no comando do Senado, por temer que a oposição assuma o cargo em caso de licença. Nem mesmo os aliados acreditam que Lula volte a enquadrar o PT, cobrando um novo recuo da bancada no Senado, depois da nota do líder, senador Aloizio Mercadante (SP), pedindo a afastamento de Sarney até o esclarecimento das denúncias. Mas Lula, afirmam interlocutores, interpretou a nota não como uma mudança de postura da bancada, e sim como uma manifestação de Mercadante como líder.

Sarney ainda terá a semana do recesso parlamentar, mas em agosto tudo será retomado. Há os que avaliam que ele deverá seguir o mesmo caminho de Jader Barbalho (PMDB-PA) e Renan Calheiros (PMDB-AL), renunciando à presidência da Casa, depois de resistir, para manter o cargo de senador. Mesmo ressalvando a força de Sarney e a capacidade de dar a volta por cima, alguns senadores acreditam que a pressão forte das ruas poderá fazer com que os integrantes do Conselho de Ética forcem uma solução acordada, que evite maior desgaste.

A cúpula do PMDB monitora o desgaste imposto ao presidente do Senado, que em conversas tem reiterado que sua prioridade, neste momento, é a saúde de dona Marly, sua mulher, que está desde ontem internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde deverá ser submetida a uma cirurgia ortopédica. Sarney está em São Paulo, acompanhando a situação de dona Marly.

O presidente do Senado continua disposto a não sair do cargo. Segundo um cacique do PMDB, o problema é que não haveria um nome de consenso dentro do partido, e com o aval de Lula, para um substituto.

- Partidariamente, não existe isso (decisão de renúncia). Se Sarney decidir, ele é o dono do mandato. E acho que ele não renunciará, ele está firme na presidência - afirmou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG).

Integrantes do PMDB acreditam que, se a situação piorar, antes de se falar em renúncia, teria que se analisar a possibilidade de uma licença de Sarney. Isso poderia retirar o senador da linha de tiro, mas complicaria a situação do governo, que não aceita a oposição no comando da Casa (o vice-presidente do Senado é o senador tucano Marconi Perillo). Para um aliado do presidente do Senado, "além do desafio pessoal de Sarney, há o problema da governabilidade de Lula".

De volta da viagem ao Paraguai, Lula se reúne com a coordenação política hoje, às 10h. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, disse apenas que o presidente conversará "sobre tudo" com sua equipe.

- O presidente já disse qual é a posição dele e, evidentemente, não vai analisar cada episódio. Esta semana vamos saber se (a nota) foi uma posição isolada ou da bancada do PT em si - disse Múcio.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), demonstrou irritação com o tom da nota de Mercadante e afirmou que não conversou com ele sobre isso:

- A posição do partido é de que o que está denunciado seja apurado. Mas fazer qualquer movimentação para constranger o presidente Sarney a se licenciar é fazer parte do jogo daqueles que sempre querem retirar a pessoa do cargo. Agora, o presidente Sarney tem total autonomia para decidir - disse Berzoini, afirmando que a licença de Sarney poderia "criar uma insegurança no comando do Senado", porque quem assumiria a Casa seria Perillo (GO).

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que só na volta do recesso haverá novas reuniões para tratar do assunto e que eles e o PSDB já decidiram o que fazer: novas representações no Conselho de Ética. Para ele, esta semana, o necessário é saber até onde vai a separação de Lula e do PT.

- O Lula, num primeiro momento, entregou ao PT a responsabilidade de manter Sarney, e agora o Mercadante devolveu a responsabilidade a Lula - disse Agripino.

Na mesma linha, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), é cético. Ele acredita que, apesar do desgaste de Sarney, a base conseguirá adiar as reuniões do Conselho de Ética. E confirmou que o PSDB transformará as denúncias do líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (AM), em representações junto ao Conselho de Ética.

- Lula fez discurso de solidariedade, e o PT faz discurso crítico - disse o tucano, cobrando uma definição.

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