quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ex-secretária confirma reunião e aceita acareação com Dilma

Leila Suwwan, Bernardo Mello Franco e Gerson Camarotti
Brasília
DEU EM O GLOBO

Ministra evita solenidades públicas e não comenta depoimento de Lina
A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira reafirmou, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, ter recebido da ministra Dilma Rousseff pedido para agilizar a investigação do Fisco sobre empresas de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

“Entendi como ingerência desnecessária e descabida”, disse Lina.

A ex-secretária repetiu a versão de que o pedido teria sido feito por Dilma num encontro no fim de 2008 — a oposicionistas, teria dito que foi em 19 de dezembro.

A oposição quer uma acareação entre Lina e Dilma, e a ex-secretária disse que aceita. Lina não apresentou provas de que o encontro teria ocorrido e alfinetou o presidente Lula: “Não preciso de agenda para dizer a verdade.” A ministra, que nega o pedido e o encontro, evitou aparições públicas — embora o Ministério das Cidades tenha informado que ela inaugurara obras do PAC com Lula no Rio.

Na CPI da Petrobras, os governistas rejeitaram 68 requerimentos para convocar autoridades — inclusive Lina Vieira.

‘Certamente no Planalto deve ter a filmagem, eu entrando no quarto andar e entrando na sala.
Eu não sou fantasma, está registrado’ Lina Vieira, ex-secretária da Receita

"Não sou fantasma, deve ter registro"

Ex-secretária da Receita depõe, reafirma encontro com Dilma e aceita acareação

A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira reafirmou ontem, em depoimento na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que se encontrou com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no fim de 2008 e classificou de “ingerência desnecessária e descabida” o suposto pedido dela para acelerar a investigação do Fisco sobre empresas da família Sarney. Ao fim do depoimento de quatro horas, a oposição voltou a defender acareação entre Dilma e Lina. A exsecretária disse que aceita.

Lina não mostrou provas de que o encontro com Dilma ocorreu, e declarou que não precisava de registro em agenda para dizer a verdade.

Reservadamente, teria dito a parlamentares tucanos que o encontro foi em 19 de dezembro.

— Entendi como ingerência desnecessária e descabida — disse Lina, perguntada sobre a legitimidade da suposta intervenção de Dilma.

— Nunca dei retorno, mas nunca fui cobrada.

O pedido é incabível porque a Receita trabalha com a impessoalidade. Ela não pediu para aprofundar, não pediu para mais ou para menos. Não perguntei o objetivo do pedido nem o que ela entendia por “agilizar” — explicou Lina, que disse só ter compreendido a motivação do pedido posteriormente, no contexto da eleição de Sarney para a presidência do Senado.

De terninho vermelho e cabelos escovados, Lina demonstrou cautela. De início, não atribuiu à ministra Dilma conduta irregular: — A ministra pediu para agilizar a fiscalização, interpretei que era para encerrar, resolver pendências, terminar a investigação.

Não senti qualquer pressão.

“Não preciso de agenda para dizer a verdade”

Com isso, o líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR) tentou dar o caso por encerrado.

Foi então que a também líder do governo, senadora Ideli Salvatti (PT-SP), insistiu no tema.

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), tentou interromper, justificando que o caso estava esclarecido, mas a petista cobrou: — Ou a senhora mentiu para a “Folha de S.Paulo” ou mentiu aqui — provocou Ideli.

— Não mudei minha versão, o que falei para a “Folha” falei aqui — disse Lina, que, então, endureceu o tom e passou a tratar o pedido de Dilma como “ingerência descabida”.

Lina disse que o encontro, reservado, não foi registrado nas agendas públicas.

Indiretamente, rebateu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a desafiou a mostrar sua agenda.

— Estou com minha palavra, e temos a palavra da ministra. Não estou aqui para dizer mentira.

Não preciso de agenda para dizer a verdade. — E completou: — Certamente no Planalto deve ter a filmagem, eu entrando no quarto andar e entrando na sala. Não sou fantasma, está registrado.

A falta de detalhes — como a data do encontro ou o nome do motorista que a levou ao Planalto — esfriou as expectativas sobre o depoimento.

Mas Lina indicou testemunhas que podem corroborar sua versão. Iraneth Weiler, sua chefe de gabinete, já confirmou que Erenice Guerra, secretária-executiva da Casa Civil, foi à Receita para marcar o encontro com Dilma. Erenice, porém, nega.

Lina disse que, após o encontro, solicitou informações à Receita. Um relatório informou que o processo era sobre um conjunto de empresas e que não havia providência a ser tomada. Segundo Lina, o Judiciário determinou que se agilizasse a operação, e foram postos mais auditores no caso.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) tentou apontar contradições ao perguntar quantas vezes Lina esteve com Dilma. Lina se recordou de três reuniões de trabalho, além do encontro reservado. O petista listou seis eventos no qual as duas estiveram juntas. E atacou: — Ou a senhora prevaricou ou está mentindo — disse Mercadante, alegando que, se Dilma fez algo irregular, caberia a Lina denunciar.

— Não tomei providências.

Não é porque não tinha irregularidade.

É porque não tinha necessidade — rebateu Lina.

Ao final, Lina desabafou: — Quiseram confundir minhas palavras. Não mudo a verdade no grito. A mentira não faz parte da minha biografia.

Os governistas deixaram claro que vão impedir constrangimento para Dilma, evitando sua convocação. A oposição considerou o depoimento consistente e insistirá na acareação.

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