terça-feira, 21 de julho de 2009

UNE deixa educação de lado para defender governo

Soraya Aggege
DEU EM O GLOBO

Novo presidente, de 27 anos e no 3º curso incompleto, anuncia caravana política e diz ter orgulho de ser estudante profissional

SÃO PAULO. As críticas de que teria se tornado um movimento chapa-branca, pelos recursos que recebe do governo Lula, não intimidam a União Nacional dos Estudantes (UNE). Seu novo presidente, Augusto Chagas, de 27 anos, militante do PCdoB, disse ontem que a entidade fará este ano uma caravana nacional para debater as eleições de 2010, e deverá defender a pré-candidata do governo, a ministra Dilma Rousseff.

- Nós vamos emitir opinião para 2010, sim. Não vejo problemas no fato de a UNE ter opinião. Vamos comparar os oito anos dos governos Fernando Henrique e Lula em vários debates. A UNE sempre foi extremamente crítica ao governo FH, que foi ruim para o país. Mas não vê Lula da mesma forma - disse Augusto.

Sobre o silêncio diante das denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney, ele disse que a UNE acha os ataques da oposição equivocados:

- A mera saída do Sarney não resolve nada.

Quanto ao fato de a UNE receber verbas públicas para realizar seu 51º Congresso enquanto protesta contra a CPI da Petrobras, Augusto também não vê problemas:

- Não acreditamos que o objetivo da CPI seja apurar irregularidades. A CPI quer abrir flanco para a exploração do pré-sal por setores privados.

Para Augusto, a imprensa confunde o papel da UNE ao dizer que ela não deveria aceitar verbas públicas:

- Movimentos sociais não têm a função de fazer oposição a governos, mas sim para ir atrás de conquistas.

Augusto tem 27 anos e cursa o primeiro ano de Sistemas de Informação na Universidade de São Paulo (USP), depois de desistir de dois outros cursos universitários. Ele disse que mora num apartamento mantido pelo pai, especialista em computação, e passará a receber da UNE uma ajuda de custo para alimentação e transportes de R$1.500 mensais.

Antes, foi presidente duas vezes seguidas da União Estadual dos Estudantes (UEE), recebendo R$1.200 de ajuda de custo. Foram dois mandatos: 2005-2007 e 2007-2009.

"Não me sinto mal por não ter curso nem emprego"

Entre 2001 e 2006, estudou Ciência da Computação na Unesp (Universidade do Estado de São Paulo), em Rio Claro, que abandonou por causa de um problema familiar, e iniciou Direito, na FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), em São Paulo. Durante o estudo nas faculdades, fez parte de diretórios acadêmicos.

Augusto afirma que não se sente mal ao ouvir críticas de que seria um "estudante profissional", aos 27 anos:

- Ao contrário: eu sinto muito orgulho por ter aberto mão da minha trajetória profissional por um tempo. Quando encontro amigos que estudaram comigo e já se formaram eu me sinto bem, seguindo o meu próprio caminho. Não me sinto mal com as críticas de que não concluí um curso ou não tenho emprego. A UNE é o que é pela dedicação política de alguns estudantes. Pessoas passam, o movimento fica. No movimento estudantil, eu aprendi a importância das ideias coletivas.

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