sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Candidatura de Dilma vai dar muito mais trabalho a Lula

Jarbas de Holanda
Jornalista


A popularidade do presidente mantém-se elevada e a economia, que vai saindo bem da crise, deverá – segundo previsões até de analistas ligados a oposição – crescer razoavelmente ao longo de 2010 (com a transferência para o próximo governo de possíveis descontrole fiscal e inflacionário, gerados ou agravados pela escalada dos gastos de custeio e pela exacerbação do assistencialismo). Mas o projeto de continuidade do lulismo no comando do Executivo federal, através da eleição de Dilma Rousseff, sofreu neste mês abalos significativos. Que abriram espaço para questionamento, na base governista do Congresso, sobre a competitividade dela e reduziram ou zeraram as expectativas, antes dominantes, do favoritismo de sua candidatura.

Tais abalos resultaram de uma soma de fatos negativos: a desastrada polêmica com a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira; o desgaste do presidente e dela também com a sustentação do aliado Sarney à frente do Senado; o estacionamento em 16% do índice de intenção de votos na candidata, na pesquisa do Datafolha; e, principalmente, a quebra da perspectiva de um pleito presidencial polarizado (plebiscitário) em torno do lulismo, restrito praticamente a uma contraposição entre Dilma e o candidato dos tucanos (José Serra ou Aécio Neves), quebra que decorreu da emergência da candidatura de Marina Silva e da reafirmação por Ciro Gomes do propósito de também disputar a presidência. Marina, sobretudo em face do desgaste das lideranças do PT poderá absorver boa parcela dos votos do partido nos grandes centros urbanos, além de atrair grande parte dos formadores de opinião e do voto de protesto (que, assim, faria um deslocamento, positivo, da retórica ultra-esquerdista de Heloísa Helena). Por seu turno, a candidatura de Ciro, centrada no Nordeste, diminuiria a vantagem eleitoral nessa região (e no Norte) com que o lulismo conta para compensar derrota provável no Sudeste e no Sul. A onda política negativa para o Palácio do Planalto e sua candidata incluiu mais um episódio: a entrevista à Veja desta semana do diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, com o título da previsão que ele faz sobre a disputa presidencial: “Lula não fará seu sucessor”.

Essa onda de agosto poderá dissipar-se nos próximos meses com o esgotamento do impacto da crise do Senado; com a sequência dos indicadores positivos da economia (bom controle inflacionário, juros baixos, aumento do nível de emprego, extensão do crédito bancário para as classes C e D, entre outros); e com os efeitos destes, bem como da expansão dos programas assistencialistas na persistência da alta popularidade de Lula e da avaliação favorável do governo. Mas os referidos abalos criaram obstáculos concretos e potenciais ao projeto sucessório do Planalto, que o tornaram bem mais complicado e de resultado bastante incerto. Entre os obstáculos destacam-se a mudança do cenário de polarização para o de um confronto entre três ou quatro candidatos expressivos; a conseqüente configuração da possibilidade de vitória oposicionista (traduzida na retomada de empenho por José Serra para sua indicação pelo PSDB); e com isso, e com uma concorrente como Marina Silva, incerteza maior quanto ao grau de transferência da popularidade do presidente para sua candidata, em especial no Centro-Sul do país.

Para enfrentar tais obstáculos, Lula apressa o passo para fechar o quanto antes o apoio formal do PMDB a Dilma (o que a oposição facilitou com a postura radical, de indiscutível conteúdo ético, adotada na crise do Senado). E reforça o enquadramento do PT para que subordine os diretórios regionais a composições definidas em função da campanha presidencial. Apostando que, com o bom comportamento da economia e dos programas do governo como o PAC, o habitacional (Minha Casa, Minha Vida) e o início da exploração do pré-sal, somados aos dividendos das ações assistencialistas (do Bolsa Família até a elevação do ganho real também das aposentadorias além de um salário-mínimo) e ao generoso tempo de propaganda eleitoral “gratuita” que terá a partir do apoio do PMDB, que com tudo isso – e o que mais for necessário e possível ousar – ele logrará garantir uma vitória de Dilma Rousseff

Palocci como Plano B do Planalto em SP

De um lado, a retomada do projeto presidencial de Ciro Gomes, ou como cobrança ao presidente Lula de um preço político bem maior para a troca de tal projeto pelo cumprimento da tarefa de disputar o governo paulista, ou como passo efetivo mesmo para a rejeição da troca. De outro lado, a perspectiva de absolvição do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci – esta semana, pelo STF – do processo de envolvimento na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, isso de par com manifestações atribuídas a ele da disposição pessoal de concorrer ao cargo de governador. A combinação dessas duas variáveis e de uma terceira – a resistência do grupo de Marta Suplicy ao apoio do PT a Ciro – persistente, embora ainda dobrável por Lula – poderá fazer de Palocci o candidato dos petistas, em aliança com parte das legendas da base governista federal. A expectativa dos que defendem a candidatura do ex-ministro é que ela reduziria ou reverteria a fragilidade atual do PT de São Paulo em face do amplo relacionamento dele com expressivos segmentos do empresariado e da simpatia de boas parcelas das camadas médias por sua imagem pragmática de bom administrador. O que dificilmente compensaria o desgaste dos petistas nos grandes centros urbanos do estado, mas propiciaria a Dilma Rousseff dispor em São Paulo de um palanque com alguma competitividade para a disputa da presidência da República.

Um comentário:

  1. Se o presidente Lula desse ouvido para a razão igual ao que ele dá sua vaidade estaria fomentando a candidatura do Ciro a presidência. Neste cenário, correto, que você descreve, somente Ciro com seu conhecimento e fala dura será capaz de desbancar o Serra em um eventual segundo turno. O Serra e a grande imprensa aqui do sudeste sabem disso.O presidente Lula não enxerga porque está cego pela vaidade.
    Apostar no PMDB é o mesmo que apostar que o camaleão não vai mudar de cor. Vamos esperar julho de 2010 para vermos pra onde vão os preciosos minutos de TV deste “partido” .

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