terça-feira, 18 de agosto de 2009

Candidatura Dilma enfrenta quinzena de dificuldades

De Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O depoimento de hoje da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, marca uma quinzena de sucessivos problemas na candidatura a presidente da chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Além da acusação de que Dilma teria, em uma reunião secreta com Lina, pedido para que o processo fiscal contra Fernando Sarney fosse acelerado - um recado entendido por Lina como encerrado - o PT e Dilma viram frustrados o intuito de convencer o PSB a retirar a candidatura de Ciro Gomes à Presidência, sepultando, por enquanto, os planos de Lula de fazer uma eleição plebiscitária em 2010.

"São tempos difíceis, que vão se aprofundar cada vez mais até a disputa eleitoral do ano que vem", confirmou um petista com bom trânsito no partido e no governo. Para ele, as dificuldades podem ter chegado ao seu ápice nestas duas últimas semanas, mas elas não começaram agora. O primeiro baque foi a descoberta de que a ministra tinha um câncer linfático, o que a obrigou a diminuir o ritmo de trabalho no governo e os eventos políticos. "Quando foi escolhida candidata, Dilma, por não ter tradição política, foi aconselhada a aproximar-se mais dos movimentos sociais e dos partidos políticos, em atividades a serem realizadas normalmente nos fins de semana. Teve de dar uma parada nessa programação por conta do tratamento."

Alguns auxiliares do governo atribuem a isso uma das razões para que a ministra parasse de crescer nas pesquisas de opinião - o último levantamento do Datafolha mostrou Dilma com 16% das intenções de voto, 21 pontos percentuais atrás do tucano José Serra. Depois da doença, o governo passou a se enroscar com a crise do Senado e a cobrança de apoio explícito feito pelo PMDB e pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). "A pauta era importante para a oposição, não para nós, mas fomos enredados nesse tema e não conseguimos sair", disse a fonte petista. A própria Dilma também teve de sair em defesa de Sarney.

Seria natural, na visão desse militante partidário, a defesa de Lula a Sarney, alguém que lhe foi fiel no momento mais crítico do governo - o escândalo do mensalão. "Mas o PMDB aproveitou para nos colocar um torniquete. Ou nós apoiamos o partido ou eles não apoiam com tanto gosto a candidatura Dilma", disse. Surge então Lina Vieira, envolvendo diretamente o governo na crise do Senado.

Na visão de um integrante do diretório nacional, Dilma errou na resposta ao negar veementemente o encontro com a ex-secretária. "Ela podia ter dito que algumas vezes se encontrou com Lina, como disse depois. A melhor defesa seria frisar que não pediu para que as investigações fossem encerradas. Se quisesse dizer isso, diria de forma clara", sugeriu o petista. Para ele, com a pressão da oposição e a insistência de Lina em manter a versão inicial, a cada dia o governo se vê obrigado a desmentir o encontro, numa inversão do ônus da prova. "Guerra política gera isso, nós todos sabemos. Podiam ter facilitado as coisas."

Um assessor governista vê alarmismo nas palavras do petista e discorda delas, reafirmando o pacote da campanha da candidata governista. Diz que, mesmo se todos esses fatos não tivessem vindo à tona, Dilma seria atacada pela oposição por ser a candidata do governo: "Ela tem o que mostrar. Ela está concluindo o marco regulatório do pré-sal, um legado para este país. Vai depois se debruçar sobre o trem de alta velocidade. O PAC está andando, o Bolsa Família é elogiado até pela oposição. Isso é desespero do outro lado, vindo de uma oposição que não tem projeto." (PTL)

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