quinta-feira, 2 de julho de 2009

Zelaya precisará fazer acordo com a oposição, diz especialista

De Nova York
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A volta de Manuel Zelaya a Honduras só será viável após um acordo político com a oposição, disse à Folha Kevin Casas-Zamora, ex-vice-presidente da Costa Rica e especialista em América Central do Instituto Brookings.

FOLHA - Diante do apoio internacional, Zelaya tem condições de voltar a Honduras?

KEVIN CASAS-ZAMORA - Todo mundo concorda que ele deve voltar ao poder, mas o problema é que o retorno de Zelaya não resolve nada. A menos que haja algum tipo de diálogo político entre ele e seus oponentes, nada mudará. Estamos falando de um cidadão com antagonistas em todas as instituições e setores políticos do país. Sem um acordo, ele não terá como governar. A questão final é como fazer de Honduras um país governável.

FOLHA - O que deve ocorrer agora?

CASAS-ZAMORA - Em algum momento, as autoridades hondurenhas vão desistir. Temos ouvido rumores de pessoas no Congresso de Honduras de que eles estão considerando a hipótese de negociar um acordo político com Zelaya. Ele poderia voltar ao poder, terminar seu mandato e abrir mão de qualquer projeto de reeleição, o que já deixou claro nas declarações feitas na ONU. Honduras é um país muito pequeno, muito pobre e muito vulnerável para enfrentar a pressão internacional.

FOLHA - O que explica essa unanimidade dos países contra o golpe?

CASAS-ZAMORA - Não tivemos golpes por um bom tempo na América Latina, e ninguém quer abrir um precedente. A América Latina se posicionou de maneira muito forte, em seguida vieram os EUA, a União Europeia e a ONU. Houve um efeito bola de neve, o que é surpreendente para um país tão pequeno.

FOLHA - Como avalia o fato de EUA e Venezuela estarem agora do mesmo lado?

CASAS-ZAMORA - É uma situação peculiar, mas representa uma oportunidade muito boa para a imagem dos EUA na região. Eles têm a chance de mostrar que apoiam inequivocamente a democracia, mesmo que não gostem do presidente deposto. Com isso, eles tiram a arma de Chávez, a retórica. Parte da atitude americana é uma forma de prevenção contra o possível êxito político que Chávez poderia tirar da situação. Zelaya voltará ao poder agora ou mais tarde, mas não será uma vitória de Chávez ou dos EUA.

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