Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O novo presidente da União Nacional dos Estudantes, Augusto Chagas, acha "legítimo" o governo federal patrocinar o "movimento estudantil" e não vê, portanto, fundamento nas críticas ao fato de a UNE receber milhares de reais dos cofres públicos para realizar o seu congresso nacional e muitos milhões para reconstruir sua sede.
É uma maneira de ver a vida. Bem como é uma opção da entidade apoiar o grupo político que bem entender. Se o "movimento estudantil" se sente representado, confortável, ou não, nessa posição, é uma questão a ser resolvida entre os estudantes, a direção da UNE e os saudosos do velho espírito combativo retratado no lema "a UNE somos nós, nossa força, nossa voz".
Há algum tempo, a voz passou a ter um dono só. E, por isso mesmo, o público - ou parte dele - tem todo o direito de reclamar o destino do dinheiro coletivo. Bem como não tem mais condições de vislumbrar a mais tênue diferença entre um político que recebe favores do Estado para integrar a maioria do governo no Congresso e uma entidade que se curva a qualquer descalabro em troca de dinheiro em espécie.
O novo presidente da UNE, um estudante profissional de 27 anos de idade, eleito por pouco mais de 2 mil estudantes em pleito indireto e há anos devidamente manipulado pelo aparelho do PC do B, acha que protestar contra a CPI da Petrobrás sob o gentil patrocínio do acionista majoritário da empresa é exercer o sagrado direito à liberdade de expressão.
"Não vejo problema no fato de a UNE ter opinião", diz, aproveitando o ensejo para se associar a quem lhe paga (com o dinheiro alheio) no repúdio aos reparos - gerais, não só da oposição como quer fazer crer em seu sofisma - à presença na presidência do Senado e conduta moral e legal do senador José Sarney.
"A mera saída de Sarney não resolve nada", afirma como quem adere à campanha "eu também me lixo para a opinião pública". Realmente, "a mera saída" não resolve e pode até mesmo servir como lenitivo para aplacar consciências.
Por isso mesmo, o que se defende não é a "mera saída" por conta das irregularidades gerais cometidas na Casa, mas o afastamento por causa das denúncias de malversação do poder político que pesam contra o senador e a escolha de um presidente que possa conduzir o Senado para fora do mar de lama.
Mas tal providência não mobiliza a UNE, assim como aos estudantes do Brasil não parece causar desconforto esse tipo de posição por parte de alguém que diz representá-los. Há duas possibilidades de explicação para a indiferença, uma ruim e outra péssima.
A ruim, a ausência de legitimidade real da entidade. A péssima, o desinteresse da estudantada em tratar as questões nacionais com mais seriedade que protestos carnavalescos movidos ao horroroso simbolismo da "pizza".
O novo presidente da UNE não estabelece relação de causa e efeito entre a dinheirama ganha do governo federal e o protesto contra a CPI da Petrobrás. "Não acreditamos que a CPI tenha o objetivo de apurar irregularidades."
Não seria, então, o caso de esperar o início dos trabalhos e, uma vez configurada como verdadeira essa desconfiança, protestar contra a falta de empenho na investigação?
Talvez o novo presidente da UNE não tenha se dado conta, mas defende a mesma posição da tropa de choque comandada por Renan Calheiros, certamente alvo de zombaria e indignação nas rodas de sua convivência social, política e familiar.
O novo presidente da UNE ficaria chocado se comparado ao suplente Wellington Salgado? Pois não deveria.
Ter opinião é uma coisa. Isso o novo presidente da UNE faz quando revela sua preferência pela candidatura da ministra Dilma Rousseff. Quanto a isso, é como ele diz, não há nenhum problema.
A história muda de figura quando essa opinião é vendida como mercadoria. Repetindo: ter opinião é uma coisa.
Vendê-la é outra bem diferente. Implica uma decisão consciente, no mínimo, de abrir mão da moral para criticar o fisiologismo reinante na casa do vizinho.
Isso vale para a UNE, mas vale também para sindicatos e entidades ditas representativas de movimentos sociais, cuja função não é atacar ou defender governos, mas lutar pelas demandas de seus representados e, quando acham que devem, se engajar nas melhores causas. Sem prejuízo da opinião, mas também sem benefícios financeiros.
Como dois e dois
Tão certo quanto o espetáculo à parte que o presidente do Conselho de Ética do Senado, o suplente Paulo Duque, continuará estrelando até ser derrubado do posto, é o arranca-rabo que se avizinha no comando da CPI da Petrobrás.
Entre o presidente, o suplente petista João Pedro, e o relator, o pemedebista Romero Jucá. Guardadas as proporções, reproduzirá o embate PT-PMDB no esquema de defesa do presidente da Casa, José Sarney.
É de se conferir se aí também o presidente Lula fará o mesmo tipo de arbitragem.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O novo presidente da União Nacional dos Estudantes, Augusto Chagas, acha "legítimo" o governo federal patrocinar o "movimento estudantil" e não vê, portanto, fundamento nas críticas ao fato de a UNE receber milhares de reais dos cofres públicos para realizar o seu congresso nacional e muitos milhões para reconstruir sua sede.
É uma maneira de ver a vida. Bem como é uma opção da entidade apoiar o grupo político que bem entender. Se o "movimento estudantil" se sente representado, confortável, ou não, nessa posição, é uma questão a ser resolvida entre os estudantes, a direção da UNE e os saudosos do velho espírito combativo retratado no lema "a UNE somos nós, nossa força, nossa voz".
Há algum tempo, a voz passou a ter um dono só. E, por isso mesmo, o público - ou parte dele - tem todo o direito de reclamar o destino do dinheiro coletivo. Bem como não tem mais condições de vislumbrar a mais tênue diferença entre um político que recebe favores do Estado para integrar a maioria do governo no Congresso e uma entidade que se curva a qualquer descalabro em troca de dinheiro em espécie.
O novo presidente da UNE, um estudante profissional de 27 anos de idade, eleito por pouco mais de 2 mil estudantes em pleito indireto e há anos devidamente manipulado pelo aparelho do PC do B, acha que protestar contra a CPI da Petrobrás sob o gentil patrocínio do acionista majoritário da empresa é exercer o sagrado direito à liberdade de expressão.
"Não vejo problema no fato de a UNE ter opinião", diz, aproveitando o ensejo para se associar a quem lhe paga (com o dinheiro alheio) no repúdio aos reparos - gerais, não só da oposição como quer fazer crer em seu sofisma - à presença na presidência do Senado e conduta moral e legal do senador José Sarney.
"A mera saída de Sarney não resolve nada", afirma como quem adere à campanha "eu também me lixo para a opinião pública". Realmente, "a mera saída" não resolve e pode até mesmo servir como lenitivo para aplacar consciências.
Por isso mesmo, o que se defende não é a "mera saída" por conta das irregularidades gerais cometidas na Casa, mas o afastamento por causa das denúncias de malversação do poder político que pesam contra o senador e a escolha de um presidente que possa conduzir o Senado para fora do mar de lama.
Mas tal providência não mobiliza a UNE, assim como aos estudantes do Brasil não parece causar desconforto esse tipo de posição por parte de alguém que diz representá-los. Há duas possibilidades de explicação para a indiferença, uma ruim e outra péssima.
A ruim, a ausência de legitimidade real da entidade. A péssima, o desinteresse da estudantada em tratar as questões nacionais com mais seriedade que protestos carnavalescos movidos ao horroroso simbolismo da "pizza".
O novo presidente da UNE não estabelece relação de causa e efeito entre a dinheirama ganha do governo federal e o protesto contra a CPI da Petrobrás. "Não acreditamos que a CPI tenha o objetivo de apurar irregularidades."
Não seria, então, o caso de esperar o início dos trabalhos e, uma vez configurada como verdadeira essa desconfiança, protestar contra a falta de empenho na investigação?
Talvez o novo presidente da UNE não tenha se dado conta, mas defende a mesma posição da tropa de choque comandada por Renan Calheiros, certamente alvo de zombaria e indignação nas rodas de sua convivência social, política e familiar.
O novo presidente da UNE ficaria chocado se comparado ao suplente Wellington Salgado? Pois não deveria.
Ter opinião é uma coisa. Isso o novo presidente da UNE faz quando revela sua preferência pela candidatura da ministra Dilma Rousseff. Quanto a isso, é como ele diz, não há nenhum problema.
A história muda de figura quando essa opinião é vendida como mercadoria. Repetindo: ter opinião é uma coisa.
Vendê-la é outra bem diferente. Implica uma decisão consciente, no mínimo, de abrir mão da moral para criticar o fisiologismo reinante na casa do vizinho.
Isso vale para a UNE, mas vale também para sindicatos e entidades ditas representativas de movimentos sociais, cuja função não é atacar ou defender governos, mas lutar pelas demandas de seus representados e, quando acham que devem, se engajar nas melhores causas. Sem prejuízo da opinião, mas também sem benefícios financeiros.
Como dois e dois
Tão certo quanto o espetáculo à parte que o presidente do Conselho de Ética do Senado, o suplente Paulo Duque, continuará estrelando até ser derrubado do posto, é o arranca-rabo que se avizinha no comando da CPI da Petrobrás.
Entre o presidente, o suplente petista João Pedro, e o relator, o pemedebista Romero Jucá. Guardadas as proporções, reproduzirá o embate PT-PMDB no esquema de defesa do presidente da Casa, José Sarney.
É de se conferir se aí também o presidente Lula fará o mesmo tipo de arbitragem.
Desde de a década de 1980, com raros intervalos, a UNE tem sido dominada pelo PC do B. A geração atual de dirigentes e figuras de destaque do partido foi formada nos embates pela hegemonia das entidades estudantis, na confecção de carteirinhas de estudante e na formulação de palavaras de ordem tão simplistas quanto distantes das demandas reais da juventude em geral e dos estudantes. O patrocínio da Petrobrás é só mais um passo descarado na direção do aparelhamento da entidade. Antes pelo PC do B, agora pelo governo. É a meta alcançada. A meta do financiamento ilimitado da formação de quadros, de reprodução dos métodos de política de aparelhemento. Uma espécie de "Malhação" para jovens atores que, no futuro, estarão habilitados a se eleger deputados usando o gás da jueventude e meia dúzia de palavras de ordens surradas. Galãs que vão comandar ministérios como comandavam a UNE e a UBES no passado recente. No lugar das carteirinahs de estudantes os cartões corporativos, os convênios com prefeituras. No lugar de salário pago pelo partido, cargos comissionados e DAS. O tenis e a camiseta aos poucos dão lugar ao terno bem cortado, mas as práticas são as mesmas do passado. Aos poucos deixam de ter a transformação política como objetivo de vida e passam a ter a política como modo de vida. E pelo modo de vida fazem qualquer coisa, dizem qualquer coisa e, principalmente, abandonam qualquer convicção mesnos pragmática.
ResponderExcluirAcho uma mesmice absurda os comentários da maior parte destes colunistas sobre política e economia. Parece que foram formados na base do senso comum e sempre utilizam a moral individualista para falar de assuntos coletivos. Dora Kramer tenta usar essa moral individualista para falar contra a UNE e contra o Governo (recebe recursos públicos e portanto tem opinião atrelada ao Governo, etc) utiliza para tanto os princípios ilusórios de democracia, como representatividade e liberdade de expressão. Vejo o problema de forma completamente diferente e não me parece que a opinião dela seja mais do que perfumaria.
ResponderExcluirComo pode alguém que escreve porque entende do assunto dizer que CPI resolve algo, ou que investiga algo, como pode ela não saber que CPI é instrumento político de oposição para contrabalancear o poder com o Governo. Sarney, sete anões Jarder, qualquer escândalo que foi criado pela imprensa não deu em nada, somente aumento de receita dos meios de comunicação que os exploram, porque para o povo, nada, e ela acha que defende a democracia? Tirar o Sarney não muda a estrutura da política nacional, que é corrompida pelos interesses privados, que é financiada pelas grandes empresas.
Ficar do lado do Lula ou da oposição está mais para Torcida Organizada de Futebol do que para analista político, este maniqueísmo é patético. Pior de tudo é que muitos baseiam suas opiniões em comentários superficiais desse tipo, porque lêem os jornais! O efeito de opiniões absurdas como essas é muito maior do que o fato da UNE estar atrelada ao Governo, ainda mais porque ela mesmo diz que os estudantes não se interessam pela política, mas quem um pouco se interessa lê jornal, infelizmente, lê Dora Kramer, entre outros!
resferferramentaria@uol.com.br